Franz Kafka (1883 – 1924) é um escritor que sempre será considerado estranho, tudo porque ele escreveu um livro em que o personagem principal acorda em seu quarto e percebe que se transformou num inseto nojento. Além disso, por outros motivos que o leitor conhece ao ler as outras obas deles, Franz Kafka consegue fazer de sua linguagem simples, algo muito singular, por trazer a realidade de uma forma tão forte que, ao misturar alguns ingredientes do surrealismo, do que é mágico e impossível, constrói uma obra original, única e existencialista.
Ao ler os contos de Franz Kafka, mesmo sabendo de suas principais característica, ainda consegui me surpreender. Acredito que isso ocorre pois estamos falando de um escritor já considerado clássico, e ter esse adjetivo, o transforma num imortal de nossa literatura. Sempre será o momento certo para ler Franz Kafka!
O veredicto
O primeiro conto que li chama-se “O Veredicto“. Ingenuamente achei que iria conhecer um conto leve, por conta do começo que me fez lembrar a literatura clássica com príncipes e princesas, mas foi um engano meu… George, o personagem principal, tem a sua vida mudada de uma forma muito brusca por decidir aconselhar-se com o pai sobre o seu casamento e a amizade com um amigo distante. O pai, que representa um acusador, que julga e pune, decide o caminho do filho de uma forma muito trágica. É um conto que deixa o leitor sem fôlego… Na história, a “princesa” chama-se Frieda Brandenfield, uma homenagem de Franz Kafka à sua amada da época, Felice Bauer.
Na colônia penal
O segundo conto me fez lembrar Stephen King, pois contém muita crueldade e uma narrativa detalhada sobre processos de tortura. O nome do conto é “Na colônia penal“, que contém personagens sem nome (uma característica presente também em outros contos do autor) e ingredientes macabros e perturbadores. Na história, pessoas são condenadas à morte por motivos bobos, que mostra mais uma vez que Kafka, formado em Direito, gostava de discutir sobre justiça, condenação, acusação, sentenças, etc.
Primeira Dor e Um artista da fome
Primeira Dor é o nome do terceiro conto que li. Não contém o tema da justiça, mas discute sobre a posição do artista na sociedade, como uma pessoal comum, mas também como alguém que perde os limites da realidade. Nosso personagem, de novo sem nome, é um trapezista que decide não descer mais do trapézio e a partir de sua decisão, que a princípio é até engraçadinha, traz reflexões importantes sobre a arte e sobre o público que a consome. Muitas perguntas explodem na cabeça do leitor a medida que o conto, maravilhoso, avança. A mesma reflexão acontece no conto “Um artista da fome” que literalmente traz um artista que decide fazer um jejum de 40 dias e fica num espaço para as pessoas o verem, como se fosse um animal numa jaula. A diferença principal desses dois contos é o final, que traz reflexões opostas sobre o artista e o seu público.
Josefine, a cantora
Para finalizar a minha leitura de contos de Franz Kafka, eu li “Uma pequena mulher” e depois “Josefine, a cantora ou O povo dos ratos”, este último não me agradou muito, pois senti falta de algum elemento surpresa. A partir de um narrador que acompanha a trajetória de Josefine, uma cantora diferente, mas muito querida, o conto traz detalhes da rotina da artista e tenta desvendar os mistérios que fazem as pessoas amá-la. Atente-se para o título para compreender sobre a esquisitice do conto.
Uma pequena mulher
Agora em “Uma pequena mulher” eu acabei descobrindo um Kafka que eu ainda não conhecia. Isso me deixou um pouco insegura no começo, pois o autor é marcado por dramas e tragédias existenciais. Porém, neste conto, eu vi um certo tipo de humor, difícil de ser caracterizado, mas que faz o leito reconhecer um contador de histórias sério, que não ri, mas que provoca um pequeno sorriso, pelo canto dos lábios no leitor.
Meu próximo passo será reler “A Metamorfose” e “Carta ao pai”, finalizando assim todas as obras presentes no livro da L&PM Editores.