Quem escreveu o livro “Eu dormi com Joey Ramone” não só dormiu com Joey, mas com a sua mãe também. Trata-se de Mickey Leigh, irmão de Jeffry Ross Hyman, para os menos íntimos: Joey Ramone.
Qual é a primeira coisa que passa por sua mente ao ler na capa de um livro: eu dormi com Joey Ramone? Na minha, como creio que na maioria das pessoas, me veio a imagem da “groupie”. Aquela garota “Maria palheta”, “Maria Pedestal”, “Maria baqueta”, que circula nas principais histórias sexuais envolvendo lendas do rock and roll. Que já namorou ou esteve por uma noite com o Eric Clapton, mas logo partiu atrás do Gene Simmons (aliás um especialista no assunto), enfim, pensei ser uma dessas se aproveitando de histórias vividas com o “líder” da lendária banda de punk rock norte-americano Ramones para faturar com um livro. Mas não. Quem escreveu o livro não só dormiu com Joey, mas com a sua mãe também. Trata-se de Mickey Leigh, irmão de Jeffry Ross Hyman, para os menos íntimos: Joey Ramone.
Nascido em 1951, em Manhattan, Jeff (como é chamado por seu irmão durante toda a narrativa), enfrenta logo no nascimento uma cirurgia complicada para remoção do que seria um feto mal formado que permanecia preso a sua coluna após o parto. Problema que seria apenas o primeiro, entre muitos que o acompanharam até o fim de sua vida em Abril de 2001. Por sinal, quem o vê com seus quase dois metros de altura, todo esquisito por trás do microfone nas apresentações com os Ramones, no mínimo desconfia que “normal” ele não deveria ser. Joey sofreu, mais do que todos ao seu redor com um “Transtorno Obsessivo Compulsivo” que o atrapalhava em quase tudo o que fizesse em sua vida. Coisas simples como lavar as mãos se tornavam uma sequência sem fim de repetições. Descer uma escada sem ter que voltar pois tocou determinado local e não outro. Isso quando não se tratava das gravações de seus vocais, os quais não conseguia dar por satisfeito nunca. Em sua mente sempre faltava algo que ele deveria ter feito.
Da infância aos primeiros passos na música
Em “Eu Dormi com Joey Ramone: memórias de uma família punk rock” lançado em 2013 aqui no Brasil pela editora Dublinense, Mickey narra desde a infância em que de fato dividiram o mesmo quarto na casa de seus pais, até os primeiros passos de Jeff como músico. No princípio como baterista e posteriormente como vocalista, função a qual foi fundamental para que Jeff desenvolvesse uma personalidade mais firme em sua adolescência, diferente de quando era menor. Mas ainda assim era o irmão mais velho que exibia uma fragilidade que lhe deixava incapacitado, por exemplo, de defender o irmão em situações de apuro. Foi atrás do microfone que Jeff Hyman se tornou Joey Ramone, vocalista da principal e mais influente banda de punk rock de todos os tempos.
O foco do livro é centrado em Joey, mas é também biográfico no que se diz respeito ao próprio Mickey. Seus caminhos, não apenas por serem irmãos se entrelaçam. Mickey trabalha como “roadie” dos Ramones (responsável por auxiliar a banda no palco, antes, durante e depois das apresentações). Inclusive participa em composições e gravações da banda, o que acaba por desencadear nos principais problemas a afetar o relacionamento dos irmãos. Passam a brigar frequentemente por direitos autorais das colaborações de Mickey nos Ramones, uma novela que perdurou entre altos e baixos até os últimos meses de vida de Joey.
Um ponto de vista familiar
É um livro muito interessante por trazer um ponto de vista familiar e ao mesmo tempo profissional do que era conviver com um Ramone. Após ler algumas obras sobre a banda, posso dizer que não deveria ser nada fácil andar muito perto daqueles caras. Os Ramones mais do que uma banda, foi um catado de seres absolutamente diferentes que se completavam mas não se “bicavam”. Johnny (o guitarrista) era um republicano com regras militares que aplicava sem pudor aos demais membros da banda. Dee Dee (baixista) era um ótimo compositor, médio como instrumentista e de péssimo comportamento. Joey com seus “tocs”, piorou quando teve o amor de sua vida “roubado” por Johnny. Ou seja; ser irmão já nem sempre é fácil, ser irmão de um Ramone era mil vezes mais complicado. Toda dificuldade de relacionamento só foi colocada de lado nas diversas vezes em que Joey passa por problemas de saúde, e só é sanada quase que por completo, próximo da partida de Joey, episódio por sinal muito emocionante que fecha muito bem o livro. Aos fãs curiosos dos Ramones, recomendo. Pra quem pouco conhece, ou quer começar a conhecer, recomendo “HEY HO LET’S GO! A História dos Ramones (Everett True)”, que já resenhei para este blog. Acho que para um primeiro contato, as intermináveis brigas entre irmãos se tornariam cansativas demais, mas para os fãs mais calejados, é uma ótima pedida.
Respostas de 2
Bem legal, cara! Não sou fã incondicional dos Ramones, mas admiro a trajetória da banda e dos componentes, assim como os admiro por terem dado o ponta pé inicial, sem saber, para o surgimento da mais importante ideologia urbana do fim do Séc. XX.
Obrigado Alexandre. Pois é, o Ramones é uma banda curiosa. Deu origem ao punk rock (embora haja muito debate com relação ao surgimento na cena da Inglaterra), fez uma carreira com uma discografia considerável, mas não emplacou nos Estados Unidos. Na América do sul e na Espanha são tratados como deuses, nos Estados Unidos sempre foram desprezados e jamais emplacaram nenhum hit nas paradas de sucesso, o que em um determinado momento frustrou a banda e eles chutaram o balde no capricho, rs.