Meu livro violeta (Ian McEwan): dissimulações de artistas egocêntricos

Em “Meu livro violeta”, lançamento da Companhia das Letras, McEwan, há dois textos do autor: uma novela e uma ópera!

“O amor me transformou num especialista em fraude, consultor sênior em trapaças.” (p. 109)

Ian McEwan está na minha lista de escritores que não decepcionam! Com mais de vinte livros publicados, o autor britânico possui uma habilidade incrível para prender o leitor com histórias que ao mesmo tempo podem ser profundas, bizarras e banais. Em “Meu livro violeta”, lançamento da Companhia das Letras, McEwan, há dois textos do autor. O primeiro, uma novela homônima, aborda um tema muito discutido no meio literário: a originalidade do autor, a sua integridade e, principalmente, a sua honestidade. No segundo texto, uma ópera escrita para o compositor Michael Berkeley, vamos conhecer uma história de amor, traição e ego.

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No primeiro conto, Parker Sparrow, o narrador-personagem, avisa o leitor que irá contar como atingiu sua fama de escritor e, sendo objetivo, também avisa que não usou as melhores maneiras para alcançar o seu desejo. Assim, ele informa que precisará contar sobre a sua vida de 40 anos atrás e, então, vamos conhecer a história dele e também de seu amigo Jocelyn Tarbet. Os dois jovens que queriam ser escritores e publicaram alguns contos em revistas e jornais da época, mas sem muito sucesso.

McEwan nos leva para uma história totalmente sem escrúpulos e impossível de não ser admirada em cada página por conta de sua linguagem tão elegante. E mesmo com várias dicas sobre o que o narrador quer revelar, a história surpreende por sua narrativa  confessional, como se o personagem quisesse algum tipo de redenção, ao mesmo tempo que brinca com a sua própria dose de psicopatia, talento e dissimulação.

Interessante que no segundo texto, a ópera chamada “Por você”, também vamos ter um personagem egocêntrico e despreocupado em exercer a empatia. Porém, ao invés de um escritor, temos um músico. E, como é natural aos textos teatrais, não há presença de um narrador, apenas diálogos que nos permitem conhecer as personagens da história. Além do músico, temos o seu assistente, a sua esposa, a emprega, um médico e uma musicista que compõem o elenco dessa história que surpreende pela facilidade como o autor distribui o foco de suas histórias. De repente, o inusitado acontece. De repente, McEwan está lhe surpreendendo mais uma vez. É incansável e glorioso!

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Escute o próprio autor lendo a novela “Meu livro violeta” aqui.

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