Virginia Woolf dispensa apresentações. Provavelmente, já possa ser considerada uma autora clássica, de leitura obrigatória. Mas para aqueles que ainda precisam de um pequeno incentivo, aqui vão algumas razões para ler Virginia Woolf:
1. As duas épocas
Virginia Woolf viveu no entrecruzamento de duas épocas. Nasceu no período de reinado da Rainha Vitória, sendo a terceira filha de um casal bem estabelecido na sociedade intelectual londrina e, porque não dizer, inglesa. Teve uma educação domiciliar, diferentemente de seus irmãos que puderam frequentar a famosa, renomada e tradicional Universidade de Cambridge.
O acesso limitado à uma educação universitária rendeu-lhe excelentes reflexões sobre a desigualdade da formação de homens e mulheres, que podem ser encontradas em Um teto todo seu (1929) e Três guinéus (1938), dois de seus ensaios mais respeitados, que, inclusive, antecipam os debates feministas da década de 1960.
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2. A sua própria editora
Se isto ainda não é razão suficiente para pegar uma obra de Woolf e devorá-la de um fôlego só, vale lembrar que, além de escritora, ela fundou, com seu marido, Leonard Woolf, uma editora nas proximidades do Rio Tâmisa, no distrito de Richmond.
Com a Hogarth Press, Woolf publicou suas obras que, à época, receberam capas produzidas por sua irmã, Vanessa Bell, uma das expoentes da arte modernista britânica. Mas não só de livros próprios era composto o catálogo da editora. Os Woofs publicaram, ainda, outros escritores modernistas e capítulos de livros por ela traduzidos ou que auxiliou a traduzir, o que fez de Dostoiévski e seus Demônios conhecidos do público londrino.
3. O grupo de Bloomsbury
Se você ainda não está morrendo de admiração por essa mulher, que foi educada em casa pelos pais e algumas tutoras para se tornar não só uma das principais e mais importantes escritoras de língua inglesa do início do século XX, mas editora e tradutora, tenho mais um motivo para oferecer.
Assim como Vanessa Bell, Woolf e seu marido foram considerados integrantes do Grupo de Bloomsbury, que contava com artistas modernistas e críticos, como Roger Fry, Clive Bell e Duncan Grant, questionadores da arte feita nos moldes vitorianos, e responsáveis pela divulgação de artistas modernistas franceses na Primeira Exibição Pós-Impressionista de Londres.
Esses personagens, preocupados com a forma em que a arte era produzida, foram importantes no desenvolvimento da escrita de Woolf. Quarto de Jacob, de 1922, por exemplo, marcou a primeira tentativa da escritora de produzir uma literatura modernista, na qual a forma era essencial para desvelar as ideias que procurava expor. O esforço de criar um meio para a expressão literária lhe rendeu uma obra que, por meio de palavras, conseguiu expressar o ausente.
Mas talvez tenha sido com Ao Farol de 1927 que Woolf tenha conseguido compor, com maestria, uma peça literária que possui os traços de pintores modernistas. Não é por acaso que uma de suas principais personagens seja Lily Briscoe, uma pintora em busca do traço perfeito.
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4. Londres: a cidade e o tempo
Woolf era uma apaixonada por Londres! E, se você gosta ou se interessa por essa cidade, não pode deixar de ler Virginia Woolf e experimentar como ela a retratou. Em suas obras, a cidade fervilha de acontecimentos e é palco propício para o encontro de pessoas que caminham em solidão e desejam o engajamento e a intimidade com outras, ainda que nem sempre consigam.
Londres é a cidade que abriga o British Museum, onde Woolf faz suas pesquisas sobre o lugar das mulheres na ficção. É no Regent Park que Septimio Warren Smith senta-se com sua esposa Lucrezia, ou, ainda, é pela Bond Street que Mrs. Dalloway caminha para comprar as flores que enfeitariam sua festa. Em Londres, o Big Ben marca a passagem do tempo em um dia na vida de residentes e visitantes da cidade, que procuram reconstruir a cidade e a si próprios, após a devastação deixada por uma Guerra Mundial.
5. Sua versatilidade
– E, finalmente, foi Virginia Woolf quem conseguiu a proeza de criar uma obra formidável que homenageia uma grande poetisa do século XIX. Escrito sob a perspectiva do cachorro de estimação, Flush (1933), o livro narra o odisseia do cockier spaniel desde seus ascendentes e primeiros anos de vida no interior da Inglaterra, até se tornar companheiro de Elizabeth Barret Browning.
A escrita biográfica havia marcado grande parte da produção dos intelectuais vitorianos, que procuravam exaltar homens memoráveis por meio do retrato de suas vidas. Leslie Stephen, pai de Woolf, havia sido o responsável pela organização e escrita de 26 volumes do Dicionário de Biografia Nacional, o que demostra a familiaridade da autora com este gênero de escrita.
Entretanto, com Flush, Virginia renovou a escrita biográfica ao ousar entrelaçar a vida de uma mulher com a de seu cachorro, ou ao narrar a vida de uma mulher pelo olhar, sensações e impressões que dela teve seu amado Flush. No final, Woolf produziu uma obra delicada, divertida e erudita que vale a pena ser conhecida, resenhada e aplaudida.
Por fim, eu teria ainda uma infinidade de razões para ler Virginia Woolf e indicar essa mulher extraordinária, que é uma das minha escritoras favoritas e parece ser fonte inesgotável de discussões, debates, aprendizados e deslumbramentos. Mas dado o avançar da hora e da limitação do meu vocabulário, vou ficando por aqui, esperando que tenha conquistado ao menos uma boa alma para a leitura de Virginia Woolf.
Uma resposta
… e encantadora, algo que não lhe envaidece, ao menos, não mais do que expande sua magia.
O leitor, permanece “demasiado ocupado”, porém, cada vez mais contemplado. O convite à celebração da escrita de Virgínia Woolf borrifado por seu intenso traço, tece um ponto, aperta um laço, aquece a tez que se depara ao contato com o retrato.
Parabéns!