O que é Quinhentismo? O olhar e as ambições do colonizador

Quinhentismo? Socorro, que palavra é essa? Para quem está estudando escolas literárias para alguma prova na escola ou para os vestibulares da vida, esse talvez seja um conceito ainda estranho ou mais “chatinho”.

O Quinhentismo nem sempre recebe a devida atenção nas aulas de Português e, ao longo do tempo, ganhou menos destaque que outros movimentos literários, como o Romantismo, o Modernismo etc. Neste post, vou buscar elencar as principais características desse conceito para que você possa aprender mais sobre a nossa literatura e a nossa história, ok?

O que é, afinal, o Quinhentismo?

Denomina-se Quinhentismo todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil Colônia entre 1500 e 1600, ou seja, século XVI, período em que Portugal estabelece a sua dominação e cultura no nosso território.

É importante lembrar que não se trata de uma literatura feita genuinamente por brasileiros. Ainda que tenham sido feitas no Brasil e sobre o Brasil, as obras do período revelam o olhar e as ambições do colonizador português – europeu, branco, católico, interessado em desbravar as novas terras e descobrir riquezas.

Contexto histórico

Nenhuma corrente artística está desconectada do contexto histórico do período. Por isso é tão importante estudar História! Deixo, aqui, alguns acontecimentos que irão te ajudar a entender melhor o Quinhentismo. Já separou seu livro de História?

  • Renascimento;
  • Reforma;
  • Contrarreforma;
  • Formação do Estado Moderno;
  • Mercantilismo;
  • Grandes Navegações;
  • “Descobrimento” do Brasil;
  • Período pré-colonial;
  • Extração do pau-brasil.

Principais características

O Quinhentismo é marcado por duas principais vertentes. Temos a Literatura Informativa, que descreve as impressões dos viajantes sobre as novas terras e os indígenas. Há, também, a Literatura Catequética, produzida por jesuítas e missionários que estiveram na colônia para propagar a religião católica.

Entre os principais tipos de obras, destacam-se cartas, relatos, mapas, documentos e relatórios de viajantes, administradores e missionários.

Quinhentismo é Literatura Informativa

Podemos definir a Carta do Descobrimento (1500), de Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral, como a obra que inaugura a Literatura Informativa sobre o Brasil. Também conhecida como literatura de viajantes ou literatura de cronistas, foi uma marca das Grandes Navegações e buscou fazer um verdadeiro levantamento das terras recém-descobertas, mapeando suas florestas, fauna, habitantes, costumes etc., sempre a partir do olhar europeu.

Assim, muitos a veem como uma literatura descritiva, preocupada em relatar o novo, o diferente, e satisfazer a curiosidade dos leitores, especialmente, em Portugal e na Espanha sobre a América. No caso da Carta, a principal característica é a exaltação da terra, por isso, destaca-se o uso exagerado de adjetivos, resultante do assombro do europeu colonizador diante do exotismo e da exuberância do mundo tropical, que poderia fornecer diversas riquezas para os cofres portugueses.

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Carta, de Pero Vaz de Caminha, por muito tempo conhecida como nossa “certidão de nascimento” (clique para ampliar).

Quinhentismo é Literatura Catequética

Já as produções da Literatura Catequética tinham caráter pedagógico, com a intenção de converter os indígenas ao catolicismo e impor a eles os costumes portugueses, em um violento processo de aculturação.

Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagógico, inspirado em passagens bíblicas, e produziram documentos que informavam aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos na colônia.

Teve como principal expoente o jesuíta Padre José de Anchieta (1534 – 1597), que trouxe em suas obras a influência medieval, como a medida velha, teatro vicentino e visão teocêntrica do mundo (Deus no centro de tudo). Além da prosa e da poesia, destacou-se no teatro, criando peças que misturavam os costumes indígenas à moral católica, como o Auto de São Lourenço.

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Retrato do Padre José de Anchieta.

O jesuíta também deixou como legado a primeira gramática do tupi-guarani, verdadeira cartilha para o ensino da língua dos nativos, a Arte de grammatica da lingua mais usada na costa do Brasil.

Importância do Quinhentismo

Para muitos, as obras do Quinhentismo têm apenas caráter descritivo e são de pouco valor literário. Porém, essa é uma visão limitada e que deixa de lado muitos outros valores. Para o leitor de hoje, a Literatura Informativa e Catequética satisfazem a curiosidade a respeito do Brasil nos seus primeiros anos de vida como colônia, oferecendo o encanto das narrativas de viagem, da descrição de costumes etc. Para os historiadores, os textos são fontes obrigatórias de pesquisa. Mais adiante, com o movimento modernista, esses textos foram retomados pelos escritores brasileiros, como Oswald de Andrade, como forma de denúncia da exploração a que o país sofrera desde então. Então vale a pena conhecer esse período e suas produções, não é mesmo?

E não acabou! Confira: Quinhentismo – livros e filmes para aprender mais

Referências: 

MARQUES, Antonio Francisco et al. (Orgs.). Linguagens e seus códigos: língua portuguesa e língua inglesa. 2. ed. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2016.

“Quinhentismo”. Só Literatura. Virtuous Tecnologia da Informação, 2007-2019. Disponível em: http://www.soliteratura.com.br/quinhentismo/. Acesso em: 22/07/2019.

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