Barroco: a estética do conflito e um dos campos mais ricos da arte

Estudar Barroco é adentrar em um dos campos mais ricos da Arte. Foi uma manifestação cultural que marcou a pintura, a escultura, a arquitetura, a música e, também, a literatura, sobre a qual vou falar um pouquinho aqui. Mas, calma, farei outros posts dedicados aos outros campos artísticos e com dicas de leitura, filmes etc.

Um pouco de História…

Já falei no post sobre Quinhentismo que não dá para estudar escolas literárias sem um bom livro de História em mãos. Então, vou resumir o contexto histórico da época, mas não deixe de aprofundar os seus estudos sobre o período, combinado?

O Barroco pode ser enquadrado como um movimento artístico europeu datado entre o final do século XVI e início do século XVII. Esse período foi marcado pelo avanço das descobertas marítimas e da colonização de novas terras. Também foi o momento de consolidação dos Estados-Nacionais e dos regimes absolutistas. Por fim, foi a época em que a Igreja Católica buscou conter o avanço da Reforma Protestante, usando, entre diversas armas, a arte.

A Vocação de São Mateus (1599-1600), pintura de Caravaggio. Capela Contarelli, San Luigi dei Francesi, Roma. A obra apresenta algumas características do Barroco, como o jogo entre luz e escuridão, tema religioso, realismo da vida diária etc. (Clique para ver imagem em alta resolução).

Essa manifestação reflete as profundas transformações sociais, políticas e mentais deste momento, envolvidas pelo pensamento renascentista. Então, perceberemos que as obras enfatizam as mudanças, cada vez mais rápidas, e a tentativa de conciliação desta nova realidade com o conservadorismo religioso, por exemplo.

Em linhas gerais, para entendermos o Barraco, é importante se atentar para os seguintes fenômenos:

  • Renascimento;
  • Colonização das Américas;
  • Fortalecimento dos Estados-Nacionais europeus;
  • Unificação da Península Ibérica;
  • Reforma e Contrarreforma.

Principais características do Barroco

O homem desse período denominado “Barroco” buscava a salvação, ao mesmo tempo em que queria usufruir dos prazeres mundanos. Daí surgiram os conflitos, a oposição entre o o Antropocentrismo (homem) e Teocentrismo (Deus), o pecado e a redenção, a carne e o espírito, o instável e o constante,.

Assim, a estética do Barroco evidenciou esse antagonismo, por meio do uso de antíteses, como claro escuro; luz e sombra; vida e morte; alegria e tristeza. Assim, essa figura de linguagem permite estabelecer relações entre palavras ou ideias opostas, contraditórias. Há também elementos que marcam a sua intensidade, como a forte presença da hipérbole, outra figura de linguagem que se caracteriza pelo exagero de expressões. Outro traço relevante é a linguagem muito rebuscada das obras literárias do período.

O Barroco na literatura

Assim como nas demais manifestações culturais, os escritores barrocos buscaram dar vazão a esses conflitos em suas produções.

Como apontado, era frequente o uso de várias figuras de linguagem que expressassem o exagero, a intensidade dos sentimentos e dos sentidos, o pessimismo do homem que se enxergava no meio de uma luta entre o mundo terreno e o mundo espiritual.

No Brasil, escritores do século XVII e primeira metade do século XVIII seguiram os modelos padrões europeus.

Na literatura brasileira, podemos apontar alguns autores e obras marcantes dentro do Barroco. É legal ressaltar que esses escritores seguiram os modelos europeus, adaptando para a realidade da colônia. Vamos lá!

Principais autores brasileiros

Bento Teixeira, com sua “Prosopopeia”, considerada o marco inicial do Barroco brasileiro em 1601. O poema épico narra as aventuras da família Albuquerque e é dedicado a Jorge d’Albuquerque Coelho, então governador da Capitania de Pernambuco.

Gregório de Matos (1633?-1696), apelidado “Boca do Inferno”. Escreveu poesia lírica, satírica e religiosa, rompendo, por vezes, com os próprios princípios do Barroco europeu. Não publicou nada em vida, o que contribuiu para o desconhecimento de sua obra até o início do século XX. Seu apelido se deu por conta da maneira como o autor retratava a realidade sociocultural do período, bem como os diferentes grupos sociais da Bahia da época, às vezes, utilizando-se de uma linguagem considerada de baixo calão. É possível encontrar diversas coletâneas com suas poesias na Amazon.

Padre Antônio Vieira Padre (1608-1697) nasceu em Portugal, mas veio aos sete
anos de idade com a família para o Brasil, onde se tornou padre jesuíta. Sua obra pertence tanto à literatura portuguesa quanto à brasileira e se constitui essencialmente de sermões. Os sermões não se dedicam única e exclusivamente à pregação da fé cristã e da doutrina católica, mas também se preocupam em incitar a reflexão crítica de determinadas questões políticas e, ao mesmo tempo, denunciar certas injustiças sociais, como, por exemplo, a exploração indígena no Brasil, o que resultou em problemas até mesmo com a Inquisição. Entre suas obras, estão “Sermão da Sexagésima” e “Sermão de Santo Antônio aos peixes”, reunidos em diversos livros à venda.

O término desse movimento no Brasil é assinalado com a publicação do livro Obras (1768), de Cláudio Manuel da Costa, introduzindo o Arcadismo por aqui. Mas esse assunto fica para um próximo post.

Análise de um poema barroco

Vamos fazer uma análise rápida do poema “A instabilidade das cousas do mundo”, de Gregório de Matos:

Nasce o sol e não dura mais que um dia. (antítese vida/morte)
Depois da luz, se segue a noite escura, (antítese claro/escuro)
Em tristes sombras morre a formosura, (antítese feio/belo)
Em contínuas tristezas a alegria. (antítese tristeza/alegria)

Porém, se acaba o sol, porque nascia? (dúvida)
Se é tão formosa a luz, porque não dura? (transitoriedade da vida)
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia? (sofrimento)

Mas no sol e na luz falta a firmeza;
Na formosura, não se dê constância
E, na alegria, sinta-se tristeza. (antítese tristeza/alegria)

Começa o mundo, enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza:
A firmeza somente na inconstância. (antítese constante/inconstante)

Gregório de Matos. Obra Poética Completa. Rio de Janeiro: Record, 1991.

Fazendo uma leitura simples, é possível perceber a grande quantidade de antíteses, uma das principais características do Barroco. A instabilidade da vida, do belo, da natureza, também está presente, assim como as dúvidas e sofrimentos do poeta diante dessa inconstância. Bem sofrência do Barroco mesmo!

Gostou? Então confira aqui uma lista de filmes e livros para você aprender mais sobre Barroco!

Imagem de capa: Vanitas Still Life, de Pieter Claesz (1630).

Respostas de 2

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *