10 trechos de Pedagogia do Oprimido explicados: por que Paulo Freire ainda é essencial

post atualizado em 13/12/2025

De repente, Paulo Freire é considerado um inimigo daqueles que não suportam a educação e o livre pensamento. Por isso, se torna mais necessário ainda divulgar e estudar a sua obra. Portanto, aqui está uma contribuição para todos aqueles que acreditam na educação libertadora, crítica e indispensável para um povo livre, respeitoso e feliz.

Publicado em 1968, Pedagogia do Oprimido é um dos livros mais influentes da história da educação mundial. Mais do que um tratado pedagógico, a obra de Paulo Freire propõe uma forma de ler o mundo, compreender as relações de poder e repensar o papel da educação na formação de sujeitos críticos.

A seguir, reunimos 10 trechos essenciais do livro, acompanhados de uma leitura prática para o nosso tempo.

1. A descoberta crítica

“O grande problema está em como os oprimidos, que “hospedam” o opressor em si, participar da elaboração, como seres duplos, inautênticos, da pedagogia de sua libertação. Somente na medida em que se descubram  “hospedeiros” do opressor poderão contribuir para o partejamento de sua pedagogia libertadora. Enquanto vivam a dualidade na qual ser é parecer e parecer é parecer com opressor, é impossível fazê-lo. A pedagogia do oprimido que não pode ser elaborada pelos opressores, é um dos instrumentos para esta descoberta crítica – a dos oprimidos por si mesmos e a dos opressores pelos oprimidos, como manifestação da desumanização.”

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Na prática
Paulo Freire nos alerta que a opressão não é apenas externa. Muitas vezes, ela é internalizada. Na educação, isso aparece quando o aluno acredita que não sabe, que não pode, que não tem voz. Reconhecer esse mecanismo é o primeiro passo para uma pedagogia que liberta, e não apenas transmite conteúdos.

Capa do livro Pedagogia do oprimido, de Paulo Freire
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2. A plenitude do ato de amar

“O opressor só se solidariza com os oprimidos quando o seu gesto deixa de ser um gesto piegas e sentimental, de caráter individual, e passa a ser um ato de amor àqueles. Quando, para ele, os oprimidos deixam de ser uma designação abstrata e passam a ser os homens concretos, injustiçados e roubados. Roubados na sua palavra, por isso no seu trabalho comprado, que significa a sua pessoa vendida. Só na plenitude desse ato de amar, na sua existenciação, na sua práxis, se constitui a solidariedade verdadeira.”

Na prática
Aqui, Freire desmonta a falsa ideia de neutralidade. Amar, na educação, não é sentimentalismo: é compromisso político com pessoas reais, concretas, historicamente injustiçadas. Ensinar é um ato profundamente ético, que exige envolvimento e responsabilidade.

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3. Pedagogia do Oprimido é sobre: “a pronúncia do mundo, o amor ao mundo”

“Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor ao mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não há amor que o funda. Sendo fundamento do diálogo, o amor é, também, diálogo. Daí que seja essencialmente tarefa de sujeitos e que não possa verificar-se na relação de dominação.”

Na prática
Educar não é repetir discursos prontos, mas ajudar sujeitos a nomear o mundo a partir de sua experiência. Quando não há diálogo, há imposição. E onde há imposição, não existe educação libertadora, apenas domesticação.

4. Visões de mundo

“Nosso papel não é falar ao povo sobre nossa visão de mundo, ou tentar impô-la a ele, mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa.”

Na prática
Freire critica o educador que se coloca como dono da verdade. O conhecimento nasce do encontro entre visões de mundo. Em sala de aula, isso significa escuta, troca e abertura para o conflito produtivo de ideias.

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5. Em Pedagogia do Oprimido aprendemos que Educação é criatividade e transformação

“Educador e educandos se arquivam na medida em que, nesta distorcida visão da educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros.”

Na prática
Quando a educação vira apenas repetição mecânica, ela mata o pensamento. Para Freire, aprender é reinventar, questionar, experimentar. O aluno não é um arquivo vazio, mas um sujeito em permanente construção.

6. Um direito de todos os homens

“Mas, se dizer a palavra verdadeira, que é trabalho, que é práxis, é transformar o mundo, dizer a palavra não é privilégio de alguns homens, mas direito de todos os homens. Precisamente por isso, ninguém pode dizer a palavra verdadeira sozinho, ou dizê-la para os outros, num ato de prescrição, com o qual rouba a palavra aos demais.”

Na prática
Falar, pensar e agir sobre o mundo não é privilégio. Quando apenas alguns “dizem a palavra”, a educação se torna autoritária. A verdadeira aprendizagem acontece quando todos participam da construção do sentido.

7. Pedagogia do Oprimido fala sobre a verdadeira organização das massas

“A manipulação aparece como uma necessidade imperiosa das elites dominadoras, com o fim de, através dela, conseguir um tipo inautêntico de “organização”, com que evite o seu contrário, que é a verdadeira organização das massas populares emersas e emergindo.”

Na prática
Freire denuncia estratégias que simulam participação, mas mantêm o controle nas mãos de poucos. Em contextos educacionais, isso aparece em projetos “participativos” que não escutam de fato alunos e comunidades.

8. A decisão num estado de ilusão

“A invasão cultural, que serve à conquista e a manutenção da opressão, implica sempre a visão focal da realidade, a percepção desta como estática, a superposição de uma visão do mundo na outra. A “superioridade” do invasor. A “inferioridade” do invadido. A imposição de critérios. A posse do invadido. O medo de perdê-lo. A invasão cultural implica ainda, por tudo isso, que o ponto de decisão da ação dos invadidos está fora deles e nos dominadores invasores. E, enquanto a decisão não está em quem deve decidir, mas fora dele, este apenas tem a ilusão de que decidi.”

Na prática
Quando as pessoas acreditam que escolhem, mas apenas reproduzem decisões impostas, vivem uma ilusão de autonomia. A educação crítica devolve aos sujeitos o poder de decidir conscientemente sobre sua própria realidade.

9. Pedagogia do Oprimido é sobreconsciência de classe

“Significando a união dos oprimidos, a relação solidária entre eles não importam os níveis reais em que se encontrem como oprimidos, implica também, indiscutivelmente, consciência de classe”.

Na prática
Freire mostra que a libertação não é individual. Ela nasce do reconhecimento coletivo das condições de opressão. Na escola, isso se traduz em práticas colaborativas, solidárias e politicamente conscientes.

10. As pessoas se educam entre si

“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.”

Na prática
Essa é uma das frases mais conhecidas de Paulo Freire porque sintetiza tudo: ninguém ensina sozinho. A educação acontece no encontro, na mediação do mundo, na relação viva entre pessoas que aprendem juntas.

Pedagogia do Oprimido não é um livro para ser apenas lido. É um livro que pede conversa, incômodo, circulação. Cada trecho aqui reunido continua se atualizando na sala de aula, na universidade, nos movimentos sociais e nas leituras silenciosas feitas à margem do cotidiano. Se este conteúdo fez sentido para você, compartilhe com quem acredita que educar é um ato político, ético e profundamente humano. Leitura também é encontro. E ideias só se mantêm vivas quando seguem caminhando de mão em mão. Compartilhe!


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