Feminista e bissexual, escritora Giulianna Domingues garante representatividade em obra de estreia “Luzes do Norte” por meio de protagonistas e propõe releitura do famoso mito do lobisomem
Embora se reconhecesse como bissexual há alguns anos, a autora Giulianna Domingues aproveita o lançamento de Luzes do Norte para externalizar na literatura o que ainda não havia exposto na vida real. Ficcional e fantasiosa, a obra valoriza o universo LGBT ao apresentar para os leitores um casal de mulheres imperfeitas e apaixonadas
A trama é protagonizada por Dimitria e Aurora, duas mulheres completamente diferentes. Enquanto Dimitria, órfã considerada uma das melhores caçadoras do Cantão da Romândia, precisa “caçar de dia para comer à noite”, Aurora tem tudo o que deseja a qualquer momento por ser a filha primogênita da família mais rica do país. A inspiração para os nomes das personagens veio do fenômeno natural que Giulianna apreciou no Alasca, durante uma viagem em 2017.
O início da história de Giulianna Domingues
Logo no início da narrativa, o pai de Aurora, Bóris van Vintermer, oferece à caçadora um jantar em agradecimento: a personagem abateu um urso que ameaçava a propriedade da família. O encontro era a oportunidade que o chefe da família precisava para contratá-la como guarda da filha mais velha. A proposta era irrecusável, pois o inverno era muito duro para quem vive de caça e o valor era mais que o dobro do que ganhava.
Já Igor, irmão da caçadora, tinha outros interesses no novo emprego da irmã. Sem nunca ter falado com Aurora, o rapaz se mostra completamente apaixonado pela jovem nobre. O que de início é um esforço para agir como cupido para o irmão, evolui rapidamente para o interesse: entre segredos e mentiras, Dimitria começa a enfrentar a realidade de seus sentimentos por Aurora.
Ela sabia o que os românticos falavam sobre beijos: que com as pessoas certas eram como um encontro de almas, um fósforo aceso num palheiro. Até aquele segundo, ela nunca tivera razões para acreditar. Naquele momento, porém, era como se Aurora tivesse ateado fogo em seu espírito — e ela se incendiava com prazer.
(Luzes do Norte, pág. 124)
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Narrado em terceira pessoa, o livro traz ainda uma releitura da lenda do lobisomem – mais uma preocupação da caçadora. A suspeita de que havia um animal ou criatura na região surge quando crianças desaparecem e são encontradas sem vida. A partir daí, todos se tornam suspeitos.
A mistura de gêneros e o protagonismo de mulheres externaliza não apenas o desejo da autora de se ver em personagens literárias, mas de todas as apaixonadas pela ficção. “Sempre fui uma leitora assídua de fantasia – e sempre senti falta de ler histórias sobre mulheres imperfeitas, como eu, que amam outras mulheres, como eu”, destaca Giulianna.