Além de seus romances que se tornaram grandes obras-primas literárias, Victor Hugo nos deixou lindos poemas que você irá ler agora!
Victor Hugo foi um renomado escritor francês do século XIX, conhecido por suas vastas contribuições para a literatura francesa. Sua obra mais icônica, “Os Miseráveis,” é um romance monumental que retrata a luta pela redenção e justiça social durante a Revolução Francesa. Publicado em 1862, o livro tece uma narrativa envolvente e emocional, destacando as injustiças da sociedade da época e a busca por redenção de personagens como Jean Valjean e a trágica vida de Fantine. A obra é um marco na literatura mundial, abordando questões universais de moralidade e compaixão.
Além de sua prosa magistral, Victor Hugo também deixou um legado significativo na poesia. Suas poesias são caracterizadas pela paixão, imaginação e uma habilidade única para criar imagens vívidas. Suas obras poéticas são aclamadas por sua profundidade emocional e beleza lírica. Explorando temas que variam desde o amor até a política, as poesias de Hugo cativam os leitores com sua linguagem cativante e reflexões profundas sobre a condição humana. Conhecer suas poesias é uma experiência enriquecedora que revela a maestria de Victor Hugo como um dos grandes poetas da literatura francesa e mundial.
Conheça abaixo os 10 mais lindos poemas de Victor Hugo
1. Devaneio
Lo giorno se n’andava e l’aer bruno
Toglieva gli animal che sono’n terra,
Dalle fatiche loro.
– Dante
Oh! deixa-me! é a hora onde o horizonte se esfuma,
Esconde a fronte vária sob esfera em bruma,
Hora onde o astro gigante já em rubor sumia.
O bosque amarelado, só, doura a colina.
Pensar que em dias tais em que o outono declina,
Deslustram chuva e sol a floresta que havia.
Quem fará surgir, súbito, fará brotar
Por lá – enquanto estou só na janela a sonhar
E a sombra a se afundar no fim do corredor –
A cidade mourisca, inaudita, vibrante,
Que, tal qual o foguete em feixes fulgurantes,
Dilacera a neblina em setas de auricor!
Que venha inspirar, gênios! afastar do sono
Estas canções escuras como um céu de outono,
E lançar em meus olhos mágica faceta,
Apagando-se há muito em rumor abafado,
Com as mil torres em seu palácio de fadas,
Brumosa, rendilhar o horizonte violeta!
2. Luar
Per amica silentia lunae.
– Virgílio
Serena paira a lua e nas ondas rebrilha.
Livre a janela, enfim, aberta para a brisa,
A sultana olha, além, e o mar que se repisa,
Com um fluxo de prata adorna as negras ilhas.
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Vibrando, de seus dedos, escapa a guitarra.
Ela ouve… Um surdo som golpeia os surdos ecos.
Uma grande nau turca a vir de águas de Cos
A agitar o arquipélago com remos tártaros?
Os alcatrazes, um a um, a mergulhar
Cotando a água que rola em pérolas sobre as asas?
Será um djim que lá do alto assovia em voz rasa
E lança ameias lá da torre para o mar?
Quem pois resolve as vagas lá perto do harém?
Nem o negro alcatraz sobre o fluxo embalado,
Nem as pedras do muro ou o rumo ritmado
Da grande nau pela onda e remos em vaivém.
São alforjes de peso; e dos prantos a trilha.
Ver-se-ia ao sondar o mar que os engalana,
Moverem-se em seus flancos tal qual forma humana…
Serena paira a lua e nas ondas rebrilha.
3. O Sol
O sol adormeceu esta tarde nas nuvens…
O sol adormeceu esta tarde nas nuvens.
Amanhã hão de vir borrasca e tarde e noite;
A aurora e seus clarões de vapor obstruídos;
Depois noites e dias, todo o tempo eterno.
Passarão estes dias – passarão em turba
Sobre a face do mar, sobre a face dos montes,
Sobre os rios de prata e o bosque em rola
Como um hino confuso de mortos que amamos.
Como a face das águas e a fronte das montanhas.
Enrugadas e moças, e os bosques sempre verdes
jovens serão; e o rio das campinas
Traz dos montes o fluxo que oferece aos mares.
Mas eu que cada vez mais curvo a minha fronte,
Eu passo e estimulado pelo sol alegre.
Logo mais partirei, bem no meio da festa,
E sem que nada falte ao mundo imenso e belo.
4. A infância
O menino cantava; sua mãe, no leito, agonizava,
Extenuada, a sua fronte na sombra pendia;
E sobre ela, a morte numa nuvem vagueava;
E eu ouvia a canção e escutava a agonia.
Tinha cinco anos o menino, e junto à janela,
Um claro som de riso e de jogos se erguia;
E a mãe, ao lado da criança doce e bela
Que todo o dia cantava, toda noite tossia,
A mãe sob as lajes do claustro foi dormir;
E o menino voltou a cantar…
A dor é um fruto que Deus não faz surgir
Num ramo frágil demais para o suportar.
5. A ponte
Diante de mim, a escuridão. A voragem
Que não tem cimo e que nem sequer tem margem
Lá estava, sombria, imensa; nada nela mexia.
Perdido no mundo infinito eu me sentia.
Ao longe, através da sombra, impenetrável véu,
Entrevia-se Deus, pálida estrela no céu.
Clamei: – Ó alma, alma minha! eu precisava,
Para atravessar o abismo cujo fim não vislumbrava,
E para durante a noite até Deus eu ascender,
De construir uma ponte e em mil arcos a estender.
Quem o conseguirá? Ninguém!ó dor! tormento!
Chora! – Um fantasma branco ergueu-se no momento
Em que à sombra um olhar de temor eu deitava.
A forma de uma lágrima esse fantasma mostrava;
Tinha uma fronte de virgem e duas mãos de criança;
Lembrava um lírio que toda a brancura alcança;
As suas duas mãos juntas acendiam uma luz.
Apontou o abismo onde tudo a pó se reduz,
Tão fundo que nem o eco aí segue a sua lei,
E disse-me: – Se quiseres, a ponte construirei.
Para o desconhecido ergui meus olhos do chão.
-Como te chamas? perguntei. Respondeu: – A oração.
6. Fábula ou história
Um dia, magro e sentindo um real desfastio,
Um macaco com a pele de um tigre se vestiu.
O tigre fora malvado, ele tornou-se atroz
Ele tinha assumido o direito de ser feroz.
Arreganhava os dentes, gritando: eu serei
O herói dos matagais, da noite o temível rei!
Como malfeitor dos bosques, emboscado nos espinhos,
De horror, morte e rapinas, escureceu os caminhos,
Degolou os viajantes e devastou a floresta,
Fez tudo o que faz aquela pele funesta.
Vivia no seu antro, no meio da voragem.
Todos, vendo-lhe a pele, criam na personagem.
Gritava e rugia como as feras danadas:
Olhem, a minha caverna está cheia de ossadas;
Olhem para mim, sou um tigre! Tudo treme,
Diante de mim, tudo recua e emigra; tudo freme!
Temiam-no os animais, fugindo com grandes passos.
Um domador apareceu e tomando-o nos braços,
Rasgou-lhe a pele, como se rasga um farrapo,
E, pondo a nu o herói, disse: Não passas de um macaco!
7. As minhas duas filhas
No fresco claro-escuro da bela tarde que tomba,
Uma me lembra um cisne, e a outra uma pomba,
Muito belas, muito alegres, ó suavidade!
Vede, a irmã mais velha e a de menos idade
Sentadas junto ao jardim; e para as duas olhando,
Um ramo de cravos brancos, com os caules pousando
Num vaso de mármore, agitado pelo vento,
Sobre elas se inclina, imóvel e atento,
E tremendo na sombra, parece, assim curvado,
Um voo de borboletas em êxtase parado.
8. Qual é o fim…
Qual é o fim de tudo? a vida ou a tumba?
A onda que nos sustém? ou a que nos afunda?
Qual a longínqua meta de tanto passo cruzado?
É o berço que embala o homem ou é o seu fado?
Seremos aqui na terra, nas alegrias, nos ais,
Reis predestinados ou simples presas fatais?
Ó Senhor, responde, responde-nos, ó Deus forte,
Se condenaste o homem apenas à sua sorte,
Se já no presépio o calvário se anuncia
E se os ninhos sedosos, dourados pela manhã fria,
Onde as crias vêm ao mundo por entre flores,
São feitos para as aves ou para predadores.
9. Perseverando
À Regueira Costa
A águia é o gênio… Da tormenta o pássaro,
Que do monte arremete altivo píncaro,
Qu’ergue um grito aos fulgores do arrebol,
Cuja garra jamais se pela em lodo,
E cujo olhar de fogo troca raios
Contra os raios do sol.
Não tem ninho de palhas… tem um antro
Rocha talhada ao martelar do raio,
Brecha em serra, ant’a qual o olhar tremeu. . .
No flanco da montanha asilo trêmulo,
Que sacode o tufão entre os abismos
O precipício e o céu.
Nem pobre verme, nem dourada abelha
Nem azul borboleta… sua prole
Faminta, boquiaberta espera ter…
Não! São aves da noite, são serpentes,
São lagartos imundos, que ela arroja
Aos filhos p’ra viver.
Ninho de rei!… palácio tenebroso,
Que a avalanche a saltar cerca tombando!…
O gênio aí enseiba a geração…
E ao céu lhe erguendo os olhos flamejantes
Sob as asas de fogo aquenta as almas
Que um dia voarão.
Por que espantas-te, amigo, se tua fronte
Já de raios pejada, choca a nuvem?…
Se o réptil em seu ninho se debate?…
É teu folgar primeiro… é tua festa!…
Águias! P’ra vós cad’hora é uma tormenta,
Cada festa um combate!…
Radia!… É tempo!… E se a lufada erguer-se
Muda a noite feral em prisma fúlgido!
De teu alto pensar completa a lei!…
Irmão! Prende esta mão de irmão na minha!…
Toma a lira Poeta! Águia! esvoaça!
Sobe, sobe, astro rei!…
De tua aurora a bruma vai fundir-se
Águia! faz-te mirar do sol, do raio;
Arranca um nome no febril cantar.
Vem! A glória, que é o alvo de vis setas,
É bandeira arrogante, que o combate
Embeleza ao rasgar.
O meteoro real de coma fúlgida
Rola e se engrossa ao devorar dos mundos…
Gigante! Cresces todo o dia assim!
Tal teu gênio, arrastando em novos trilhos
No curso audaz constelações de ideias,
Marcha e recresce no marchar sem fim!…
10. Unidade
Por cima do horizonte de colinas sem cor,
O sol, essa flor de infinito esplendor,
Se inclinava sobre a terra à hora do poente;
Uma humilde margarida, no campo florescente,
Sobre um muro cinzento, entre a aveia a vibrar,
Branca, sua cândida auréola faz desabrochar;
E a pequenina flor, sobre o seu velho muro,
Fixamente olhava, no eterno azul tão puro,
O grande astro que a luz imortal envia.
– E eu, eu também tenho raios! – lhe dizia.
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