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Os 11 melhores sonetos de Camões, incluindo o mais conhecido, claro!

Conheça a beleza e a profundidade dos sonetos de Camões.

Luís de Camões, um dos maiores poetas da língua portuguesa e um dos mais destacados da literatura mundial, viveu no século XVI e é conhecido por sua contribuição excepcional para a poesia renascentista. Sua importância na literatura é indiscutível, e seu legado perdura através dos séculos. Sua habilidade única em combinar elementos clássicos e contemporâneos, bem como seu domínio do verso, o coloca no panteão dos grandes mestres da poesia.

O estilo de Luís de Camões é caracterizado por uma fusão magistral de influências clássicas greco-romanas com a sensibilidade renascentista. Ele foi capaz de criar uma síntese harmoniosa entre a tradição lírica clássica e as novas formas literárias que emergiam em seu tempo. Seus poemas frequentemente apresentam temas como o amor, a aventura, a natureza e as complexidades da condição humana, refletindo uma profunda compreensão da psicologia humana.

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Do vasto repertório de Camões, dois de seus trabalhos mais destacados merecem menção especial: “Os Lusíadas” e seus sonetos. “Os Lusíadas” é um épico que narra as aventuras dos navegadores portugueses, liderados por Vasco da Gama, que descobriram o caminho marítimo para a Índia. A obra é uma celebração do espírito explorador e heróico, enriquecida pela erudição clássica de Camões.

Os sonetos de Camões também são notáveis por sua beleza e profundidade. Aqui estão onze dos seus sonetos mais conhecidos, acompanhados de breves comentários sobre cada um:

Soneto I

Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho co tormento,
para que seus enganos não dissesse.

Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,

verdades puras são, e não defeitos…
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
tereis o entendimento de meus versos!

Este soneto introduz o tema recorrente do amor não correspondido, uma característica central em muitos sonetos de Camões.

Soneto VII

O fogo que na branda cera ardia,
vendo o rosto gentil que eu n’alma vejo,
se acendeu de outro fogo do desejo,
por alcançar a luz que vence o dia.

Como de dous ardores se encendia,
da grande impaciência fez despejo,
e remetendo com furor sobejo
vos foi beijar na parte onde se via.

Ditosa aquela flama, que se atreve
[a] apagar seus ardores e tormentos
na vista de que o mundo tremer deve.

Namoram se, Senhora, os Elementos
de vós, e queima o fogo aquela neve
que queima corações e pensamentos.

O poeta reflete sobre a efemeridade da vida e a inevitabilidade da morte, outro tópico comum em sua poesia.

Soneto IX

Quando da bela vista e doce riso,
tomando estão meus olhos mantimento,
tão enlevado sinto o pensamento
que me faz ver na terra o Paraíso.

Tanto do bem humano estou diviso,
que qualquer outro bem julgo por vento;
assi, que em caso tal, segundo sento,
assaz de pouco faz quem perde o siso.

Em vos louvar, Senhora, não me fundo,
porque quem vossas cousas claro sente,
sentirá que não pode merecê las.

Que de tanta estranheza sois ao mundo,
que não é de estranhar, Dama excelente,
que quem vos fez, fizesse Céu e estrelas

Camões aborda a inexorabilidade do tempo e como ele pode corroer o amor e a beleza.

Soneto XIII

Pede o desejo, Dama, que vos veja,
não entende o que pede; está enganado.
É este amor tão fino e tão delgado,
que quem o tem não sabe o que deseja.

Não há cousa a qual natural seja
que não queira perpétuo seu estado;
não quer logo o desejo o desejado,
porque não falte nunca onde sobeja.

Mas este puro afeito em mim se dana;
que, como a grave pedra tem por arte
o centro desejar da natureza,

assi o pensamento (pola parte que
vai tomar de mim, terreste [e] humana)
foi, Senhora, pedir esta baixeza.

Neste soneto, o eu lírico expressa o desejo de superar as dificuldades que impedem o amor.

Soneto XV

Lembranças saudosas, se cuidais
de me acabar a vida neste estado,
não vivo com meu mal tão enganado,
que não espere dele muito mais.

De muito longe já me costumais
a viver de algum bem desesperado;
já tenho co a Fortuna concertado
de sofrer os trabalhos que me dais.

Atado ao remo tenho a paciência,
para quantos desgostos der a vida,
cuide em quanto quiser o pensamento;

que, pois não há i outra resistência
para tão certa queda da caída,
aparar-lhe hei debaixo o sofrimento.

O poema evoca a metáfora das chamas do amor, destacando seu poder de consumir e transformar.

Soneto XX

Transforma se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sòmente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assi co a alma minha se conforma,

está no pensamento como ideia:
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.

Camões explora a ideia de que o amor verdadeiro transcende as aparências físicas.

Soneto XXIII

Lindo e sutil trançado, que ficaste
em penhor do remédio que mereço,
se só contigo, vendo te, endoudeço,
que fora cos cabelos que apertaste?

Aquelas tranças d’ouro, que ligaste,
que os raios do Sol têm em pouco preço,
não sei se para engano do que peço
se para me atar, os desataste.

Lindo trançado, em minhas mãos te vejo,
e por satisfação de minhas dores
como quem não tem outra, hei de tomar te.

E se não for contente meu desejo,
dir lhe hei que, nesta regra dos amores,
pelo todo também se toma a parte.

O eu lírico expressa o desejo de encontrar conforto na solidão e no retiro.

Soneto XXXVIII

árvore, cujo pomo, belo e brando,
natureza de leite e sangue pinta,
onde a pureza, de vergonha tinta,
está virgíneas faces imitando;

nunca da ira e do vento, que arrancando
os troncos vão, o teu injúria sinta;
nem por malícia de ar te seja extinta
a cor, que está teu fruto debuxando;

que, pois me emprestas doce e idóneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,

se não te celebrar como mereces,
cantando te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória

Este soneto reflete sobre a inconstância da fortuna e o destino, que muitas vezes são cruéis.

Soneto X

Quem pode livre ser, gentil Senhora,
vendo-vos com juízo sossegado,
se o Minino que de olhos é privado,
nas mininas dos vossos olhos mora?

Ali manda, ali reina, ali namora,
ali vive das gentes venerado;
que o vivo lume e o rosto delicado,
imagens são, nas quais o Amor se adora.

Quem vê que em branca neve nascem rosas
que fios crespos de ouro vão cercando,
se por entre esta luz a vista passa,

raios de ouro verá, que as duvidosas
almas estão no peito traspassando,
assi como um cristal o Sol traspassa…

A beleza e a tristeza da despedida são o tema central deste soneto, uma reflexão sobre a partida de um ente querido.

Soneto LIII

Se tanta pena tenho merecida
em pago de sofrer tantas durezas,
provai, Senhora, em mim vossas cruezas,
que aqui tendes ua alma oferecida.

Nela experimental, se sois servida,
desprezos, disfavores e asperezas;
que mores sofrimentos e firmezas
sustentarei na guerra desta vida.

Mas contra vossos olhos quais serão?
Forçado é que tudo se lhe renda;
mas porei por escudo o coração.

Porque em tão dura e áspera contenda,
é bem que, pois não acho defensão,
com me meter nas lanças me defenda.

Camões celebra o poder transformador do amor, capaz de redimir pecados e elevar a alma.

Soneto V

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Neste soneto, Camões explora a natureza paradoxal e complexa do amor.

Luís de Camões continua a ser um dos poetas mais influentes e amados em língua portuguesa, e sua obra mantém sua relevância e impacto na literatura mundial. Sua capacidade de abordar temas universais, como o amor, a morte e a busca de significado, torna sua poesia atemporal, cativando leitores de todas as épocas e lugares. Conheça todos os sonetos de Camões aqui!

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