A narrativa começa com Jack Kerouac dentro de um taxi no México, segurando uma garrafa de uísque ao lado de Tristessa, uma prostituta entorpecida por drogas. O destino é o apartamento dela, um lugar sujo e fedorento onde estão Cruz (a irmã de Tristessa), o amigo El Indio, um cachorro, um gato, uma galinha e uma pomba.

Temos apenas a mente de Jack fluindo no mundo em que ele se encontra: a história é real (o nome verdadeiro de Tristessa era Esperanza), em primeira pessoa e narrada no presente, é como olhar pelo buraco da fechadura (super clichê, eu sei).

O submundo mexicano

Cada sensação de Jack nesse submundo mexicano o faz lembrar de outras histórias que viveu ali e também de sua paixão secreta por Tristessa, ele utiliza um monólogo interior que faz a narrativa ir e vir de acordo com a distração de sua mente. Ou seja: ele também está drogado; ele também precisa de mais morfina; ele ama Tristessa, mas ela ama apenas as drogas. O óbvio mostra-se logo no início, mas Jack Kerouac tem uma narrativa forte, que faz o leitor querer acompanhar sua aventura no México.

Os outros ambientes: o apartamento de Jack, do vizinho Bull, as ruas, são também relatados como locais sujos e frequentado por pessoas viciadas, mas Jack – apesar de toda a sua fama de doidão – parece um menino inocente, perdido no meio de toda aquela loucura. Portanto, ele é um sonhador, um romântico e, após um ano, volta para o México atrás de sua Tristessa, mas tudo é em vão…

Mas quem é Tristessa?

Por fim, Tristessa é como a personificação da droga, Jack e seus amigos eram viciados em Tristessa, sentiam compaixão por ela, pena, queriam cuidar… mas ela não queria nada disso, ela queria manter-se drogada. Um ciclo vicioso, doente, sujo, mas que na narrativa de Jack Kerouac ganha poesia. Eu gostei muito dessa frase: “suave é o chuviscar que perturbou minha calma.”

Sobre o autor

Jack Kerouac (1922-1969) foi um dos mais importantes escritores da geração beat.  Até hoje ele é admirado por sua forma alucinante de escrever: On the Road, sua obra mais famosa, foi escrita em apenas três semanas durante uma viagem pela conhecida Rota 66. Ele morreu de cirrose.

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10 Comentários

  1. Excelente, explicou tudo muito bem! Quem ler a sua resenha vai conhecer a história do livro muito melhor do que eu fiz. Parabéns!!

    Beijos e obrigada pela indicação 🙂

    Fernanda

  2. Eu tenho um certo pré-conceito com esse Jack Kerouack, talvez por ter visto um entrevista dele numa tv francesa em que simplesmente estava bêbado e não respondia nenhuma das perguntas que a repórter fazia…só fazia cantar a repórter e ela sem jeito tentava fazer as perguntas…não gostei dele e por isso nunca o li… Gosto muito de Charles Bukowski que tbm é um Bêbum mas, pelo que conheço de seu caráter e sua escrita tem uma poética mais…como posso dizer, “afável”(talvez não seja a palavra correta) até porque ele foi um dos ultimos Beats então acho q muito da Geração já não era tão explicita nele, já Jack talvez seja cru demais em relação a tudo, não o conheço então não posso falar muito, mas já procurei ler resenhas sobre seus livros pra vê se me interessavam e até agora nada…não sei… meu pré-conceito… talvez eu quebre algum dia desses, quem sabe… =/

  3. Excelente resenha. O livro que mais me surpreende de Kerouac foi “Big Sur”, uma verdadeira obra-prima. Não li Tristessa, mas com certeza lerei. Parabéns pelo blog.

  4. Acabei de ler On the road e fiquei encantada com a geração beat.. e por Kerouac.. Tristessa será a próxima escolhida.

  5. Kerouac deu um pé na bunda da literatura americana; onde não havia explosão de cultura pop com conteúdo; já li todas as obras de Kerouac e estou sempre relendo; On the Road é um poema em prosa , mesmo traduzido ainda consegue ser bom !, Tristessa é um livrinho tão fininho com grande conteúdo !..

  6. Olá, Ivan!
    Kerouac fez um grande serviço à literatura, de uma forma despretensiosa, acredito eu, ele construiu uma identidade maravilhosa e rica de pessoas que pareciam não participar dos padrões americanos, que também refletem outras pessoas no mundo inteiro. Maravilhoso.

  7. Guilherme Ziggy on

    Eu acho que Tristessa é uma das obras mais potentes do Ti Jean, ele se entrega ao fogo do sentimento como ele pouco fez em toda sua bibliografia, se torna um homem amável que está amando, e isso é MUITO raro em suas obras (somente em Subterraneans e Maggie Cassidy). Considerando que o livro foi escrito entre 1959/60 quando Kerouac estava começando a surtar com o peso da fama, ele é escrito de uma maneira excepcional, o fim do auge, que se encerrou com a publicação de Big Sur. Após isso, ele só tentou, tentou, tentou. Ótima resenha!

  8. francineramos on

    Olá, Guilherme!
    Tristessa é um dos meus preferidos de Kerouac, e vc tem razão, de todos os livros dele que li, esse é o único que representa o amor, a paixão como tema principal. Muito bom. Obrigada pela visita! 🙂

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