Mia Couto escreve sobre o seu país, Moçambique (África), mas também escreve sobre você! As suas palavras, tão repletas de novas possibilidades, por sua capacidade de juntar sentimentos, verbos e ações como algo único, faz do livro Estórias Abensonhadas muito bonito, apesar de ter como tema a guerra, que sempre destrói a beleza das coisas, dos lugares e das pessoas.

Abensonhadas. Sonhadas, Bem Sonhadas, Benção de Sonhos. Tanta coisa mora dentro das palavras que Mia Couto inventa. O seu “faliventar” já é uma característica de sua obra, assim como a crítica social atrelada a exaltação constante da cultura do seu povo e também a incrível capacidade de contar histórias como se elas pertencessem ao mundo todo, uma vez que leva o leitor a pensar sobre a sua própria condição em estar vivo.

Como ficamos depois da guerra?

O pós-guerra é o principal tema do livro, porém, há outros temas, dentro deste único universo: amor, traição, casamento, raiva, nascimento, saudade, educação, violência. E dentro disso tudo, o estilo tão peculiar de Mia Couto, que brinca constantemente com o real e o imaginário:

Estas estórias foram escritas depois da guerra. Por incontáveis anos as armas tinham vertido luto no chão de Moçambique. Estes textos me surgiram entre as margens da mágoca e da esperança.” (p. 5)

O primeiro conto chamado “Nas águas do tempo” é sobre esperança e mostra a bela relação entre avô e neto, enfatiza a importância de ouvir, respeitar e acreditar nas pessoas mais experientes.

“A água e o tempo são irmãos gêmeos, nascidos do mesmo ventre.” (p. 10)

Mas não são todos os contos que enfatizam a esperança no final da guerra. Há alguns que mostram a vida das pessoas durante a guerra, mas Mia Couto utiliza outros temas para desenvolver essas histórias. É o caso, por exemplo, do conto “As flores de novidade” que narra a triste trajetória de uma criança não desejada, que, por isso, ganhou o nome de Novidade Castigo.

Leia também: Conto do nascer da Terra (Mia Couto)

Um conjunto único de sentimentos

Conto após conto, as estórias abensonhadas, formam um conjunto único de sentimentos, porém, opostos. Como um espaço do tempo em que o ser humano se vê em situações tão perigosas e sensíveis para a alma, o pensamento que fica é sobre o momento em que perdemos a capacidade de amar e como é possível resgatar isso. Nos sonhos, talvez.

Mia Couto, com suas histórias reais e mágicas, mostra a crueza da guerra, os seus estragos, as suas feridas e do quanto é importante resgatar o sentido da vida cotidiana, mesmo nas situações mais atípicas, mesmo quando não há desejo e percepção sobre as próprias mudanças da alma.

“Sentado na velha cadeira de balanço, pesa-lhe a imensidão dos dias. Trabalhar para quê? O trabalho é como um rio: está-se acabando e o que vem atrás é ainda um rio. Esticando as pernas com lassidão me pergunta: – Quem está balançar: sou eu, é a cadeira ou é o mundo?” (p. 48)

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