Álvares de Azevedo (1831-1852) foi um poeta, escritor e contista brasileiro. É o nome mais importante do “Ultrarromantismo”, também conhecido como a “Segunda Geração Romântica”, quando os poetas deixaram em segundo plano os temas nacionalistas e indianistas e mergulharam no seu mundo interior, no amor idealizado, no anseio pela morte… Hoje, deixo cinco poemas do meu crush literário para os corações apaixonados e partidos!

    poemas de Álvares de Azevedo
    Compre na AMAZON
    poemas de Álvares de Azevedo
    Compre na AMAZON

    Amor

    Amemos! Quero de amor
    Viver no teu coração!
    Sofrer e amar essa dor
    Que desmaia de paixão!
    Na tu’alma, em teus encantos
    E na tua palidez
    E nos teus ardentes prantos
    Suspirar de languidez!
    Quero em teus lábio beber
    Os teus amores do céu,
    Quero em teu seio morrer
    No enlevo do seio teu!
    Quero viver d’esperança,
    Quero tremer e sentir!
    Na tua cheirosa trança
    Quero sonhar e dormir!
    Vem, anjo, minha donzela,
    Minha’alma, meu coração!
    Que noite, que noite bela!
    Como é doce a viração!
    E entre os suspiros do vento
    Da noite ao mole frescor,
    Quero viver um momento,
    Morrer contigo de amor!

    Solidão

    Nas nuvens cor de cinza do horizonte
    A lua amarelada a face embuça;
    Parece que tem frio e, no seu leito,
    Deitou, para dormir, a carapuça.

    Ergueu-se… vem da noite a vagabunda
    Sem xale, sem camisa e sem mantilha,
    Vem nua e bela procurar amantes…
    — É doida por amor da noite a filha.

    As nuvens são uns frades de joelhos,
    Rezam adormecendo no oratório…
    Todos têm o capuz e bons narizes
    E parecem sonhar o refeitório.

    As árvores prateiam-se na praia,
    Qual de uma fada os mágicos retiros…
    Ó lua, as doces brisas que sussurram
    Coam dos lábios teus como suspiros!

    Falando ao coração… que nota aérea
    Deste céu, destas águas se desata?
    Canta assim algum gênio adormecido
    Das ondas mortas no lençol de prata?

    Minh’alma tenebrosa se entristece,
    É muda como sala mortuária…
    Deito-me só e triste sem ter fome
    Vendo na mesa a ceia solitária.

    Ó lua, ó lua bela dos amores,
    Se tu és moça e tens um peito amigo,
    Não me deixes assim dormir solteiro,
    À meia-noite vem ceiar comigo!

    Gosta de Álvares de Azevedo? Conheça 13 livros sobre amor que todo mundo precisa ler pelo menos uma vez!

    Desânimo

    Estou agora triste. Há nesta vida
    Páginas torvas que se não apagam,
    Nódoas que não se lavam… se esquecê-las
    De todo não é dado a quem padece…
    Ao menos resta ao sonhador consolo
    No imaginar dos sonhos de mancebo!

    Oh! voltai uma vez! eu sofro tanto!
    Meus sonhos, consolai-me! distraí-me!
    Anjos das ilusões, as asas brancas
    As névoas puras, que outro sol matiza.
    Abri ante meus olhos que abraseiam
    E lágrimas não tem que a dor do peito
    Transbordem um momento…

    E tu, imagem,
    Ilusão de mulher, querido sonho,
    Na hora derradeira, vem sentar-te,
    Pensativa e saudosa no meu leito!
    O que sofres? que dor desconhecida
    Inunda de palor teu rosto virgem?
    Por que tu’alma dobra taciturna,
    Como um lírio a um bafo d’infortúnio?
    Por que tão melancólica suspiras?

    Ilusão, ideal, a ti meus sonhos,
    Como os cantos a Deus se erguem gemendo!
    Por ti meu pobre coração palpita…
    Eu sofro tanto! meus exaustos dias
    Não sei por que logo ao nascer manchou-os
    De negra profecia um Deus irado.
    Outros meu fado invejam… Que loucura!
    Que valem as ridículas vaidades
    De uma vida opulenta, os falsos mimos
    De gente que não ama? Até o gênio
    Que Deus lançou-me à doentia fronte,
    Qual semente perdida num rochedo,
    Tudo isso que vale, se padeço!

    Nessas horas talvez em mim não pensas:
    Pousas sombria a desmaiada face
    Na doce mão e pendes-te sonhando
    No teu mundo ideal de fantasia…
    Se meu orgulho, que fraqueia agora,
    Pudesse crer que ao pobre desditoso
    Sagravas uma ideia, uma saudade…
    Eu seria um instante venturoso!

    Mas não… ali no baile fascinante,
    Na alegria brutal da noite ardente,
    No sorriso ebrioso e tresloucado
    Daqueles homens que, pra rir um pouco,
    Encobrem sob a máscara o semblante,
    Tu não pensas em mim. Na tua ideia
    Se minha imagem retratou-se um dia
    Foi como a estrela peregrina e pálida
    Sobre a face de um lago…

    Gosta de Álvares de Azevedo? Conheça 5 livros góticos

    Se Eu Morresse Amanhã

    Se eu morresse amanhã, viria ao menos
    Fechar meus olhos minha triste irmã;
    Minha mãe de saudades morreria
    Se eu morresse amanhã!

    Quanta glória pressinto em meu futuro!
    Que aurora de porvir e que amanhã!
    Eu perdera chorando essas coroas
    Se eu morresse amanhã!

    Que sol! que céu azul! que doce n’alva
    Acorda a natureza mais louçã!
    Não me batera tanto amor no peito
    Se eu morresse amanhã!

    Mas essa dor da vida que devora
    A ânsia de glória, o doloroso afã…
    A dor no peito emudecera ao menos
    Se eu morresse amanhã!

    Gosta de Álvares de Azevedo? Conheça 10 poesias de terror

    Lembranças de Morrer

    Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
    Que o espírito enlaça à dor vivente,
    Não derramem por mim nem uma lágrima
    Em pálpebra demente.

    E nem desfolhem na matéria impura
    A flor do vale que adormece ao vento:
    Não quero que uma nota de alegria
    Se cale por meu triste passamento.

    Eu deixo a vida como deixa o tédio
    Do deserto, o poento caminheiro
    – Como as horas de um longo pesadelo
    Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

    Como o desterro de minh’alma errante,
    Onde o fogo insensato a consumia:
    Só levo uma saudade – é desses tempos
    Que amorosa ilusão embelecia.

    Só levo uma saudade – é dessas sombras
    Que eu sentia velar nas noites minhas …
    De ti, ó minha mãe! pobre coitada
    Que por minha tristeza te definhas!

    De meu pai… de meus únicos amigos,
    Poucos – bem poucos – e que não zombavam
    Quando, em noites de febre endoudecido,
    Minhas pálidas crenças duvidavam.

    Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
    Se um suspiro nos seios treme ainda,
    É pela virgem que sonhei… que nunca
    Aos lábios me encostou a face linda!

    Só tu à mocidade sonhadora
    Do pálido poeta destes flores…
    Se viveu, foi por ti! e de esperança
    De na vida gozar dos teus amores.

    Beijarei a verdade santa e nua,
    Verei cristalizar-se o sonho amigo …
    Ó minha virgem dos errantes sonhos,
    Filha do céu, eu vou amar contigo!

    Descansem o meu leito solitário
    Na floresta dos homens esquecida,
    À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
    Foi poeta – sonhou – e amou na vida.

    Sombras do vale, noites da montanha
    Que minha alma cantou e amava tanto,
    Protegei o meu corpo abandonado,
    E no silêncio derramai-lhe canto!

    Mas quando preludia ave d’aurora
    E quando à meia-noite o céu repousa,
    Arvoredos do bosque, abri os ramos.
    Deixai a lua pratear-me a lousa!

    Quer ler mais poemas do Álvares de Azevedo??? O livro Lira dos Vinte Anos reúne as suas poesias e você pode comprá-lo na Amazon!

    Share.