Crianças possuem praticidade embutida na ingenuidade. Se você é adulto e vem com esse papo de ingenuidade, saiba que na maioria dos casos ele será traduzido com desconfiança e mais algum adjetivo desagradável. O Jardim de Cimento (Ian McEwan, tradução de Jorio Dauster, Cia das Letras) fala sobre isso: até onde vai a ingenuidade infantil em tentar resolver uma delicada situação da melhor forma possível? E a melhor forma possível (que serve para muitos outros casos da vida) não é simplesmente procurar as autoridades e explicar a situação, pois algumas são inexplicáveis e fazem qualquer outro passo para tentar resolvê-la inexplicável também; impossível; surreal. E assim é a história das crianças Julie, Jack, Sue e Tom que tentam sobreviver ao abandono involuntário de seus pais.

 “Vi uma coisa hoje no jardim
que me chocou”, eu disse.
É mesmo?”, perguntou Julie. “O que foi?”
“Uma flor.”

Tudo começa quando o pai das crianças compra cimento para “circundar a casa com uma superfície de concreto”, porém, causas naturais da vida não permitem que a vontade do pai seja realizada e o cimento ganha outra função familiar.

Quem narra a história é Jack, então com 15 anos e passando por situações pertinentes à puberdade. Além deles há também o namorado de Julie que funciona como um ponto importante para que a vida dos quatro irmãos volte à normalidade social, porém ele chega tarde, quando os irmãos já têm um segredo difícil de ser explicado, mas que, por meio da narrativa visceral de Ian McEwan é possível compreender, pois, de certa forma, são as atitudes ingênuas e obscuras da família que mantêm a união dos irmãos.

A história é curta (136 páginas), porém repleta de acontecimentos (está sendo difícil escrever este texto sem um spoiler), mas posso utilizar como exemplo a minha mãe que não gosta muito de ler, tampouco ver filmes, ela simplesmente dorme, porém O Jardim de Cimento ela leu rapidamente, adorou a história. Talvez porque a mãe das crianças é uma das personagens mais importante, onde elas depositam suas atitudes incomuns, que as tornam vítimas de seus próprios instintos.

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