Na obra de Bernard Beckett, há a dualidade entre homem e máquina, criando assim uma serie de diálogos com uma certa “competição” de quem seria melhor.

    Distopias são sociedades futuristas concebidas sob a ideia de que o avanço, tecnológico ou não, em algum ponto tornou-se nocivo para essa sociedade. Valores morais, hierárquicos ou culturais são retorcidos, geralmente diante de um líder autoritário, para transmitir a ideia de que as previsões de futuro podem não ser sempre otimistas. Alguns exemplos:

    • Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, em que os livros são queimados e os televisores adorados, fazendo uma crítica direta a sociedade atual e a mídia;
    • Laranja Mecânica de Anthony Burgess, conta a historia de Alex, um menino violento criado em uma sociedade sem limites, essa que depois tenta reparar os danos usando métodos nada convencionais;
    • Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley, uma sociedade em que os seres humanos são gerados artificialmente e classificados em castas, na quais devem permanecer pelo resto de suas vidas;
    • Por fim, 1984 de George Orwell, que apresenta uma sociedade totalmente controladora e as tentativas de Winston de entender o lugar onde vive.

    De vez em quando, surgem algumas distopias novas que merecem nossa atenção: Gênesis, livro do Bernard Beckett publicado pela Editora Intrínseca (e que estava em promoção na última Bienal do livro de São Paulo, por isso que eu o li).

    O enredo do livro de Bernard Beckett

    O livro começa falando que a personagem principal esta em um exame para entrar na Academia, no qual ela teria quatro horas para defender uma tese. O livro segue essas horas como título de seus capítulos, “Primeira hora”, ”Primeiro Intervalo”. E ao decorrer dessa entrevista, Anax conta a história de como a sociedade “República de Platão” foi criada artificialmente em consequência das guerras que haviam antigamente (ela chega a citar conflitos como Estados Unidos e Oriente Médio).

    Ao longo das perguntas dos examinadores, chegamos ao ponto principal da sua pesquisa: Adam, um personagem muito importante que repercute toda a história daquela sociedade, pois em consequência de algumas atitudes, ele foi parar em um quarto trancado com um robô: Art.

    A relação entre Adam e Art expõe a dualidade entre homem e maquina, criando assim uma serie de diálogos com uma certa “competição” de quem seria melhor.

    Eu não sou uma máquina. O que uma máquina pode saber sobre o aroma da relva molhada de manhã ou sobre o som de um bebê que chora? Eu sou a sensação do calor do sol sobre minha pele; sou a sensação da onda fria que se quebra de encontro ao meu corpo. Sou os lugares que nunca vi, mas que posso imaginar quando meus olhos estão fechados. Sou o sabor do hálito de outra pessoa e a cor dos cabelos dela. Você zomba da pouca duração da minha vida, mas é o próprio medo de morrer que instila vida dentro de mim. Eu sou o pensador que pensa sobre o pensamento. Eu sou a curiosidade, sou a razão, sou o amor e o ódio. Sou a indiferença. Sou o filho de um pai, que por sua vez foi filho de outro pai. Sou o motivo do riso de minha mãe e a razão de seu pranto. Sou uma maravilha e sou capaz de me maravilhar. Sim, o mundo pode ir apertando botões à medida que passa através de seus circuitos. Mas o mundo não passa através de mim. Eu sou o meio pelo qual o universo teve consciência de si próprio. Sou aquela coisa que nenhuma máquina será capaz de fabricar. Eu sou feito disso: de significado.

    Bernard Beckett participou como pesquisador da Royal Society na investigação de mutações de DNA, trazendo assim para o seu romance questões genéticas além das sociais e cria uma distopia que merece destaque.

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