“Agora é que são elas é uma brincadeira com a mentira de escrever um romance redondo hoje. Essa visão redonda do século XX acabou. (…) O romance não é mais possível. Agora é que são elas é um romance sobre minha impossibilidade de escrever um romance”.  

    (Paulo Leminski em entrevista a Denise Guimarães. Nicolau, Curitiba, ano III, n.19.)

    Discordo veementemente de Leminski: Agora é que são elas? Que romance! Devorei em poucas horas.

    Agora, concordo que destoa do romance convencional. Ainda bem. Não espero convenções morais e sociais desse curitibano. No livro, não há lógica nem senso temporal, tudo acontece ao mesmo tempo e as cenas fluem como em nossa cabeça, com memórias, insights, indagações, agonias. Nem o próprio narrador sabe como de fato cada coisa acontece,há uma mistura entre ficção e realidade. Será que foi um sonho? Qual parte era verdade? Foi ontem ou semana passada?

    Poucos capítulos e poucas frases

    Dividido em curtíssimos capítulos, alguns com poucas frases, o livro trata da história de um personagem sem nome que queria ser médico (mas virou astrônomo) e sua paixão arrebatadora por Norma, a filha de seu analista, Vladimir Propp.

    De Norma, me lembro bem. Como esquecer com quantas bocas se faz uma daquelas, aquela multidão de abismos em que ela consistia?

    Tem fogo? É assim que Sem Nome e Norma se conhecem. A partir daí, os personagens se encontram em diferentes cenários e idas e vindas no tempo, principalmente em uma super festa que não comemora nada e  em uma suposta guerra no cosmos. A história é um recorte, sem final, sem explicação (como costuma acontecer na vida real).

    Um livro que pega o leitor de surpresa

    Talvez daí Leminski tire essa história de não saber escrever romances. O livro pega o leitor de surpresa, quando você menos espera, vira a página e o livro acaba. Por conta disso também a obra recebeu muitas críticas, inclusive de amigos do autor, que disseram não conseguir passar da metade.

    Pra mim, pegar uma obra dele da estante significa deixar o normal de lado e se perder em passagens intensas, repletas de figuras de linguagem. Gosto do jeito que descreve as pessoas e situações, tornando tudo único, mostrando a pequenez das nossas grandes preocupações diante do universo. Agora é que são elas pode até não ser um romance, mas que é espetacular, não há discussão.

    “Morrer é apenas umas das coisas que podem acontecer com a gente. Talvez a menos importante. Uma mera formalidade.”


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