Sábado (Ian McEwan): um livro sobre perdão

Eu nunca li completamente um livro que falasse sobre um dia na vida de alguém (Mrs. Dalloway e Ulisses [são os que eu conheço]) mas não acredito que por compartilhar da mesma premissa Sábado, de Ian McEwan, eles sejam semelhante: os acontecimentos do livro não se desenrolam em qualquer mero dia de qualquer mera pessoa. A começar que o protagonista é um neurocirurgião, o que descarta o item pessoa comum. Também por se tratar dum dia histórico na Inglaterra contemporânea onde há uma manifestação pública com mais de um milhão de presentes (te lembra alguma coisa?) contra a guerra do Iraque. Não só por estes, mas por outros fatores que se pode averiguar na leitura.

Sábado (Ian McEwan): um livro sobre perdão

O protagonista é Henry Perowne (acho todos os nomes de protagonistas de McEwan tão sonoros) e mais do que suas atividades corriqueiras acompanhamos mais avidamente suas divagações a respeito de determinado fato que ele presencia, como a simples descrição comentada de uma loja de peixes; suas recordações, de quando conheceu sua esposa ainda como médico inexperiente; seus anseios para o futuro como também seus planos para a família.

No Sábado em questão, Henry Perowne está de folga do hospital e é surpreendido por uma imensa felicidade e agitação às 3:30 que o tira da cama. Será um dia marcante na vida de Henry, não que a essa hora do dia ele já o saiba. Os sentimentos que lhe são despertos quando as horas já estão avançadas noite adentro também mexerão com o leitor. Haverá um momento em que cedo ou tarde, há de separar a leitura e meditar sobre as atitudes tomadas no desenlace do ápice (os quais são spoiler e eu não contarei).

Os filhos de Henry também têm sua personalidade explorada. A filha mais velha está engrenando na carreira literária, já possui alguns prêmios e tem o avô como patrono – um poeta aposentado. As passagens em que a narrativa tem foco na vida da filha e discussões sobre literatura são debatidas são tão instigantes como o tema principal, que só é revelado quase no fim do livro.

A personagem parcamente descrita acima participa dum prelúdio do assunto que o livro trata: perdão. O avô que sempre ajudou a filha na carreira literária, em certa ocasião, passa a sentir inveja da neta e desencadeia uma discussão que acaba por criar um hiato na relação de ambos. O Sábado é uma data em que foi marcado um jantar para as pazes de ambas as partes (agora que a neta publica seu primeiro livro).

Achei esse livro o mais “maduro” de McEwan, porque não há morte ou um casal separado como desenlace. É uma questão que pode ser polêmica até certo ponto. Perdão não é algo simples. Ainda mais levando em conta o que impulsionou esse perdão a ser dado, que é o prato principal do livro.

Eu gostaria de saber do que acharam da decisão do protagonista, aqueles que leram o livro.

Leia as resenhas dos outros livros do autor:

Onde Comprar Sábado – Ian Mcewan: Amazon

Respostas de 7

  1. Engraçado como muitas vezes o livro que estamos lendo esbarram em questões do cotidiano, né? Sempre acontece.

  2. Gosto muito de histórias que se passam em apenas um dia, culpa de Mrs Dalloway, claro. Gosto, principalmente, pela sensação de saber o quanto 1 dia na vida pode significar.

  3. Me interessei muito pela história!
    Nunca li nada do autor, mas ultimamente estou muito curiosa sobre a escrita dele e suas histórias.
    Seu post me deixou com muita vontade de descobrir o spoiler rs
    Beijos

  4. Mell, Ian McEwan é maravilhoso!!! O mais conhecido dele é Reparação (por conta do filme Desejo e Reparação). Eu gosto muito de Serena, o último lançamento dele, É INCRÍVELLLL!!! 🙂

  5. Já baixei esse no Kindle, Fran! hahahaha Fiquei sabendo que é bem conhecido, e um dos melhores na opinião de uma amiga. Super curiosa! Preciso só achar “tempo” para lê-lo rs Depois quero justamente ler Serena. E agora, em terceiro lugar, Sábado 😉

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