Esperei por quase dois anos “O Pintassilgo”. Ele já chegou e escrevo essa resenha no momento em que o terminei de ler. Olhando para trás fico surpreso como o tempo passou rápido. Espero que os próximos treze passem mais rápido ainda para que o Tartt seguinte chegue – e mesmo que Tartt seja minha autora favorita, não chegaria ao ponto de viver em função de sua obra. O seu terceiro livro pode ser consumado nessas poucas linhas: o balanço que alguém fez sobre sua vida até um determinado momento. Os momentos bons foram suficientes para neutralizar os ruins? O saldo foi positivo? Uma espécie de “Das Negativas” do meu querido Brás Cubas.
Woody Allen disse por meio de seu personagem em Annie Hall que era aficionado em livros cuja capa estampassem a palavra morte ou tratassem do tema, inclusive fazia sua namorada lê-los aos montes. Eu substituiria essa cena ou colocaria um flash subliminar de Donna Tartt ou de um de seus livros, este último com uma ênfase maior. E mais uma vez tentando colocar O Pintassilgo em poucas palavras, ele é um livro sobre a morte. Como ela nos molda até mais que nossa própria vida.
Comparo muito a obra de Tartt com O Apanhador no Campo de Centeio. Os três livros de sua autoria são sobre personagens que de certa forma não conseguem se conectar com o mundo que lhes é externo. E essa solidão permeia o livro de uma melancolia que é refletida na forma de escrita. Muitas pessoas reclamaram do livro, assim como muitas fizeram com O Apanhador. Me assusta que um grande “Ame ou Odeie” esteja presente em livros que tratam de temas tão delicados. Tanto o Apanhador como O Pintassilgo retratam personagens marginalizados nas relações sociais. Pessoas que não conseguem aceitar a vida como nos é dada. Que preferem ver algo a mais do que as sombras projetadas numa caverna. E não há nada de tão misterioso. Basta ler os livros para entender como aqueles personagens querem, no fundo, conseguir gostar da vida, e parafraseando Lars Von Trier “Perhaps the only difference between me and other people was that I’ve always demanded more from the sunset; more spectacular colors when the sun hit the horizon. That’s perhaps my only sin.” Espero que o que impele o repúdio a respeito desses livros seja o mesmo medo que transpassa os personagens. Essa é a minha defesa.
Acredito que a própria Tartt se defende em seu romance ao dizer que não são as pessoas que fazem a si mesmas. Seu livro é um verdadeiro ode ao Naturalismo. Traz uma questão similar ao “Livro Negro” de Orhan Pamuk (um de meus livros favoritos), o que nos faz quem somos, e se podemos chegar a divergir de tal projeto de vida que nos foi imposto. Não se deve julgar uma pessoa apenas como correta ou errada, como certo personagem diz no fim do livro; e é incrível que isso aconteça quando todos nós possuímos o mesmo denominador na vida, que pode ser resumido numa última citação, dessa vez de Louie C. K. “A melhor hipótese que podemos esperar sobre a vida é que achemos alguém com quem cheguemos a viver 70 anos pra no final um dos dois ver o outro morrer.”
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