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[Crônica] O brilho dos olhos

Toda sexta-feira ela acorda mais disposta. É o que a mãe dela diz ao ver seus olhos brilhando pelo monótono café da manhã – sem cor – pão integral, queijo branco, um suco estranho. “Mas se ela está feliz é o que importa”.

A mãe dela prepara o chá, com bastante gengibre e açúcar. E também acordou muito mais cedo para fazer um pão. Aquela receita aprendida com a sua antiga vizinha, daquela época em que ela morava em outra casa e que sua filha, Cláudia, que se encontra sentada mordendo o queijo branco, não existia. E ela sente saudades.

Mas a Cláudia, depois do café da manhã sem cor, vai para a academia. Passa, diariamente, duas horas por lá. Um dia é perna, outro é braço. Ás vezes tem aula de bike, é o que ela tenta explicar sempre para a sua mãe.

Seus olhos continuam brilhando após a academia, que hoje se estendeu a um almoço “no shake” com algumas amigas. Chegou em casa no final da tarde, porque antes lembrou que era aniversário do seu cachorro, o Pimpo, e trouxe para ele uma nova coleira, com algumas bijuterias penduradas. Parece que ele não gostou. Ela aproveitou para postar a foto no Instagram com a legenda “meu Pimpo, meu amor” e vários corações. E ficou desapontada porque a foto só recebeu 53 likes. Mas seus olhos permaneciam com um brilho, que em alguns momentos era possível de acreditar que era desejo de viver; e de estar vivendo.

A noite chegou trazendo várias mensagens no WhatsApp. Algumas coisas interessantes; fotos engraçadas, outras nem tanto. É sempre assim.

Ela tomou um banho especial, usando os óleos que comprou na última BlackFriday. Óleos com essências especiais, que custam muito mais barato nos EUA e aqui é uma fortuna, ela sempre diz.

Os seus olhos ainda brilhantes, como de uma pessoa que vive feliz, permaneceram assim durante a visita nos canais de maquiagem e humor do YouTube, enquanto a máscara para o rosto fazia seu efeito milagroso. Depois, ao olhar novamente as mensagens no celular, decidiu que não iria fazer nada. O melhor é dormir porque amanhã tem “personal”. Escreveu para uma amiga.

Havia um livro ao lado da cama “Aprenda a ser feliz em 30 passos”, que ela leu até a página quinze. Antes de adormecer, antes de mergulhar no profundo sono, os seus olhos, que permaneceram brilhantes durante todo o dia ganharam a escuridão. No momento houve uma verdade tão grande. Ela dormiu.

Francine Ramos
Dezembro/2014

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