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O livro de areia (Jorge Luis Borges): uma combustão literária

Entre tantas ideias sobre o que é literatura, é importante considerar que uma das funções da arte literária é trazer mais perguntas que respostas e isso Jorge Luis Borges faz muito bem. No “Livro de Areia”, composto por 13 contos do autor, é possível perceber um certo ar de fábulas, como se o autor quisesse – de uma forma muito mais moderna – fabular a história das pessoas, do mundo e da própria arte.

O livro de areia
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Quando comecei a ler o livro, procurei anotar as primeiras impressões, como sempre faço, porém, a leitura dos contos são capazes de te transportar para lugares tão inusitados e profundos, que qualquer busca para tentar explicar o que é ler Borges se torna patética.

Portanto, porque sou guerreira e não desisto, estou aqui escrevendo essa quase-resenha, mas que, no fundo, são apenas breves considerações sobre o que aconteceu comigo após esse primeiro contato com o universo de Borges.

Eu posso dizer que em seus contos o universo e a crítica sobre a literatura se fazem presentes. Eu posso dizer também que suas definições sobre tempo, espaço, narrador e personagens são totalmente questionadas quando se lê Borges, pois ele consegue apresentar algo extremamente original, mesmo mantendo uma certa erudição, que tem essa fama de antiquada, que cheira mofo, mas Borges…ah! O Borges é uma das coisas mais originais que você pode encontrar no universo da arte, amplifico a arte como um todo, porque ele vai muito além da literatura.

Uma estrutura única

No “Livro de Areia” encontrei uma única unidade que pode ser um caminho para pensar sobre os contos. Acredito que os livros de contos possuem uma estrutura única, que conecta o primeiro conto ao último, mesmo que cada conto contenha histórias diferentes. Então, do primeiro conto chamado “O outro” ao último, que dá nome ao livro, existe uma busca pela arte, por descobrir o momento perfeito, o tempo mágico e a literatura em toda a sua plenitude. Em Borges, personagens, narradores, ficção e não-ficção se misturam, o que pode constituir o que todos chamam desse tal labirinto e, por mais nebuloso que seja, é um lugar muito bom de se estar, pois, no mínimo, tira o leitor do lugar-comum.

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Assim, além dessa unidade que permeia todos os contos – a busca da epifania e de algo que realmente contemple a beleza do mundo é algo motivador para alguns personagens e narradores dos contos. É possível descobrir que buscar por algo que ainda não tem nome é impossível e Borges sabe disso. E nos apresenta essa busca tão motivadora de diversas e incríveis maneiras. Talvez, e aqui mora a minha ingenuidade leitora, ele não sabia que a sua arte em si é essa tal perfeição.

Ainda falta muito para que seja possível definir alguma coisa sobre Borges. Mas, uma das grandes descobertas é saber que toda essa ideia confusa sobre o autor é comum até mesmo entre os mais eruditos. A gente caminha, caminha, caminha, caminha e não sai de seu labirinto.

Finalizo essa não-resenha com um trecho da autobiografia de João Silvério Trevisan que, comenta como foi, para ele, ler Borges:

“Aconteceu então uma combustão literária de altíssima densidade. Tanto os contos quanto os (menos conhecidos) poemas de Borges me fizeram perder equilíbrio e certezas. Eu tinha me deparado com um autêntico enigma literário, cuja simplicidade aparente escondia um bisturi que penetrava do intelecto até a alma. Passei a devorar sua obra, lia e relia certos contos, instigado pelo labirinto borgiano. Quanto mais familiar me parecia sua literatura, mais o fenômeno Borges me desnorteava com seu amálgama de erudição e poesia.”

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