Eu sou MUITO suspeita para falar sobre Edgar Allan Poe, pois ele foi um dos primeiros autores a me lançar para esta paixão que é a literatura. Mais do que isso, me apresentou o universo do terror, do suspense e dos contos policiais, de onde nunca mais saí.
Sua história pessoal é digna dos seus melhores livros. Nascido em 19 de janeiro de 1809, na cidade de Boston, foi abandonado pelo pai, perdeu a mãe aos dois anos de idade e deixado aos cuidados de amigos. Ao ser “adotado” por John Allan, um comerciante de Richmond, Edgar Poe foi enviado para estudar na Escócia e Inglaterra. Retornou em 1820 para os Estados Unidos e ingressou na Universidade de Virgínia, na qual se destacou em Línguas Românicas Antigas e nos vícios do jogo e do álcool. Entre idas e vindas nos estudos e nos trabalhos, se casou com a sua prima, Virginia Clemm, em 1836 (ela tinha treze anos na época do casamento). Em janeiro de 1847, Virginia faleceu em Nova York em decorrência da tuberculose, o que marcou o ano menos produtivo de Poe, durante o qual ele sofreu de profunda depressão e buscou socorro na embriaguez. De forma bem misteriosa, Poe morreu em 7 de outubro de 1849 em Baltimore, aos 40 anos, dias depois de ser encontrado na rua sofrendo de delírios.
Como mostra a sua biografia no site da L&PM, “Um espírito desequilibrado e uma alma atribulada fizeram Poe levar sempre uma vida de miséria e de desespero, mas senhor, ao mesmo tempo, da maior figura do romantismo americano e o mais universalmente conhecido dos seus escritores. Sua própria vida foi um desses romances vividos que fornecem alta matéria para os romancistas.” Bebendo nas fontes da literatura gótica inglesa do século XIX, foi dono de uma intensa produção literária, mesmo em situações tão adversas, além de ter sido ensaísta, crítico e jornalista. Não é à toa que influenciou grandes nomes da literatura mundial, como Conan Doyle (e seu icônico Sherlock Holmes), Agatha Christie (e seu detetive mais famoso, Hercule Poirot), G. K. Chesterton. Jorge Luis Borges etc.
Para mim, sua obra transmite as dores da existência humana: os amores perdidos, as falhas e fraquezas de cada um, a busca por consolo e afeto – às vezes por meios equivocados. Seus personagens, mesmo nos textos de terror, não são monstros, como poderíamos imaginar; pelo contrário, são homens que enlouqueceram após um trauma e que se entregaram à alguma maldade – são figuras reais, são pessoas que poderiam ser eu ou você, que está aí do outro lado da tela. Ao ler Poe, eu me identifico e me entrego à tristeza de suas palavras, mas também me encanto por sua genialidade, por este tesouro infinito que nos deixou.
Para comemorar seu aniversário de 210 anos, deixo um dos meus poemas favoritos escritos por Poe, mas poderia citar tantos outros, como o famoso “O Corvo”. Fiquem com a leitura de “Só”:
Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.
Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alterava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demônio, ante meus olhos.
E, Poe, onde quer que esteja, obrigada por fomentar o meu amor pela literatura!
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