Quem gosta de escrever, quem pretende escrever, quem tem curiosidade pelo universo da escrita, muitas vezes pode se perguntar: como criar uma personagem? Há muitas maneiras, mas algumas são fundamentais, pois é preciso refletir sobre os mecanismo que podemos adotar para conhecer nosso próprio personagem verdadeiramente.
Qual é a importância de uma personagem?
Uma boa história possui uma boa personagem e isso não significa que ela deva ser perfeita, mas sim é necessário que ela encante o leitor como se sua existência fosse real. É fácil construir isso? Não é. Por isso a necessidade de mecanismo para sabermos como criar uma personagem.
No livro “Escrever ficção – um manual de criação literária” de Luis Antonio de Assis Brasil, há um conteúdo minucioso sobre como criar um personagem que nos leva a reflexão: por que nos aproximamos das pessoas e por que o leitor vai querer se aproximar de meu personagem?
Segundo o autor, uma boa personagem salva qualquer história, ou seja, a personagem é o que mais importa em uma obra de ficção. E ainda ele nos dá uma dica: “os romances cheios de ações possuem uma tendência de trazer personagens inconsistentes, sem profundidade.” (p. 34). É claro que há exceções, como o livro “A paixão da nova eva“, de Angela Carter. No entanto, a habilidade dessa escritora (e tantos outros) de trabalhar com a consistência e a profundidade já a coloca no aspecto da artista experiente. E no caso deste texto, a pretensão é a reflexão para novos escritores.
Como criar personagens com profundidade e consistência?
É muito comum ouvirmos sobre a profundidade da personagem, sobre sua capacidade de agir e provocar no leitor grandes efeitos, como de se colocar no lugar da personagem, não por suas ações, mas sim de seus sentimentos e confusões a partir de suas decisões.
Segundo Antonio de Assis Brasil, no livro já mencionado, profundidade e consistência caminham juntos e “causam uma tridimensionalidade nas relações do personagem com o mundo criado pela história.”
No livro “Teoria Literária”, de Antônio Soares Amora, há uma conclusão a respeito da realidade da vida e sua conexão com as obras de ficção. E, assim, conecta-se essa ideia de profundidade e consistência:
“Entre o conteúdo de uma obra literária e a realidade não há uma relação de igualdade mas, indiscutivelmente de equivalência; e a este propósito não é demais lembrar que, no fim das contas, a supra-realidade, porque produto da arte de ver e dizer, do escritor, atua mais profundamente em nosso psiquismo que a própria realidade.”
AMORA. Antônio Soares. Teoria Literária, p. 85
Ou seja, quando falamos de consistência e profundidade não falamos de consistência com a realidade, mas sim de uma personagem consistente e profunda dentro de sua realidade ficcional.
Construir personagens verdadeiros é essencial
“Não se aborreça. Você sempre escreveu antes e vai escrever agora. Tudo o que tem a fazer é escrever uma frase verdadeira. Escreva a frase mais verdadeira que puder.”
HEMINGWAY. Ernest, Paris é uma festa, p. 26
Somos feitos de profundidade e consistência e nisso mora também a nossa verdade. Assim, é muito importante pensar e elaborar mecanismo para criar uma personagem realmente completa. No entanto, não há fórmulas mágicas…. mas listar o que precisa ser feito do ponto de vista da reflexão para conhecer a personagem é essencial.
Dicas de como criar uma personagem
- Ao conhecer uma personagem, o escritor atinge mais segurança em sua própria escrita;
- Já dizia Hemingway: “criar pessoas vivas; pessoas, não personagens.”;
- Delinear as personagens: suas qualidades, virtudes e defeitos;
- Pensar e esclarecer sobre o que a personagem quer, quais são suas motivações e por que a personagem age da forma que age?
- DICA PRECIOSA, segundo Antonio de Assis Brasil, a motivação parece ser algo prático. O conflito mora nas profundezas psicológicas da personagem;
- Adquirir intimidade com a personagem:
- conviver com a história e anotar tudo;
- estabelecer o cotidiano da personagem;
- expôr características únicas, ou seja o que chama atenção física e psicologicamente;
- evite o clichê, por exemplo um personagem de olho azul ser visto como um anjo e um poço de bondades;
- criar contrastes sobre as qualidades e defeitos da personagem;
- a boa personagem tem características comuns a muitas pessoas, porém também tem características que a tornam única.
- usar a pergunta “por quê” até chegar em um beco sem saída, pois isso colabora com a problemática existencial da personagem;
- adicionar um evento raro na vida dessa personagem além de ampliar seu sentido de profundidade, colabora na construção do enlace do enredo com a personagem, pois um depende do outro.;
- Por fim, buscar impressões sensoriais a partir de uma constante observação, como também Hemingway dizia: “quando vir o peixe saltar fora da água, reconstrua todas as suas recordações até perceber exatamente qual foi a ação que provocou em você aquela emoção.”
Essa lista poderia se estender, mas a partir da leitura dos livros mencionados aqui, essas dicas de como criar uma personagem, se seguidas, podem colaborar com os jovens escritores. Aproveite!
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