Neste mês, a proposta da Livro & Café é abrir o leque sobre um tema comum: o casamento. É comum porque até mesmo quem está de fora tem algo a dizer sobre essa cerimônia social e a vida após o tradicional sim. Aliás, todos querem saber sobre como vai o casamento alheio, seja por uma preocupação genuína (o que talvez seja raro) ou para bisbilhotar a vida alheia como bem mostra as revistas de celebridades. Pensando nisso tudo, fiz uma pequena investigação sobre retratos da mulher no casamento pelo olhar da arte. Pesquisei obras de artistas clássicos sobre o tema e, com tanta variedade estética, encontrei algo em comum: as mulheres com seus olhares baixos, nas obras mais antigas e depois com seus olhares altivos, nas obras mais modernas, porém ainda demonstrando um certo tipo de sofrimento.

    O casamento em um passado não tão distante assim…

    Em 1863, o artista russo Vasily Pukirev (1832 – 1890) apresentou sua obra “Casamento desigual”. Na obra, facilmente podemos perceber o olhar baixo da noiva e os olhares curiosos, perversos, maliciosos e condenadores dos homens. A cada vez que olho nos detalhes dessa imagem, me sinto mal, pois sei que até mesmo hoje em dia o casamento ainda é uma relação comercial e violenta no qual a mulher é o produto.

    No mesmo século, na obra do pintor francês Auguste Toulmouche (1829-1890), podemos perceber que no abraço, a mulher não possui nenhuma possibilidade de reação, uma vez que seus braços – além de não abraçarem, estão presos pelo abraço do homem.

    Em períodos próximos, obras com mulheres de olhares confiantes e outras obras ainda com o olhar para baixo.

    Quando pulamos algumas décadas, é possível perceber uma mudança nos retratos da mulher no casamento, nesse comportamento homem e mulher. Encontrei em algumas obras do americano Clarence Frederick Underwood (1871 – 1929) olhares e posturas que demonstram mulheres em outros ambientes sociais, como se participassem mais da vida social com suas próprias ideias e falas. Acesse esse link para conferir outras obras do autor, pois, olhando o conjunto de fotos, dá para perceber mais essas mudanças.

    Mas é claro que mudanças não são simples e padronizadas. No mesmo período, o casamento ainda era representado como uma situação de submissão. Um exemplo é a obra de Gari Melchers (1860 – 1932) chamada “O Casamento”.

    O casamento no Brasil tradicional, mas do povo

    A brasileira Tarsila do Amaral (1886 – 1973) também registrou o casamento em sua arte. A obra, datada em 1936, revela o casamento no Brasil do povo campo, sem os holofotes da burguesia.

    Retratos da mulher no casamento e a contemporaneidade

    E, caminhando no tempo, a arte se transforma, assim como a sociedade. É tempo de revolução social, cultural e sexual, pois temos a chegada da pílula anticoncepcional (vale a pena ler essa matéria na Nexo) e os movimentos sociais e políticos se intensificaram. Portanto, é difícil escolher apenas uma imagem que represente o período, mas até mesmo o fato de que as mulheres começaram a ter suas profissões e, assim, também retratar o casamento em suas artes, é muito importante destacar a artista Frida Kahlo (1907-1954). Ela transformou sua vida em arte. Em meados de 1936, Frida pintou “Meus avós, meus pais e eu.” Avós e pais cumprindo a função social do casamento e da família. Ela, ainda uma criança, nua e sozinha (apesar de ter casado e vivido uma vida fora das regras sociais).

    Ao pesquisar o casamento nos anos 60, encontrei a obra da artista Bela Kondor (1931 – 1972). Com uma estética totalmente diferente, ela traz o casamento de uma forma oposta aos artistas que eu havia pesquisado antes. Gostei das cores, da posição do homem e da mulher (ela maior, ele menor), apesar do rosto da mulher ainda expressar uma certa tristeza.

    O passado é sempre uma boa maneira de entender o presente e transformar o futuro em algo melhor. Portanto, fica a pergunta: qual obra de arte representará os tantos tipos de casamento do século XXI?

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