Em O Castelo, o personagem principal chama-se K. (é o mesmo personagem do romance O Processo). Tudo começa quando ele vai até uma cidade para trabalhar como agrimensor. Porém a vaga de agrimensor, segundo o prefeito da cidade, foi um erro da confusa burocracia local que não conseguiu cancelar a tempo.

    K., um sujeito irônico, engraçado e determinado, quer entender o que aconteceu com o seu emprego de agrimensor e parte, então, para a aventura de conhecer verdadeiramente as pessoas que moram naquela vila, onde há neve até no verão e gralhas sobrevoando o ponto mais alto da cidade – o castelo, o poder. Mas tudo parece em vão, cada passo de K. eleva tudo o que está em sua volta a um complexo jogo de histórias contadas e interpretadas de inúmeras maneiras.

    o castelo

    O narrador é onisciente, porém, há frases em diálogos tão longos ao ponto de esquecermos do narrador e acreditarmos que o romance está em primeira pessoa. Talvez isso seja proposital, pois também nós, como leitores, ficamos confusos, sem saber em qual história acreditar. Até que K. retoma na narrativa como defensor da história mais coerente, o que nos faz torcer pelo personagem até o final.

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    Interessante a questão do poder na história. Klamm é o personagem poderoso, ele é um funcionário importante do castelo, como se fosse um secretário de uma prefeitura. Frieda, é a balconista de um albergue onde os homens importantes da cidade (funcionários de Klamm e do Castelo) passam as noites e também se divertem no bar, e o mais importante, ela é amante de Klamm, ao ponto de se sentir orgulhosa por ocupar esse posto, ao ponto de causar inveja, e o mais bizarro, respeito perante todos os moradores da vila.

    Há uma outra mulher, Amália, que, justamente por ter negado ser amante de um outro homem tão importante quanto Klamm, vê sua família perder os amigos, o prestígio profissional de seu pai, o futuro bom para seus irmãos e a própria felicidade.

    Por fim, Franz Kafka mostra uma história que poderia ser completamente o avesso de uma sociedade, porém, a nossa realidade de estrutura política, econômica e social fica muito bem evidenciada na história de K., e o que era para ser o bizarro, se torna o comum. Uma pena a história obscura e confusa de Franz Kafka ser tão real quanto a estrutura política de nosso país.

    Palmas, muitas palmas a esse escritor fantástico, tão à frente de seu tempo, do nosso tempo, que fez da arte literária um lugar para discussão da realidade em que vivemos, e esta pode ser tanto externa, quanto interna, afinal, K. não buscava apenas um emprego de agrimensor, mas também a sua identidade pessoal.

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    6 Comentários

    1. Kafka é meu autor preferido.
      Não sou muito de andar comentando em blogs, mas logo vi que boas leituras são feitas aqui.
      Parabéns pelo fino gosto literário.
      Abraço

    2. Obrigada, Thiago! A literatura é como uma escada infinita, sempre é necessário subirmos mais um degrau rumo aos gênios da literatura. Beijos!

    3. Jáder Santana on

      Interessante a resenha e a trama parece curiosa. De Kafka li apenas “A Metamorfose” e gostei muito. Tenho “O Processo”, que nunca saiu da minha estante, principalmente depois que alguém me disse que o livro é desinteressante e de leitura pouco fluída. Você já o leu? O que achou dele? Abraços!

    4. francineramos on

      Oi, Jáder! A Metamorfose eu já li também, é muito bom! “O Processo” ainda não li, mas se tratando de Kafka e por já ser um clássico, não consigo acreditar que o livro seja desinteressante, acho que vale à pena ler! 🙂 Bj

    5. thiago montini rabelo on

      tem como você me falar qual e a característica do modernismo presente no livro pfvr

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