Carlos Drummond de Andrade é uma das minhas lembranças preferidas do colegial, pois eu tive um professor de literatura que pedia aos alunos para declamarem poesias, com direito a cenário, figurino, espectadores e tudo mais. Lembro-me de uma amiga declamando “No meio do caminho tinha uma pedra”, para nós, adolescentes, essa poesia fazia tanto sentido, como se fosse o nosso direito zombar da poesia e declamar o nada da pedra, do caminho, do meio.

    E hoje, quando repenso nessa poesia, que a estudei para a aula de Teoria da Literatura, percebo o quanto pesado é o meio, o caminho e a pedra. Quando adolescentes, somos o início da poesia, o impulso de criar, de fazer a vida acontecer sem ao menos saber o que ela é. Me lembrei agora da garota suicida dizendo ao médico “claro que você não sabe o que é ser uma garota de 13 anos, porque você nunca foi”. A bolsa, a vida, talvez seja isso, o ser em qualquer forma ou idade, com a possibilidade de transformar vazios em grandes obstáculos para olhos repletos de coragem, força e luta.

    A Bolsa e a Vida é uma coletânea de crônicas de Carlos Drummond de Andrade. Logo de cara fiquei em estado de êxtase ao ler o primeiro parágrafo, pela beleza da frase, a colocação das palavras, a gramática, enfim:

    “Jamais na minha vida achei na rua ou em qualquer parte do globo um objeto qualquer. Há pessoas que acham carteiras, joias, promissórias, animais de luxo, e sei de um polonês que achou um piano na praia do Leblon, inspirando o conto célebre de Aníbal Machado. Mas este escriba, nada: nem um botão.”

    p. 11

    Nesta frase, Drummond, revela a sua pedra, o nunca encontrar nada, nem um botão. E as outras crônicas do livro seguem essa linha de encontrar, buscar e principalmente, como característica de sua obra, provocar. Na crônica “Nascer”, por exemplo, Drummond critica o Brasil:

    Gostaria que todos tivessem acrescentado alguma pequenina riqueza ao país, neste período. O governo deu duro? Fizeram-se descobertas, escreveram-se livros, criou-se? Ou apenas trabalharam os casais novos?”

    Desde o início deste ano, A Bolsa e a Vida é o meu livro de cabeceira. À noite, quando os olhos estão cansados e a cabeça ainda pensante, é uma crônica de Drummond que minha mente admira de forma que, no dia seguinte, durante os cafés, ela vai se revelando, como pedra, como caminho, como meio.

    Carlos Drummond de Andrade é uma de nossas principais joias literárias. Confira mais sobre o autor e seus livros:

    A Rosa do Povo (Carlos Drummond de Andrade)

    Boitempo (Carlos Drummond de Andrade): uma bela composição da vida

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