Quando mudanças sociais acontecem bruscamente, pode acontecer de apenas um fenômeno cultural manter o que a sociedade considera especial, merecedor de cuidados extras. Rosane Coss, a personagem principal do romance Bel Canto, escrito pela americana Ann Patchett, é uma cantora de ópera e a única que, mesmo depois de ser sequestrada, mantém um domínio sobre o ambiente inusitado que surge em sua vida, como se a arte – a música dela – permanecesse num lugar supremo, muito maior que cargos políticos e fortunas bancárias. A arte sempre vence?

    O enredo da obra

    Tudo começa com a festa de aniversário de um importante empresário japonês, o Sr. Osokawa, que ganha a festa em outros país, organizada pelo presidente.

    A operação dos bandidos que tinha tudo para ser um sucesso (sequestrar o presidente), fracassa assim que o presidente, de última hora, toma a decisão de não comparecer à festa. Assim, os sequestradores, ao invadirem a festa, não o encontram, e resolvem manter as pessoas importantes da festa como reféns: políticos, empresários, Roxane Coss, um poliglota e um padre (que pede para ficar).

    Num ambiente de sequestro coletivo, enquanto todos estão no mesmo patamar independente do nível social, a conta bancária, a crença, a língua, a personagem Roxane Coss consegue manter, por meio da música, as regalias necessárias para manter a qualidade do seu trabalho. Uma cama especial, alimentação diferenciada e a sua voz expandindo nos salões da mansão sequestrada deram a ela a sensação de que aquela vida no cativeiro era possível. Sensação também sentida pelos outros prisioneiros.

    O período de negociações se estende ao ponto da mídia não se importar mais com o que está acontecendo com a mansão sequestrada e também ao ponto dos reféns não sentirem mais medo da morte e até gostarem da vida em cativeiro. Sequestradores e sequestrados se confundem, se unem… e pensemos nos vários motivos que mantém as pessoas no lugar onde estão, o comodismo, por exemplo; o conforto, um outro; e o medo, mais um. Que mais?

    História romântica?

    A capa do livro informa que ele é “o mais romântico escrito em anos”. Com essa propaganda, esperei por uma história de amor romântico e felizmente a história da cantora de ópera caminha por trilhos diferentes. Tanto ela quando os outros personagens buscam uma vida verdadeira durante o sequestro. O viver trancados naquela casa evidencia muito mais situações de generosidade a amor romântico.

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    O leitor pode se apaixonar pela história com um todo, o desenrolar das negociações, as atitudes belas de cada personagem que transformam o ambiente duro num lugar possível de viver. Um belo livro, ao ponto da certeza da beleza da voz de Roxane Coss nos acompanhar por toda a leitura, e depois também.

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