O que admiro em contos é a precisão da narrativa, pois é um gênero que obriga o escritor a ser objetivo e fazer da própria narração parte da beleza da história. Desta forma, com a sintaxe empregada no texto, a leitura fica prazerosa e cumpre o seu objetivo: entreter, emocionar e fazer pensar num curto espaço de tempo e folhas.

Katherine Mansfield dizia que, num conto, sempre alguma coisa vai ficar de fora. Caberia ao autor saber o que deve ser excluído ou não, como colher os melhores frutos de uma árvore. E, nessa tarefa, Gustavo Melo Czekster foi feliz na sua estreia literária. O Homem Despedaçado é um deleite para quem gosta de narrações precisas e objetivas empregadas à complexidade do cotidiano.

A estranheza nos contos

A coletânea de contos é dividida em três partes e tratam de um tema em comum: a tentativa do homem em se encontrar em pequenos fragmentos. Algumas vezes espalhados em seu lado mau, outras em seu lado bom, como o caso do conto, que leva o próprio nome do livro, que o narrador explica a situação de se imaginar dividido e manipulado por um espelho quebrado. No conto Buraco Negro, por exemplo, assistimos à tentativa do narrador em buscar uma justificativa romântica para a sua crueldade. Temos também os contos ambientados na guerra que trazem boas reflexões a respeito da fragilidade da vida.

O livro fica marcado por sua inusitada estranheza, como as moscas, tão nojentas, de encontro com o que poderia justificar a nossa existência. Assim, é impossível não lembrar de Franz Kafka, da literatura fantástica e do surrealismo em meio às situações do cotidiano relatadas por Gustavo Melo Czekster, nascido em 1976 em Porto Alegre, advogado e mestre em literatura comparada.

Literatura nacional de qualidade

O Homem Despedaçado me deixou feliz por ver a literatura nacional bem feita, com a dedicação que merecemos e queremos sempre. 

Caminho pelas ruas da cidade e as pessoas me olham estranho. Tomara que não percebam que as considero menos que lixo, elas e seu obscuro desejo de se juntarem como moscas.

O homem despedaçado, p. 51.

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