Adoro o tempo nublado, é sereno, tudo fica lúgubre e com um ar de profundo. No mais eu estava mal, mesmo com um tempo que eu admiro. Lembrei que tinha Fingidores (do escritor brasileiro Rodrigo Rosp) ainda a ler. Parece coisa de Emplastro Brás Cubas*, mas o livro possui uma narração ferina e um protagonista tão adorável que você vira pro remédio e diz: por que seu efeito é tão curto? Como dizia nosso Brás: Por que bom se curto? Por que curto se bom? Entretanto, a qualidade supera muito o tamanho.
O livro é um piada
Além da história de uma excelente qualidade, o livro de Rodrigo Rosp possui algumas fotografias, todas no mesmo estilo da capa, e os modelos das fotos mudam seu humor de acordo com o que acontece no livro. Se bem que se fosse por mim eles ririam até morrerem sufocados nas últimas páginas. Isso porque o livro fala da morte através do cômico. Como dizia o Comediante: a vida é uma piada. O livro expressa bem esse sentimento: só que por trás de cada risada fica uma neblina de um frio cortante e a certeza, a gente também vai passar por isso. E fica nesse eterno ciclo vicioso, rir ou não rir da morte?
É um teatro, dito tardiamente, por isso as várias fotos dos modelos espectadores. E aqui ou acolá nos deparamos com trocadilhos interessantíssimos, tanto com as formas do teatro como com os finais dos capítulos, onde as cortinas se fecham.
A história
O leitor acompanha por alguns anos a vida do incrível Caio, ele é ácido, e adora desmanchar os estereótipos que a sociedade usa pra lidar com a vida, tanto é que o livro se chama Fingidores, e a epígrafe é: To a Century of fakers. E isso fica bem evidente nos inúmeros diálogos (já que é um teatro) travados com os mais hilariantes personagens. O meu favorito é o do dentista assassino que assusta pacientes com aquela temível mini broca, que de mini não tem nada. Também há o arquétipo daqueles velhos conhecidos que se despem de suas máscaras e revelam: Eu sou a morte. Daí o leitor imagina o quão sortudo é o protagonista do livro: tem uma bagagem intelectual riquíssima pra poder arcar com os incríveis diálogos e ainda tem um amigo que é a morte! Eu seria plenamente de bem com a vida, mesmo sem os dois pilares principais que Freud estabeleceu para uma boa estadia na Terra – que é um dos temas abordados no livro: o que é uma vida plena?
Meu psicólogo diz que toda forma de prazer é única, desde a sexual até a que temos ao ler um bom livro. E por evitarmos acabar um livro, entende-se que queremos evitar o ápice do orgasmo; mas o fato é que haverá outras ocasiões similares, não há necessidade dessa economia. Mas enquanto eu não consigo mais livros do mesmo autor, eu vou guardar o último capítulo como um Emplastro Brás Cubas.
*No livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, o defunto-autor Brás Cubas, tem a ideia fixa de conquistar a fama atrás de seu produto, o Emplastro Brás Cubas, um medicamento que solucionaria todos os “males do espírito”.