Kafka à beira-mar é um livro que possui todos os aspectos das obras de Murakami: uma trama insólita com doses oníricas, personagens peculiares e lendas orientais.

Divido entre dois protagonistas, os capítulos se alternam sistematicamente. O primeiro deles e o mais interessante é o de Nakata, um senhor na casa dos sessenta que tem o poder de conversar com gatos.  Nakata quando criança sofreu um trauma que o deixou, como o próprio personagem diz “fraco da cabeça”; desde então, não conseguiu mais ler ou desenvolver muitos dos aspectos cognitivos normais, de tal modo que se viu à margem da sociedade e das grandes aspirações para com a vida, embora tenha adquirido a habilidade de conversar com gatos, que tornaram seus companheiros a partir deste ponto.

A outra parte da narrativa foca-se no jovem de quinze anos denominado Kafka, que foge de casa para não se ver sob a sombra de uma terrível profecia feita por seu pai. O personagem de Kafka é sorumbático e pouco envolvente, de modo que a atenção dada a ele se resume aos personagens que o permeiam e com sua aparente relação com a história de Nakata.

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Uma habilidade para falar com gatos!

Em decorrência de sua habilidade para falar com gatos, Nakata tem como uma renda extra (já que recebe uma pensão do governador por ser deficiente mental) o trabalho de procurar gatos desaparecidos com a ajuda de informações terceiros [gatos], de forma que ao encontrar, recebe uma recompensa do proprietário do animal reencontrado. Tudo muda na vida de Nakata, inclusive sua habilidade de falar com gatos, quando ele consegue certo dia conversar com um cão que o leva até a casa do Sr. Johnnie Walker, um espectro que tinha a forma do ícone das bebidas. A partir deste episódio Nakata sofre severas alterações em sua personalidade, obtendo além disso, novas habilidades, como a de fazer chover peixes do céu (assim como os sapos no sensacional Magnolia); e a linha entre o Nakata com deficiência mental e o novo Nakata com surpreendentes habilidades se torna muito nítida, demonstrando um imenso contraste de ações de um mesmo personagem, o normal e o “possuído” por alguma força estranha ao leitor.

Um ponto alto que percebi no livro é quando Nakata se dá conta de sua anormalidade e sente um imenso desejo de ser uma pessoa normal, principalmente de poder ler e se esbaldar numa biblioteca, mas resignado e resiliente a sua própria condição, procura meios de ser feliz mesmo analfabeto e com certa deficiência mental.  O seu núcleo na história se desenvolve muito, com uma sutileza metafísica muito típica de Murakami, o que não pude observar na outra ponta na narração, de modo que considerei metade do livro de qualidade excelente e a outra, mediana.

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