Constelação de gênios – uma biografia do ano de 1922 (Kevin Jackson)

Em minhas andanças pela internet – e não me lembro mais em que site – encontrei um título de livro interessante que veio ao encontro de algumas coisas sobre as quais penso, como “enquanto Virginia Woolf escrevia, Salvador Dali pintava”. A obra é Constelação de Gênios. Uma biografia do ano de 1922, do escritor (editor, apresentador, professor e muitas outras coisas) inglês, Kevin Jackson. O lançamento no Brasil aconteceu neste ano. Nele, o autor traz mês a mês, dia após dia, os fatos acontecidos em um ano fantástico para a literatura, pintura, cinema, ciência, psicologia e diversas outras áreas, como um almanaque a ser consultado, ou lido do início ao fim!

Constelação de gênios - uma biografia do ano de 1922 (Kevin Jackson)

De leitura absurdamente fácil, o livro tem como cerne o que o autor considera o marco da modernidade: o lançamento dos livros Ulysses, de James Joyce, e A terra devastada, de T. S. Eliot. A tradução para o português peca em algumas regras gramaticais, mas são 567 páginas de fascinação e loucura, repletas de cenas épicas ou de bastidores desses personagens que foram de carne e osso e genialidade.

Abaixo, alguns momentos curiosos dessa época contidos na obra. Deleite-se!

  • James Joyce assim que lançou Ulysses, após mais de uma década de escrita, sofreu de “depressão autorial pós-parto”, segundo seus amigos próximos. Para comemorar a chegada dos exemplares da editora, eles saíram para jantar em um restaurante em Paris, mas lá Joyce mal tocou na comida, lançando de quando em vez suspiros amargurados;
  • Outro fato sobre Joyce, este nada a ver com a literatura, é que ele relutou muito em extrair todos os dentes após uma inflamação séria. Por fim, ele encarou o desafio e afirmou “tudo bem, eles não me serviriam de nada mesmo”;
  • Virginia Woolf odiou a leitura de Ulysses, considerando que “há gênio, eu acho; mas da água inferior”. Classificou a obra de “salobre, pretensiosa e malcriada”, e deu graças a Deus por não precisar resenhá-la;
  • Ernest Hemingway foi enviado para a Guerra Greco-Turca como correspondente do jornal canadense Toronto Daily Star. Ele foi jornalista em seu início de carreira. Hospedado em Constantinopla, padeceu horrores. Teve malária, perdeu peso significativamente e se encheu de piolhos. Ao despedir-se, a dona do hotel se desculpou pelos piolhos, mas acrescentou que, se não fosse o serviço da pousada, ele dormiria na rua, o que seria muito pior;
  • H. G. Wells, famoso por seus romances de ficção científica, sugeriu certa vez que seu epitáfio devia ser “Eu avisei, seus bobalhões”;
  • Voltando a James Joyce, ele tinha uma vontade imensa de conhecer o lendário Marcel Proust. Isso aconteceu em Paris, em um “jantar modernista”, em 18 de maio de 1922. Joyce apareceu embriagado e os dois tiveram apenas conversas tolas. Proust: “Você gosta de trufas?”, Joyce: “Gosto”. Após a morte de Proust, Joyce lamentaria profundamente esse episódio;
  • Charles Chaplin, um comediante já aclamado, resolveu se aventurar em um filme sério, Uma mulher de Paris. A crítica o elogiou efusivamente, mas o público não recebeu bem essa “seriedade”. A bilheteria não foi como se esperava e imediatamente Chaplin começou a pensar em sua próxima comédia. O público vencera;
  • O livro Sidarta, de Herman Hesse, faria sucesso somente quarenta anos após seu lançamento.  Foi bem recebido na década de 60, entre o movimento hippie;
  • Em 8 de fevereiro de 1922, Hemingway tomou chá com Gertrude Stein, a quem muito admirava. Ah, isso foi só uma curiosidade mesmo… E aproveito para recomendar Paris é uma festa, de Hemingway, que contém essa passagem e outras curiosas com o escritor Scott Fitzgerald.

Assim como o historiador Suetônio, que sabia muito dos bastidores do Império Romano – revelados na obra A vida dos doze Césares – Kevin Jackson também propõe, além dos feitos que já sabemos de 1922, revelações instigadoras, surpreendentes e exóticas. Datas, dados e fatos para consulta. Ou… devoração completa!

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