Uma seleção dos 5 melhores contos de Virginia Woolf retirados do livro “Contos Completos”, da editora CosacNaify. Uma escolha muito pessoal, uma vez que todos os contos da escritora possuem algum tipo de beleza….
Conto é um gênero literário mais complexo que uma crônica e mais simples que um romance. Tudo porque a história, em geral, se desenrola em apenas um núcleo, possui poucos personagens e, quando bons, causam no leitor a mesma sensação de ler um grande romance. Há uma particularidade especial nos contos, pois é preciso técnica, estilo e inteligência para levar o leitor, em poucas páginas a lugares e personagens profundos, intensos, verdadeiros.
Virginia Woolf, escritora inglesa que nasceu em 1882 e morreu em 1941, além de romances e ensaios, escreveu muitos contos, que, segundo ela mesma, servia para descansar entre um romance e outro e também, conforme descobrimos ao lê-los, que os contos podem ser também o início da inspiração, a espera do momento mágico em que a ideia mais forte vem para o escritor.
Abaixo está a minha seleção dos 5 melhores contos de Virginia Woolf retirados do livro “Contos Completos”, da editora CosacNaify. Uma escolha muito pessoal, uma vez que todos os contos da escritora possuem algum tipo de beleza. Então, ao leitor sempre cabe a análise pessoal, sendo este post apenas um registro das minhas escolhas, baseadas no que considero lindo na literatura: o estilo da escrita, os personagens e a que tipo de pensamento e reflexão o conto nos dá ao final.
O Diário de Mistress Joan Martyn (agosto/1906)
A narradora da história também é personagem no primero momento do conto. Ela é uma historiadora, que pesquisa objetos antigos a partir de visitas em casas de pessoas comuns. Sempre cabe a ela a pergunta “onde estão os livros antigos”, o que causa ao leitor uma empatia imediata.
Acontece que ela encontra, numa dessas visitas, o diário de uma mulher que viveu no ano de 1480. A partir da localização deste diário o leitor vai deixar de lado a personagem narradora e mergulhar, como se fosse junto dela, no universo de uma mulher da época elisabetana. Seus medos, anseios e o que os seus olhos viam: casas com grandes portões de madeira, a chuva, o inverno, o escuro da noite, o silêncio, casamento por conveniências financeiras, passeios em lindos jardins, as montanhas como paisagem, algumas canções e uma melancolia que se esconde no destino de Joan Martyn e o seu diário. É um conto primoroso, inteligente e inspirador.
O misterioso caso de miss V. (agosto/1906)
Aqui vamos ter uma narradora que em muitos momentos imaginaremos ser a própria Virginia Woolf, pois miss V. é uma mulher simples, quase invisível e que poucas pessoas conhecem. A partir de uma curiosidade da narradora, por ver a dama sozinha no canto de uma sala, ela decide ir à casa de miss V., com a intenção de conhecer mais sobre aquela mulher que parece uma sombra quando está junto de outras pessoas. Quem é que não conhece alguém assim?
A marca na parede (junho/1919)
Não há a presença de ações e personagens. O conto é feito de digressões sobre a vida, a humanidade, a guerra e o cotidiano, tudo a partir de uma marca na parede que, ao final, o leitor descobrirá o que realmente é. Há uma sensação de estar muito à vontade, quase como um ato de meditação e que, de repente, se tem uma verdade muito bonita nas mãos, ao abrir os olhos.
Mrs. Dalloway em Bond Street (julho de 1923)
Mrs. Dalloway é uma das personagens mais deliciosas de Virginia Woolf. Ela, que dá nome a um romance da escritora, além de ter um conto só dela, também está presente em outro livro, A Viagem, mas como coadjuvante. No conto, Clarissa Dalloway vai comprar luvas, no lugar das flores e, de novo, o que importa não é o ato em si, a ação dela, mas sim tudo o que acontece em sua mente, em sua alma, ao caminhar por Londres.
Ao terminar de escrever este conto, Virginia confessou a um amigo que acreditava que o conto não estava completo e ficou tão intrigada com isso que decidiu escrever um romance a partir da personagem que decide comprar alguma coisa. No caso do romance, as flores. Como não amar?
A dama no espelho: reflexo e reflexão (dezembro/1929)
Um dos contos mais belos e que mais trazem reflexões ao leitor, ou seja, o título não é algo apenas sugestivo, ele trabalha com profundidade nos passos da personagem Gabriela, uma mulher que é vista apenas quando o narrador a vê pelo espelho. Ela não abre suas correspondências há muito tempo e tem, aparentemente uma rotina normal e simples, mas lá dentro do coração, da alma, o que se vê é algo diferente, dolorido, mas que é preciso reconhecer. Há um post aqui no blog sobre o conto.