Charles Bukowski (1920 – 1994) é um escritor controverso, amado por muitos, odiado por um outro tanto de gente, por conta do seu estilo sujo, do submundo, da degradação do ser humano. De qualquer forma, se há amor ou ódio, o fato é que os livros dele são provocadores e nisto, goste ou não, é algo maravilhoso na literatura.
Muitas coisas que o velho Bukowski publicou já estão resenhadas aqui no blog, mas neste post, o foco é o pequeno livro “Traz teu amor pra mim e outros contos” (tradução de Joca Reiners Terron, editora WMF Martins Fontes, selo Livro da Raposa Vermelha ) que, além de três contos do autor, possui as incríveis ilustrações de Robert Crumb.
“Traz teu amor para mim” é o primeiro conto do livro. Apresenta uma mulher em um manicômio com o olhar fixo no nada e o seu marido ao lado, tentando conversar com ela. De um lado a loucura diagnosticada, de outro, um tipo de loucura permitida que, ao final, deixa o leitor um pouco confuso, pois o conto termina de repente, mas é fácil perceber a mensagem intrínseca em cada diálogo do curto conto: a mulher, o marido e outros personagens que aparecem na história, todos ali – loucos.
– Estarei aqui perto só por dois dias, Gloria – disse Harry com suavidade. – Trago qualquer coisa que você quiser.
– Traz teu amor pra mim, então – ela gritou – Por que caralho você não me traz o seu amor?Alguns pacientes se viraram para olhar. (p. 12)
O segundo conto, “Não tem negócio”, pode ser interpretado como uma crítica ao mercado editorial ou em qualquer outro ramo em que o artista precisa se reinventar para poder agradar o público e também os investidores. Durante uma crise financeira no país, um comediante sobe ao palco sem saber o que fazer e lá encontra uma plateia que também está perdida, raivosa e intolerante.
O último conto “Bop bop contra aquela cortina”, é sobre amigos que buscam diversão em um clube de strip-tease e, por isso, fiquei com medo de encontrar algo desagradável para as mulheres, porém, o velho Buk nos apresenta um diálogo muito bom entre os amigos, quando um, em sua ignorância, acha que tem direito de ofender uma mulher porque ela “abana o rabo na frente dos caras”, porém, a atitude do narrador e personagem, é um exemplo. Ele diz para o amigo: “Seu cuzão, você não tem direito de falar com ela dessa maneira!”.
Dos três contos, o que eu mais gostei foi realmente o primeiro conto, pois ele abre muitas possibilidades de interpretação, de acordo com o ponto de vista de três personagens muito diferentes. É claro que os outros dois contos possuem o estilo interessante e, sendo assim, o livro é uma ótima dica para quem quer conhecer o submundo da vida e da literatura de Charles Bukowski.