Um livro pode te fazer mal?

Chamamos de ressaca literária quando fica difícil escolher o próximo livro ou quando fica impossível terminar a leitura de um, mesmo sendo um livro muito bom. Por que isto acontece é um mistério, porém, ao se sentir assim, é importante que o leitor repense a suas estratégias de leitura e, talvez, também, da vida.

Estou assim: com ressaca literária. Comecei a ler alguns livros e não saí do primeiro capítulo. Os outros em andamento ficaram intocados e só de pensar em retomar a leitura, o que penso é: agora não, depois, outra hora, não quero. Das vezes que tentei, minha mente estava num lugar muito diferente da história que eu lia…

A minha primeira estratégia foi tentar um livro novo. Escolhi As Horas Nuas, da Lygia Fagundes Telles. Li o primeiro capítulo e achei o livro maravilhoso! A história, em fluxo de consciência é uma perola preciosa, mesmo. Porém, ao terminar o primeiro capítulo não sinto vontade de ler o segundo… então pensei: será que devo ler um livro mais leve? E junto deste pensamento, outras tantas perguntas povoaram minha mente:

  • Há um limite para suportarmos tantas leituras?
  • O quanto conseguimos absorver de um livro?
  • Ao ler muitos livros, é possível uma confusão no subconsciente?
  • Ler é garantia de inteligência?
  • Ler é garantia de não ser ignorante?
  • Ler é garantia para não ser preconceituoso?
  • Um livro pode te fazer mal?

Chego então ao questionamento sobre o relançamento do livro do Hitler. Será que as pessoas – do mundo inteiro – possuem capacidade para ler o livro e não se influenciarem por uma obra que, em linhas gerais, podemos dizer que é do mal?  Será que todos os leitores conseguem manter uma distância segura para compreender que tudo que está ali – escrito por uma pessoa inteligente, fato – não deve ser posto em prática de jeito algum? E como ficaria a propaganda das editoras sobre esse livro tão cruel? O nosso mundo consumidor capitalista sempre prova, por meio das propagandas, que comprar é bom, que o produto deixa o consumidor satisfeito, mas, qual é a postura do livreiro quando está diante de um livro que pode fazer mal?

Fugindo um pouco do livro do Hitler, que fica fácil exemplificar, por tamanha força negativa (e óbvia) que ele possui, é possível pensar nos livros por diversas categorias. Um exemplo, seria a categoria do sentimento:

  • Quantos livros nos fazem chorar?
  • E quantos são por motivos diferentes?

Há o choro que vem pela identificação, outro pela emoção artística, e ainda um choro por ler uma obra bonita, com um personagem que superou algo. Tragédia, alegria, empatia, tudo poder ser um bom motivo para emocionar. E tanto choro; e tanta emoção, pode causar algum mal, quando praticado em excesso?

Mas por que escrevo sobre isso? Porque eu tenho uma tendência a gostar dos livros considerados “difíceis”: os clássicos, aqueles com uma linguagem mais rebuscada, com técnicas literárias inovadoras, etc. Mas serão esses livros capazes de me fazer mal:

  • Uma vez que eles me fazem sair sempre da zona de conforto?
  • E não será perigoso sempre estar fora da zona de conforto?
  • Assim, será que devo começar a ler livros mais “simples” para resolver o problema da minha ressaca literária?
  • Os livros, estão me fazendo mal?

Fiz um vídeo sobre o assunto. E se você não entendeu este post, veja o vídeo, que talvez dê para entender alguma coisa. Porque eu ainda não entendi nada!

Respostas de 10

  1. Ah Fran, eu acho que livro pode te fazer mal como tudo em excesso faz. Nosso organismo e mente satura de tudo em quantidades abusivas. Acho que não tem lá muito segredo se é isso ou aquilo em um livro que faz mal. Mas que livro pode fazer mal eu não tenho dúvida. Eu tenho um livro que se chama: “Pink Floyd e a Filosofia, de George A. Reisch. Eu tentei por duas vezes lê-lo e quase entrei em depressão duas vezes. Parei na metade. Por que? Pois chocava com minha realidade na fábrica, mais um tijolo no muro, essas coisas. Um livro duro pra mim, e me fez mal. E está ali na estante, inacabado. Mas acho caso à parte. Acho que o que tu está relatando é estafa mesmo rs. E outra coisa; não estou lendo mais de uma obra mais. Tenho lido livros em cerca de uma semana e está ótimo, parto pra outra. Mais de uma obra sempre me fez desanimar de uma das quais estava lendo. Enfim, that’s it! 🙂

  2. E mais uma observação. Acho que ressaca literária é igual ressaca alcoólica; não se cura rebatendo na manhã seguinte como falam, mas dando um tempinho sem 🙂

  3. Tem a rotina exaustiva que nos deixa cansados demais para encarar livros complexos;
    Tem aquele livro que é bom demais, forte demais, impactante demais. Ele precisa de um tempo antes do próximo;
    Tem as mil coisas que queremos fazer além de ler, tudo em uma quantidade de horas mínima.

    E tem aqueles livros que fazem mal mesmo. Mesmo sendo bons. Sidarta de Herman Hesse acabou comigo, me deixou afastada de muitas coisas por muito tempo, inclusive da leitura. Virginia Wolf eu leio aos pouquinhos, tenho muita dificuldade. Sempre chega em um ponto que eu começo a me identificar demais e fico com medo de continuar.

  4. Minha média era um livro por semana, agora nem tenho mais média, a coisa tá feia! Só leio os livros “obrigatórios”, para trabalho mesmo…rs
    Sabe, acho que estou com saudades de ser uma leitora apenas…
    Fiquei curiosa com esse livro do Pinky Floyd… mas eu tenho uma tendência à melancolia, então só consigo suportar livros assim, se eu estiver muito feliz.
    Estarei na torcida para vc conseguir, um dia, voltar para o livro 😉

  5. só penso que eu realmente sou uma viciada em livro, não consigo não rebater, mas só me dei conta disso depois que li o seu comentário. Obrigada!!! 🙂

  6. Oi, Micaela!
    Realmente a rotina acaba corroendo a energia do dia, que poderíamos aplicar a um bom livro…
    Entendo a sua identificação com os livros. A Virginia Woolf, quando entrou na minha vida, foi um furacão, mas funcionou muito bem porque era um momento que eu precisava daquilo tudo, mas hoje em dia leio Virginia em doses homeopáticas ou então releio algum livro dela, que acaba sendo mais uma tarefa de estudo, que de contemplação da arte.

    Beijos!

  7. Saudações, Micaela.
    Na metade dos anos 70 comecei a ler os livros do Herman Hesse. O mundo em altíssima velocidade e eu ali dentro do livro “Debaixo das Rodas”. Fiquei com uma ressaca que durou mais de 30 anos. Em que 2009 voltei a dar continuidade as minhas leituras. A grande surpresa foi um livro que me emprestaram e que eu achei o máximo. A Menina que Roubava Livros me tirou da melancolia e do tédio. Depois veio Os Homens que não Amavam as Mulheres, A Menina que Brincava com Fogo e finalmente completando a trilogia, A Rainha do Castelo de Ar.
    Atualmente estou lendo 6 livros ao mesmo tempo. Estou com 61 anos de idade e espero até onde possa chegar completar a leitura de 100 livros.
    E sim. Não só um livro pode te fazer mal, assim como um autor; e citando Jorge Luís Borges: ‘o importante não é ler muitos livros, mas os livros certos’…temos, até nisso que contarmos com a sorte.
    Tenho uma grande admiração pelos especialistas. Aqueles que se dedicam a um grupo de autores ou a somente um autor. “O Especialista é aquele que mais se aproxima do DIVINO. ”
    Francine e Micaela, muito obrigado!

  8. Eu gosto de ler quando estou ansiosa e estressada, mas se tem um tipo livro que me faz mal é aquele que fala sobre o holocausto, parei de ler esse assunto temporariamente. Mas estou curiosa e pretendo ler o de Hitler nas férias. rsrsrs…

  9. Oi, Celina!
    Eu fico muito triste com histórias de guerra. Outra coisa que me deixa mal são os livros sobre escravidão. Apesar das sensações ruins, são livros muito importantes, com verdades que precisam ser jogadas na nossa cara, mesmo.
    Bjo!

  10. Oi, Francine!
    Suas reflexões sobre o que a leitura e a literatura podem provocar em nós são muito interessantes.
    Agradeço pelos seus posts. O importante é isso, ter espaços de troca das nossas experiências enquanto leitoras e leitores, pra gente ir amadurecendo na nossa jornada literária.
    Mas sobre um livro fazer mal ou não, penso que vai depender da base educacional que estão passando para nós, como você disse, se a pessoa tiver discernimento, vai aproveitar aquela leitura, aprender, mesmo que seja por meio de um exemplo negativo, no caso do Hitler rsrs.
    Da ressaca, duas coisas funcionam para mim. A primeira é para quando você tá lendo muito de um só tipo de leitura, por exemplo, romance ou contos. Dai começo a ler gêneros mais diferentões para dar uma desbaratinada, ciências políticas, biografia, o que vier rsrs. Ou até mesmo dou atenção a outras artes, como o cinema, exposições, teatro. Agora quando o problema é mais de estar saturada, dai eu sou dou um tempo mesmo e passo a buscar o que eu buscaria na literatura, na vida. Nem sempre a gente acha, maas…
    Obrigado mais uma vez por suas reflexões

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