Mergulhar nas páginas de “A Hora da Estrela” de Clarice Lispector é entrar em um universo único, onde a simplicidade da protagonista, Macabéa, revela profundezas emocionais e existenciais surpreendentes. Neste post, selecionamos 13 frases marcantes do livro que capturam a essência da narrativa, a poesia contida nas palavras de Lispector e as reflexões intensas sobre vida e identidade.
Sobre A Hora da Estrela
O romance A Hora da Estrela é o último trabalho de Clarice Lispector. Nele, vamos conhecer Macabea, uma personagem que parece cair no esquecimento de sua própria vida, mas é inesquecível para qualquer leitor. Além dela, o leitor vai conhecer a própria autora, escondida atrás do narrador Rodrigo S. M., que confessa ao leitor suas dificuldades em escrever, em apresentar os fatos de uma pessoa como a Macabea. É um livro muito sensível e tocante e como ele mesmo diz; um soco no estômago.
Assista ao vídeo no canal:
Conheça as melhores frases do livro A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. Abaixo de cada frase um comentário a respeito do contexto dessas frases.
1.
“A todos esses que em mim atingiram zonas assustadoramente inesperadas, todos esses profetas do presente e que a mim me vaticinaram a mim mesmo a ponto de eu neste instante explodir em: eu.” (p.9)Este trecho reflete a descoberta de si mesmo através das interações com os outros. Ou seja, as “zonas assustadoramente inesperadas” podem representar aspectos do eu que foram revelados através das relações e previsões dos outros. A explosão em “eu” simboliza um momento de autocompreensão ou de epifania sobre a própria identidade.
2.
“Assim é que experimentei contra os meus hábitos uma história com começo, meio e “gran finale” seguido de silêncio e de chuva caindo.” (p. 13)Aqui, a narradora menciona ter vivido uma história completa, com início, meio e um desfecho grandioso, algo fora de seus padrões habituais. O “gran finale” seguido de silêncio e de chuva simboliza a sensação de conclusão e talvez uma melancolia ou tranquilidade que se segue ao clímax. E também nos dá a ideia de que, como escritora, ela conhecia as estruturas das narrativas, mesmo em alguns momentos ter se considerado uma escritora amadora.
3.
“Porque há direito ao grito.
Então eu grito.” (p. 13)Este trecho é uma afirmação do direito à expressão. O grito representa a necessidade de expressar emoções, dores ou frustrações. É uma declaração poderosa da necessidade de se fazer ouvir e de não suprimir os sentimentos.
4.
“Aliás – descubro eu agora – também eu não faço a menor falta, e até o que escrevo um outro escreveria. Um outro escritor, sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas.” (p. 14)Aqui, a narradora reflete sobre a sua própria irrelevância e a substituibilidade de sua escrita. A menção de que outro escritor, um homem, deveria substituí-la implica uma crítica à percepção sexista de que as mulheres escritoras são mais emotivas e, portanto, menos sérias. Este trecho sublinha as dificuldades e as injustiças enfrentadas pelas mulheres na literatura e na sociedade.
Para conhecer mais sobre o livro, leia a resenha: A Hora da Estrela (Clarice Lispector): um soco
5.
“Quando rezava conseguia um oco de alma – e esse oco é o tudo que posso eu jamais ter. Mais do que isso, nada. Mas o vazio tem o valor e a semelhança do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é resposta a meu – a meu mistério.” (p. 14)Este trecho explora a ideia do vazio e da plenitude. A oração leva a um estado de vazio interior que é, paradoxalmente, a única forma de plenitude que a personagem pode alcançar. A reflexão sobre o valor do silêncio e do não pedir sugere uma busca por significado através da aceitação do desconhecido e do mistério.
6.
“Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?” (p. 15)Aqui, Clarice Lispector questiona a natureza da humanidade e a dualidade entre o bem e o mal. A frase evoca uma introspecção profunda sobre o comportamento humano, onde os atos e pensamentos podem levar alguém a se sentir como um monstro, refletindo a complexidade da condição humana.
7.
“Juro que este livro é feito sem palavras. É uma fotografia muda. Este livro é um silêncio. Este livro é uma pergunta.” (p. 17)Clarice Lispector utiliza metáforas para descrever a obra como uma experiência sensorial e introspectiva. A ausência de palavras e o silêncio indicam uma profundidade que transcende a linguagem, fazendo do livro uma provocação contínua para o leitor, uma pergunta em busca de resposta.
8.
“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem des grandes ventania soltas, pois eu também sou o escuro da noite” (p. 18)Aqui, a narradora encontra força na solidão e na escuridão, comparando-se aos elementos naturais. A chuva e as tempestades, geralmente vistas como adversidades, não a intimidam, pois ela se identifica com a noite, simbolizando a aceitação e a integração da própria escuridão interior.
9.
“Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui” (p. 21)Neste trecho, a escrita é apresentada como uma válvula de escape para a desesperança e o tédio existencial. O ato de escrever é o que evita que o autor sucumba à rotina e à exaustão de ser ele mesmo. A referência à porta dos fundos sugere uma possível saída silenciosa da vida, e a reflexão sobre os arrependimentos enfatiza o desejo pelo que poderia ter sido.
10.
“Pois na hora da morte a pessoa se torna brilhante estrela de cinema, é o instante de glória de cada um e é quand como no canto coral se ouvem agudos sibilantes” (p. 29)Aqui, a morte é comparada a um momento de brilho e glória, semelhante ao estrelato no cinema. Esse instante final é visto como uma culminação dramática da vida, com sons agudos sibilantes simbolizando um final elevado e quase poético.
11.
“Quando acordava não sabia mais quem era. Só depois é que pensava com satisfação: sou datilógrafa e virgem, e gosto de coca-cola. Só então vestia-se de si mesma, passava o resto do dia representando com obediência o papel de ser.” (p. 36)Uma frase que fala sobre a perda e a reconstrução da identidade. A personagem acorda sem uma noção clara de quem é, mas se redefine através de rótulos simples e rotineiros. Desse modo, a “representação do papel de ser” sugere uma vida vivida de forma mecânica e conformista, baseada em identidades impostas.
12.
“Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.” (p. 40)Esta frase destaca o poder da crença e da fé. Para a personagem, a existência dos anjos é validada pelo seu próprio ato de acreditar. Ou seja, uma sugestão de que a realidade pode ser influenciada pelas convicções individuais, ressaltando a importância da fé pessoal.
13.
“É melhor eu não falar em felicidade ou infelicidade – provoca aquela saudade desmaiada e lilás, aquele perfume de violeta, as águas geladas da maré mansa em espumas de areia. Eu não quero provocar porque dói.” (p. 60)Neste trecho, por fim, a narradora evita discutir felicidade ou infelicidade porque essas questões evocam memórias dolorosas e uma nostalgia quase tangível. A descrição sensorial intensa das lembranças sugere que a reflexão sobre esses sentimentos provoca dor, preferindo então não tocar nesses temas.