Narrado em primeira pessoa, o conto Condolência foi escrito, provavelmente, na primavera de 1919. Um pequeno trecho do conto faz parte do curtíssimo Segunda ou Terça e, segundo informações de Leonardo Fróes, no livro Contos Completos, o final do conto, que deixa dúvidas deliciosas no ar, foi alterado por Virginia Woolf antes de sua publicação, algo muito comum em sua obra, principalmente em seus contos que, em muitos, ficam com a impressão de seres exercícios de escrita, como se a autora estivesse “aquecendo” suas mãos e mente para algo maior.
“A pena que me induz a estender minha mão para que ela agrida se transforma, ou se transformará, em impulso de compaixão que em sua generosidade lhe parece ser desdenhoso” (Condolência, p. 144)
Uma mulher abre o jornal e descobre que uma pessoa conhecida morreu. Assim, ela vai imaginar como está a vida das pessoas que viviam com o suposto morto. Em detalhes – de suas roupas, seus olhares furtivos à janela, à rotina interrompida pela presença da morte. A própria narradora – em estado comovente e frenético, demonstra angústia perante a notícia no jornal, revela momentos em que perdeu a oportunidade de socializar com o morto, por ter escolhido dizer não.
“Agora mesmo é que eu não vou saber nunca. Agora o rosto avermelhado está lívidos e os olhos, com aquele olhar de jovem, decidido e desafiador, estão fechados (…)”
Nos contos de Virginia Woolf, a grande beleza mora em como ela tece sua narrativa. O fluxo de consciência presente no conto é um bom caminho para iniciar nesse tão grandiosos processo de deixar a mente fluir junto de palavras, que se misturam na intensa observação da vida, da natureza e das mentes humanas.
O ponto principal do conto Condolência
O ponto principal do conto Condolência, sem dúvidas, é esse lampejo enganador diário (ansiedade, talvez). Ao ler uma notícia rapidamente, podemos criar grandes confusões em nossas mentes. Isso pode ser bom, mas também muito ruim, a medida que compartilhamos notícias porque gostamos desta sensação de sermos detentores da informação e não nos importamos com a veracidade das informações. E não é por mal – algumas vezes, mas é esse perene processo de nosso cérebro que, ao ver um pequeno ponto (uma notícia, no caso) cria mil formas imagéticas de como aquilo aconteceu. Ações são colocadas em outras pessoas que mal conhecemos, em espaços que não controlamos, tudo isso em nome de uma suposta generosidade e daquele cruel sabor de querer acessar as desgraças alheias.
Se Virginia Woolf realmente pensou em tudo isso para escrever esse sensível conto, não sei, mas, como também faço parte dessa sociedade corrompida pelo desejo de acessar os outros com profundidade, apesar da inconsistência e leviandade, faço aqui o mesmo processo que a personagem, imagino como poderia ter sido. E me revolta se, ao final, descobrir que tudo era apenas coisas da minha cabeça.