Virginia Woolf envolveu, em muitas de suas obras, a força da natureza como representação de algo que não temos controle. Em “As Ondas“, por exemplo, amigos conversam e vivem uma vida como se fossem as ondas do mar, ora intensas, ora violentas, em alguns momentos grandes ou pequenas… Assim, no conto No pomar, escrito em 1923, vamos conhecer a personagem Miranda e a relação que ela possui com a natureza e a própria natureza fazendo o seu espetáculo.
As três pequenas partes
Dividido em três pequenas partes, o conto vai apresentar versões de um mesmo momento na vida de Miranda.
A princípio, ela dorme no pomar e tudo que está ao seu redor, se revela: a presença do canto dos pássaros, vozes de crianças, o sino da igreja, a voz alta de um homem bêbado, entre outros.
Posteriormente, vem a dúvida sobre Miranda estar ou não dormindo. A natureza e os sons chegam por uma outro ângulo: a própria percepção de Miranda diante daquele seu momento de quase-sono (o fluxo de consciência se faz presente).
Por fim, uma nova perspectiva da mesma cena, com um narrador mais ativo sobre esse breve acontecimento na vida de Miranda, sua relação com a natureza e os pequenos momentos da vida cotidiana.
No pomar é uma pequena demonstração…
A literatura, em um aspecto amplo, é feita por meio das escolhas do autor. Se há um domínio da linguagem em que se propõe a trabalhar, boas coisas serão construídas, sem dúvidas. Assim, o conto “No Pomar” pode ser encarado como uma demonstração da capacidade técnica de Virginia Woolf, uma vez que ela constrói a mesma história três vezes, por ângulos diferentes e detalhes primorosos, que fazem o leitor realmente imaginar toda a cena; e admirá-la, é claro.
A frase inicial, nas três partes, é sobre Miranda estar ou não dormindo no pomar. E o final, sempre aponta para o momento de seu despertar, quando lembra-se de seu atraso para o chá. É a simples vida encarada de um jeito tão especial que Virginia Woolf a transforma em pura grandiosidade.