São muitos e variados os motivos para conhecer mais a obra de Sophia de Mello Breyner Andresen, especialmente em 2019, ano em que se comemora o centenário de nascimento dessa poetisa. Apesar disso, fui desafiada, porém, a selecionar apenas CINCO bons motivos para ler essa ilustre portuguesa.

1. Uma das mais importantes poetas do século XX

Pois bem, o primeiro motivo é o fato de que a poeta é considerada uma das mais importantes do século XX, tendo recebido diversos reconhecimentos formais, sendo um dos mais importantes o “Camões”, em 1999, primeira mulher a receber esse prêmio. Sophia recebeu também o “Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-americana”, de 2003, e o “Prêmio da Crítica” pelo Conjunto da Obra, oferecido à autora na década de oitenta pelo Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários.

2. Sua obra também é para crianças

Há que se destacar ainda o “Grande Prêmio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças”, entregue em 1992 – e esse também é um ótimo motivo para ler Sophia: ela escreveu poesias e contos infantis. Inspirada pelos filhos, que à época eram pequenos e gostavam de ouvir histórias, Sophia escreveu, entre outros livros, “A menina do mar” e “A fada Oriana”.

3. Ideais e valores que por vezes se confrontam

Seguindo a lista, um dos motivos mais interessantes para ler essa portuguesa é que a poesia de Sophia Andresen consegue agregar ideais e valores que por vezes se confrontam. Um exemplo é a presença concomitante do sagrado cristão e do pagão grego. Há poemas que nos remetem claramente a uma oração e outros que exaltam a sabedoria grega. Dos poemas cristãos, sugiro a leitura do poema “Deus escreve direito” e “Reza da manhã de maio”. Dos gregos legítimos, há o belíssimo poema “Dionysos” e “Pra minha imperfeição está suspenso”. Essa aparente dualidade expressa, na verdade, a liberdade e amplitude de temas, deixando para o leitor essa reflexão de que somos essa adorável composição de tudo aquilo que lemos, conhecemos e amamos, ainda que esse “tudo” possa parecer tão díspar.

4. Sophia de Mello Breyner Andresen e o mar!

O mais belo dos motivos: o mar! Os portugueses têm uma relação muito especial com o mar e Sophia, em sua busca sempre lúcida pela poesia imanente e pelo real vivido, presenteia-nos com poemas que são verdadeiras descobertas. O eu-lírico de fato se dispõe a olhar com amplitude o significado do mar e transfere às palavras poéticas a sua também imensidão.

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5. A arte é política

Para fechar esta breve lista, é preciso lembrar que a arte é política e o posicionamento de Sophia em relação ao mundo é algo que merece destaque. Há na obra da poetisa, uma evidente carga de justiça, de busca por um mundo mais igualitário e justo. Sophia foi artista-cidadã atuante contra a ditadura de Salazar. Nessa linha, destacam-se, por exemplo, os poemas que abordam o 25 de abril, ou, antes, ainda na luta pela democratização em Portugal.

Para finalizar esse texto – e com o intuito de despertar ainda mais o interesse pela obra dessa mulher admirável – deixo as palavras da própria poetisa, no texto “Arte Poética II”, em que discorre sobre sua relação com a Poesia:

“Pois a poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, o meu encontro com as vozes e as imagens. Por isso o poema não fala duma vida ideal mas sim duma vida concreta: ângulos da janela, ressonância das ruas, das cidades e dos quartos, sombra dos muros, aparição dos rostos, silêncio, distância e brilho das estrelas respiração da noite, perfume da tília e do orégão. É esta relação com o universo que define o poema com o poema, como obra de criação poética. Quando há apenas relação com uma matéria há apenas artesanato.”

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