Vou deixar de ser feliz por medo de ficar triste?” é o texto integral da peça teatral homônima, com fotos, croquis de figurinos e planta do cenário, e que conta uma história de amor.

O amor é o tema que está no centro de grandes clássicos da literatura (oi, jovem Werther!), nos versos, nas canções apaixonadas, em uma infinidade de filmes, especialmente comédias românticas – a maioria de qualidade duvidosa.

Mas falar de amor ainda é necessário e pode surpreender, especialmente quando amar significa superar uma série de preconceitos. É esse o mote principal que motivou o ator Yuri Ribeiro a escrever Vou deixar de ser feliz por medo de ficar triste? para ler, que, na verdade, é o texto integral da peça teatral homônima, com fotos, croquis de figurinos e planta do cenário, e que conta a sua história de amor com a empresária artística Cláudia Wildberger. E o que há a contar? Além de vivermos em uma época em que compromisso parece estar fora de moda (oi, Bauman e seu amor líquido!), logo, falar sobre um relacionamento duradouro já pode ser inesperado, Yuri nos relata o desafio de estar a seis anos casado com uma mulher 25 mais velha.

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Assim, já nas primeiras páginas, vamos descobrindo, por meio de um tom bem humorado e sincero de Yuri, como eles se conheceram no Rio de Janeiro, começaram o namoro e passaram a enfrentar os “obstáculos” deste relacionamento, ou seja, os preconceitos enraizados no próprio casal e nas pessoas próximas. Afinal, o que uma mulher madura, bem-sucedida e com um filho adulto poderia querer com um jovem vindo de outro estado, em busca de trabalho como ator? O que esse “menino” faria com uma mulher quase da idade de sua mãe? Será que esse rapaz, vindo de Palmas, capital do Tocantins, para o Rio de Janeiro, está querendo se aproveitar desta mulher?

Uma narrativa leve

O modo leve de narrar esta história de amor foi uma boa e eficaz ferramenta para nos lembrar dos nossos próprios preconceitos. Se o livro fala da diferença de idade entre o casal – e sabemos que o preconceito é ainda maior quando se trata da mulher ser mais velha do que o homem -, também podemos transpor essa crítica ao modo como olhamos casais inter-raciais, homoafetivos, com grandes diferenças de peso ou altura, ou com diferenças bancárias significativas etc. Sem contar a discriminação que temos com pessoas de outras cidades, estados, países… Eu poderia prolongar esta lista com diversos outros exemplos, pois como Yuri mostra, julgamos facilmente, assim como somos julgados. E esse julgamento é feito com base no que achamos “certo”, “adequado”, “normal”. Mas como adotar todos esses adjetivos quando se trata de sentimentos? Como falar que o amor entre duas ou mais pessoas – se quiser – é errado ou inválido?

Se nem sabemos dizer o que é o amor, como definir o sentimento de um casal? Para enxergar é preciso ver, e para tal é preciso abrir os olhos. Estamos cegos demais enquanto olhamos para o interior de nossos bolsos furados ou não, e a partir deles julgamos todas as relações, mesmo não sendo capazes de enxergá-las. Se até a justiça é cega, não serão os homens, crentes que são juízes, dotados de melhor visão. Portanto, julguemos e sejamos julgados, mesmo que por amar. (p. 35).

Um cenário circense

O livro, como escrevi acima, é o texto integral da peça encenada no Rio de Janeiro em 2018 e inspirada na história do casal, mas com um viés ficcional, cheio de conflitos. Escrita por Yuri Ribeiro, dirigida por Jorge Farjalla e produzida pela própria Claudia, a encenação da história do casal traz Yuri interpretando Daniel, o jovem ator que se apaixona por Andrea/Claudia, interpretada por Paula Burlamaqui, além de Vitor Thiré (depois substituído por Mathias Wunder) no papel de Caio, inspirado nos filhos de Claudia, e mais três personagens, além de Jujuba, o palhaço que toca acordeão. Na trilha musical, estão canções de Chiquinha Gonzaga, que teve um relacionamento secreto com um rapaz mais jovem, no início do século XX. O cenário circense apresenta uma áurea onírica para a peça, justamente para brincar com o “sonho” desse relacionamento dar certo. Ao se depararem com os preconceitos, os personagens se despem da fantasia e encaram a realidade: o amor sobrevive ao que pensamos sobre o amor?

Cena da peça. Divulgação

Ademais, o projeto, segundo a Claudia, é ousado e contempla peça, livro, filme e série. O espetáculo já recebeu três prêmios no FITA – Festival Internacional de Teatro de Angra dos Reis, nas categorias Melhor Espetáculo, Melhor Direção e Melhor Figurino. Neste ano, a equipe fará uma temporada em São Paulo/SP e iniciará a turnê nacional.

Confesso que não tenho tanto contato com a arte teatral e ler não deu a dimensão total da peça, já que se perde a interação entre atores e público, as músicas, as luzes, o cenário… Apesar dessa “perda”, o livro é uma ótima alternativa para quem quer acompanhar todo o processo criativo e, até mesmo, para aqueles que não conseguirão assistir à apresentação. Logo, foi uma grata surpresa ter contato com um material que não faz parte do meu cotidiano, além de ter sido uma experiência muito especial conhecer um pouco da intimidade, dos medos e sonhos desse casal.

Não deixe de conferir a entrevista que a Claudia fez com o ator – e seu marido – Yuri Ribeiro exclusivamente para a Livro & Café aqui.

Trailer da peça Vou deixar de ser feliz por medo de ficar triste?

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