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O filho de mil homens (Valter Hugo Mãe): a união dos que vivem à margem

Valter Hugo Mãe é um acontecimento literário que já faz história. Suas obras, carregadas de um lirismo clássico e ao mesmo tempo repletas de originalidade, traduzem a simplicidade do ser humano em diversos aspectos. No caso do livro “O filho de mil homens“, vamos conhecer diversas histórias que se cruzam pela dor, pela solidão, pelo fato de serem histórias que não se encaixam em um padrão social.

Um homem que deseja ser pai. Uma criança que precisa de um pai. A mulher que quer ser amada; outra que é enganada… A cada capítulo essas vidas são apresentadas como se fossem contos, porém, na mesma proporção da aceitação dessas pessoas em relação às próprias vidas, elas se aproximam de diversas maneiras. Há o desejo, mas, há o reconhecimento pela dor do outro e a vontade de ficar, montar acampamento no mesmo espaço da solidão do outro.

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Difícil nomear, difícil não elogiar…

O filho de mil homens é um livro feliz, apesar de toda tristeza, violência e solidão apresentados no início do romance. Digo isso porque, a medida que as pequenas conquistas das personagens tomam forma e força, há muito mais que uma ideia de sobrevivência, há uma confirmação sobre a beleza das pequenas coisas.

Por isso, é difícil nomear o que de fato acontece na obra que a torna tão especial. É a linguagem sim, mas também cada personagem. É o ambiente em que a narrativa se desenvolve, entretanto, muito mais as surpresas singelas que aparecem para o leitor e para as personagens. É um conjunto feliz de todas as possibilidades literárias.

Cada elemento da obra está lá como se Valter Hugo Mãe usasse todas as notas musicais e construísse uma música universal sobre a necessidade de vivermos juntos, de nos fortalecermos enquanto pessoas que amam muito além de qualquer definição do amor; principalmente esse amor comercial, de capa de revista.

Ler Valter Hugo Mãe é vivenciar muito além da história em si, pois a linguagem que o autor alcançou em suas obras traduzem o poder da Língua Portuguesa. É como se ele a reinventasse de tal forma que deixa o leitor perplexo. Assim como fez Guimarães Rosa, Hilda Hilst, José Saramago… De certa forma, encontrar autores assim traz aquela sensação de que o sublime foi alcançado, mas também podemos nos recarregar no abraço da nossa rica linguagem em nome de um pedido de socorro: precisamos de mais autores assim!

“Os seus olhos tinham um precipício…”

Nos precipícios de cada personagem, encontramos os nossos. Na simplicidade das ações dessas personagens, vivenciamos o medo. De repente, de mãos dadas, caminhamos na beira desse inferno, mas não caímos justamente pela entrega. É a confiança que depositamos naqueles que se mostram por inteiro, mesmo dilacerados, mesmo esmigalhados como um vidro.

Em O filho de mil homens, refletimos sobre o quanto é necessário a união dos que vivem à margem da sociedade. E que não há o que esperar. As dores, os desejos secretos, as feridas que tentamos esconder podem ser um pequeno portal para um momento de epifania. Não há aquela alegria dos contos de fadas; mas há a verdade da vida real e possível quando a única coisa que resta é uma migalha de amor que, se estamos no abismo com as pessoas certas, quando o vento vem, caímos sentados no chão e assim sobrevivemos.

“Apagou a luz para sorrir com o tamanho sempre infinito da escuridão. Também ele tinha um tamanho cada vez mais infinito. E não caía. Sentia que se levantava.” (p. 191)

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