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    Literatura

    Grande Sertão: Veredas. Uma confissão

    Bruno RibeiroBy Bruno Ribeiro01727 Mins Read
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    As obras de João Guimarães Rosa não deviam ser lidas, mas cantadas por ninfas gregas; ou, seria preciso uma Sherezade contá-las diariamente por mil e uma noites e nos salvar da morte. Melhor ainda seria sentar à beira de um forno à lenha, com um café forte servido em xícara esmaltada e escutar um velho sábio narrar o que Guimarães escreveu, porque sua obra é mais que literatura. Não é o autor que é escravo da linguagem; são as palavras é que se curvam a Guimarães Rosa.

    Guimarães me ensinou que precisamos chorar toda-a-vida pra não ficar sozinho (Manuelzão e Miguilim); e que, às vezes, precisamos é principiar um canto sem razão (Sorôco, sua mãe, sua filha).Também a gente aprende que passarinho quando se debruça o vôo já está pronto. E, mais ainda, o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais em baixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso? (Grande Sertão: Veredas)

    Pois é isso: ler Guimarães Rosa é entender que a vida tem muito pouco de certeza e bastante de improviso. Tudo e qualquer coisa que eu escreva sobre a obra de Guimarães será uma simplificação à beira do sacrilégio. Se você, leitor/leitora deste texto, deseja conhecer a literatura Rosiana, precisa sentar e escutar Riobaldo contar sua história. Isso mesmo: escutar.

    Diálogo de voz única

    – Nonada! Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não. Deus esteja.

    Assim começa Grande Sertão: Veredas – com um travessão. A gente escuta páginas e páginas de um diálogo de uma só voz. Riobaldo está diante de uma pessoa, que ele chama de Doutor,  e lhe conta toda a sua vida. Mas não se enganem, somos nós mesmos que estamos sentados na frente dele. Ele estranha a nossa presença nesse sertão, mas se alegra por poder contar com tão célebre audiência. E, já que chegou, tem que ficar pelo menos dois ou três dias.

    A narrativa de Riobaldo é meio sem rumo. Ele vai e volta no tempo, não tem nada de muito linear, pelo menos até a metade da obra. Mas quem se atreveria a contar a própria vida de forma linear? Por acaso, alguém sabe para onde estamos indo? Ok, talvez Brás Cubas soubesse. Mas Riobaldo não fala para os vermes que vão roer sua carne fria. Não, o seu leitor/ouvinte está vivo, caminhando pelas Veredas da vida.            

    Até aqui, espero ter convencido o leitor ou a leitora que o melhor a se fazer é deixar de ler esse texto e correr escutar o Riobaldo. Mas, se por alguma razão, achar que ainda precisa de mais elementos para convencer-se, eu o/a convido a ver mais de perto um causo contado por Riobaldo.

    Maria Mutema e o peso da palavra

    Riobaldo nos conta que foi Jõe Bexiguento quem lhe contou a história de Maria Mutema e o Padre Ponte. Após enviuvar, Maria Mutema se apegou à igreja. Danou a se confessar, constante na salvação da alma. Vivia de preto e o povo dizia que virara carola. Mas, na igreja, não tirava os olhos de Padre Ponte. Abria o coração três vezes por semana no sacramento da salvação. Padre Ponte, homem bom, escutava a qualquer hora quem sangrasse o coração por perdão.

    Mas acontece que Padre Ponte começou a adoecer. Se via a olho nu que emagrecia. Secou tanto que morreu triste. Quando chegou outro padre, Maria Mutema nunca mais entrou na igreja. Viúva decente, nunca falava com ninguém, de tal modo que ninguém sabia o que tinha acontecido. Foi quando passaram uns missionários pela cidade, que Maria Mutema voltou a entrar na igreja. Tão-logo entrou, o padre gritou que saísse, que se ela quisesse, ele ouviria sua confissão, mas tinha que ser na frente do cemitério. Nesse momento, todo mundo começou a gritar na igreja, sob alguma força estranha. Foi quando Maria Mutema confessou.           

    Confessou na frente de todo mundo, porque queria o perdão de todos. Disse ela que tinha matado o marido, sem razão; nem sabia o porquê. Num gesto shakespeariano, tinha colocado chumbo derretido no ouvido do marido. Depois, também sem motivo, mentiu ao pobre Padre Ponte que era assassina por conta dele, que dele sentia fogo de paixão. Ao ver o padre definhando vivo, se apegou à maldade; gostava de ver o padre sofrendo calado de desespero. Agora, aos gritos, ela pedia misericórdia; queria o perdão de Deus.            

    Quando desenterraram seu marido, disseram que o chumbo sacolejava dentro da caveira do defunto. Mas Maria Mutema queria castigo. Presa, de joelhos ela chamava o remorso; pedia perdão e que todos viessem escarrar em sua cara. Com o tempo, o povo perdoou. Iam rezar junto a Maria e, de tanto sofrer, achavam que ela estava virando santa.

    O homem tá sempre se fazendo…

    Maria Mutema matou dois homens: um com chumbo; outro com a palavra. Ao mentir para o Padre Ponte, era como se Maria, outra vez, derretesse chumbo quente em seus ouvidos. Mas desse chumbo se morre aos poucos. A mentira de Maria Mutema foi como uma bala que se alojou na consciência do padre. Igual o chumbo derretido, a palavra entra na cabeça pelo ouvido. Porém, no fim, ela confessou e pediu perdão, quis castigo e se humilhou. O povo deu o perdão!

    E se a história de Riobaldo for mais que um testemunho? E se… for uma confissão? Riobaldo narra sua vida pra tentar entender o que lhe aconteceu. Ele não desejava ser jagunço e virou um; não queria ser chefe dos jagunços e foi. O diabo no meio da rua, no meio do redemoinho. É o pacto. Foi o demo ou não foi?

    Durante toda sua história, Riobaldo quer saber se ele é pactário ou não. Naquela encruzilhada, no meio da noite, o diabo lhe ouviu? Selaram o pacto? passarinho que debruça o vôo já está pronto. Alma que se inclina pro demo já se vendeu? O diabo está nas Veredas; e Deus é o Grande Sertão. O diabo chega fazendo alarde; Deus é paciência.

    Mas no Grande Sertão tudo é e não é: pois, num chão, e com igual formato de ramos e folhas, não dá a mandioca mansa, que se come comum, e a mandioca-brava, que mata? Agora, o senhor já viu uma estranhez? A mandioca doce pode de repente virar  zangada ― motivos não sei; às vezes se diz que é por replantada no terreno sempre, com mudas seguidas, de manaíbas ― vai em amargando, de tanto em tanto, de si mesma toma peçonhas. E, ora veja: a outra, a mandioca-brava, também é que às vezes pode ficar mansa, a esmo, de se comer sem nenhum mal. E não foi a mesma Maria Mutema que matou e depois virou santa?

    Guimarães Rosa, com o Riobaldo, derrama chumbo derretido em nossos ouvidos. Mas a gente não definha – pelo menos espero que não. A gente pode é se salvar. Coração da gente – o escuro, escuros.

    Riobaldo nos conta não só uma história de um possível pacto, mas, também, da sua salvação: o amor. E o amor pode vir do demo? Amor vem de amor.

    * * * * *

    Talvez eu exagere, mas Grande Sertão: Veredas é uma história sobre o amor. Em um momento de reflexão existencial, Riobaldo diz que a vida é assim: esquenta e esfria. O bonito do homem é que ele nunca está pronto, está sempre se fazendo. Mas não há fazer-se sem amor. Como perdoar se não houver amor? E como viver sem perdoar, se o que mais fazemos é errar? Riobaldo responde: Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

    Compre “Grande Sertão: Veredas”

    Leia mais: Maria Bethânia lê trechos de “Grande Sertão: Veredas” (Diadorim)

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