A imaginação de leitores, cineastas e críticos sobre como seria possível adaptar Cem Anos de Solidão a um formato audiovisual voou ao longo das décadas. E agora o momento de ver a obra máxima de Gabriel García Márquez numa tela está cada vez mais ganhando forma. Durante a oitava edição do Festival Gabo na Colômbia, Rodrigo García Barcha, filho do Nobel, diretor de cinema e televisão e produtor da série exibida na Netflix, deu algumas pistas.

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A primeira e de grande importância para a memória de García Márquez ―que sempre duvidou que as histórias de Macondo pudessem ser levadas ao cinema― é que será produzida em espanhol e com elenco latino-americano. “Uma das condições é que fosse feita na Colômbia e em espanhol, definitivamente”, disse Rodrigo García Barcha durante a palestra intitulada As histórias continuam na tela grande (e em muitas outras), com o cineasta Andrés Wood e o crítico de cinema Samuel Castro. Junto a Gonzalo García Barcha, eles são produtores-executivos da série.

Serão duas temporadas de Cem Anos de Solidão na Netflix, com um total de 20 horas

Como comprimir uma história complexa, com vaivém temporal ― outra das inquietações que García Márquez manifestava quando lhe propunham adaptar o romance ao formato audiovisual?

A adaptação na Netflix poderá ser vista em duas temporadas, num total vinte horas, disse o herdeiro do autor. Entretanto, o mais importante talvez seja que, para Rodrigo García Barcha, haja tranquilidade sobre as alterações que os roteiristas anteveem, especialmente nos primeiros capítulos. “Foram feitas algumas coisas estruturais, espertas, mas não são alarmantes, é muito fiel ao livro. E há muitas horas para contá-lo”, disse em referência ao trabalho de Jose Rivero, um dos roteiristas.

O histórico de más adaptações preocupa…

Por fim, para García Barcha, diretor de filmes como Últimos Dias en el Desierto e 10 Pequeñas Historias de Amor, entre outros, adaptar livros para o cinema é difícil, independentemente da relevância da obra. “No caso dos livros de Gabo, que têm um longo histórico de más adaptações, há algo que se compartilha e é muito respeitado pelo livro”, disse. “Em seus livros há pouco diálogo, e quando os personagens falam o fazem de maneira poética, lapidar e contundente; o cinema não aguenta isso, não podem ficar falando como deuses”, acrescentou.

“Mais que a fama de um livro, o desafio com Gabo é a grandeza do universo verbal, que é parte muito importante do valor do romance. Passá-lo para a imagem de forma literal é muito complicado, porque tem muitos subtextos. O desafio é como reinterpretar essa grandeza.”

Andrés Wood (cineasta)

Fonte: El País

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