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Nossa conquista (Gabriel Cândido): uma épica íntima

Gabriel Cândido lança o livro “Nossa Conquista” (Ed. Entremares) que é a parte II da trilogia Escombros, projeto idealizado pelo dramaturgo, diretor, ator, performer e cofundador do Núcleo Negro de Pesquisa e Criação (NNPC). A trilogia tem como objetivo a elaboração cênica e dramatúrgica de peças de teatro que tratem das relações tensivas entre a fome, a terra, o colonialismo, a identidade e o capitalismo em intersecção com a ancestralidade negra do Brasil.

Nossa Conquista é uma obra fictícia imagética que aponta o lugar da dramaturgia na literatura pela radicalização da forma, sustentando a dramaturgia como um texto literário. Não há, por exemplo, rubricas. Gabriel não se vale deste artifício de condução, e opta pelo fluxo natural do texto, pela liberdade de quem for ler, interpretar ou encenar. “Meu anseio com a criação de ‘Nossa Conquista’ é contar uma história e deixar para o leitor a tarefa de ativar a própria imaginação. O esforço da escrita foi para experimentar as possibilidades de radicalização da forma dramaturgia, distanciar o texto do processo de montagem da peça no teatro e trazer as personagens e o contexto para perto, numa relação intimista”, afirma.

A história se passa às margens do rio Nossa Conquista, onde convivem os povos que desejam ardentemente atravessar as fronteiras para as grandes capitais em busca de uma vida mais digna. O desejo por essa travessia, no entanto, não é visto com bons olhos por aqueles que habitam o outro lado. Por isso, a região é monitorada por seus Soldados da Paz, cuja presença ostensiva parece ter como meta a contenção do fluxo migratório incontrolável. Na contramão do trabalho destes soldados, os bixos da fronteira estão sempre prontos para, em troca de um bom negócio, atravessar ilegalmente aqueles que dariam tudo – até mesmo os próprios filhos – pelo sonho de uma vida melhor.

Em “Nossa Conquista”, o leitor acompanha a épica íntima de três personagens – Machépé, um bixo da fronteira; Zizú, um soldado da paz; e Neydí, a primeira ministra da grande capital do norte. Pelas suas trajetórias e pensamentos, apresenta-se um universo fabular que ilustra, seja por meio de metáforas, seja por exemplos bem reais, as relações intrínsecas entre as dinâmicas da colonização, da diáspora negra, as subjetividades humanas, e o destino fatal do meio ambiente, cuja exploração pelo capitalismo predatório parece apontar, sem meias palavras, para a escatológica queda do céu. Nos encontros e desencontros de Machépé, Zizú e Neydí, todos mediados pelas margens do rio Nossa Conquista, fica a certeza de que nas profundezas desse rio, que nos une e nos separa, que é caminho mas também fronteira, há mais mistérios do que se pode imaginar. 

O trabalho de Gabriel Cândido busca reverberar temas aos quais vem se dedicando, a partir de uma construção literária elaborada. Se por um lado “Nossa Conquista” sugere debates sobre colonialismo, diáspora negra, imigração, refúgio, encontros e desencontros, por outro, busca compreender a perspectiva do sonho, da imaginação. “Para construir uma dramaturgia que se propõe a discutir, de modo interseccional, o neoliberalismo, o colonialismo, o racismo, as crises migratórias e a emergência climática em fricção com os saberes ancestrais dos povos indígenas e negros do Brasil e da diáspora, pensar na imagem de uma espiral para conduzir esta história foi fundamental no processo de criação”. E finaliza: “A ficção nos dá muitas possibilidades de metáforas”, referindo-se à passagens do livro como o rio, as fronteiras e os muros, “e também abre espaço para várias questões subjetivas do indivíduo e da sociedade”.


A parte I da trilogia Escombros, intitulada Fala das Profundezas (2018, Editora Javali – MG), ganhou montagem, em 2022, pelo Núcleo Negro de Pesquisa e Criação (NNPC) e cumpriu temporada de estreia no Sesc Belenzinho (SP). Foi ainda experimentada em formato de leitura encenada (2018-2019) e em versão teatro radiofônico (2020).

A publicação do livro “Nossa Conquista” foi viabilizada pelo ProAC – Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo – Edital 19/2021 de Apoio à Literatura / Ficção / Não-Ficção / Poesia / Teatro. Foram impressos 600 exemplares que são vendidos a preços populares e disponibilizados para os acervos da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e Secretaria Municipal de Cultura de São Caetano do Sul e para escolas públicas de São Caetano do Sul.


Sobre o autor Gabriel Cândido

Gabriel Cândido nasceu em São Caetano do Sul (SP), no mês de fevereiro de 1992.  Atua como dramaturgo, diretor, performer, ator e produtor. É coidealizador e diretor do Dona Ruth: Festival de Teatro Negro de São Paulo e cofundador e integrante do Núcleo Negro de Pesquisa e Criação (NNPC). É autor das dramaturgias Socorro! Tem Uma Cidade Entalada na Minha Garganta, publicada pelo Grupo Editorial Letramento (2019) e Fala das Profundezas, publicada pela Editora Javali (2018), da qual também assina a direção da montagem que estreou em 2022 e dos seus formatos em versão teatro radiofônico (2020) e leitura encenada (2018-2019). Gabriel também é diretor e roteirista do curta-metragem Jardim Peri Alto em Cena (2019); autor das performances Rastros (2022) e Cuidado com Nós (2019). Formado pela SP Escola de Teatro no curso de Atuação (2015), colaborou com a instituição como artista-orientador, entre 2021 e 2022, Foi também artista-orientador de teatro do Programa Vocacional da Prefeitura de São Paulo (2022) e, atualmente, é estudante de História, na Universidade de São Paulo (FFLCH/USP)

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