Muitos dizem que a escritora Sally Rooney é excessivamente sentimental e pouco política. E seu livro “Belo mundo, onde você está” parece ser uma terntativa de resposta para isso…

    Em seu novo romance, ela aborda essas críticas ao explorar diálogos densos de drama e emoção. Seus personagens, jovens e idealistas, discutem teorias sem pleno entendimento e são mais estudiosos do que ativistas. Muitos deles são universitários esquerdistas que refletem a geração Millennial.

    Belo mundo
    Uma das vozes mais originais da ficção contemporânea, Sally Rooney escreve sobre amizade, amor e dúvida em seu terceiro romance. COMPRE NA AMAZON

    O talento de Rooney

    Rooney é habilidosa ao moldar a voz narrativa de acordo com a consciência de seus personagens, resultando em retratos realistas de sua geração. Seu compromisso com as limitações mentais e visões enviesadas dos personagens é notável. Sua narrativa muitas vezes compromete sua postura política, pois aprofunda as tramas de seus personagens. Os críticos americanos a acusaram de “literatura de santimônia” e de não explorar suficientemente a política.

    Seus personagens jovens frequentemente debatem questões políticas e filosóficas, mas suas opiniões parecem superficiais e não fundamentadas. No entanto, Rooney observa a juventude com empatia e distância, apresentando um olhar crítico, porém compassivo. Ela examina a relação entre submissão e desejo de tradição, explorando os personagens que buscam conexões profundas e tradicionais em relacionamentos complexos.

    Sobre “Belo mundo, onde você está”

    Os personagens centrais, Alice e Felix, se conectam através de um aplicativo de relacionamento, originando um encontro que coloca em cena a romancista e o trabalhador do armazém nas margens de uma pitoresca cidade costeira irlandesa. Assim como casais que acabam de se conhecer, eles tentam impressionar um ao outro nesse primeiro encontro e uma centelha de algo mais profundo surge entre eles.

    No decorrer dessa história de paixão, além de lidar com os próprios passados, esses personagens exploram questões sobre sexo, amizade, o destino do planeta e suas próprias trajetórias futuras. Assim, o livro acaba de tornando uma jornada de amadurecimento muito bonita de acompanhar.

    De onde vem o título?

    O título do livro é retirado de um poema do poeta alemão Friedrich Schiller, conhecido como um dos precursores do Romantismo alemão. O livro apresenta dois casais irlandeses e explora suas interações, desejos e conflitos. As vozes narrativas variam, e Rooney experimenta novos estilos narrativos.

    Em alguns momentos, a história parece um tanto estática, e as tentativas de criar um certo suspense romântico parecem forçadas. Apesar disso, Rooney demonstra um intelecto poderoso e aborda questões como capitalismo, identidades minoritárias, arte na era Trump e a natureza da colaboração humana.

    Um trecho do livro:

    “Uma mulher estava sentada no bar do hotel, olhando a porta. Sua aparência era elegante e asseada: blusa branca, o cabelo louro enfiado atrás das orelhas. Ela deu uma olhada na tela do celular, que mostrava um aplicativo de mensagens, e tornou a fitar a porta. Era fim de março, o bar estava sossegado, e, do lado de fora da janela, à sua direita, o sol começava a se pôr sobre o Atlântico. Eram sete horas e quatro minutos, e depois cinco, seis minutos. Por alguns instantes e aparentemente sem nenhum interesse, ela examinou as unhas. Às sete e oito, um homem entrou porta adentro. Era franzino e tinha o cabelo escuro, o rosto estreito. Ele olhou ao redor, analisando a fisionomia dos outros clientes, e então pegou o celular e verificou a tela. A mulher junto à janela o notou, mas, além de observar, não fez nenhum esforço a mais para chamar sua atenção. Pareciam ser mais ou menos da mesma idade, ter vinte e tantos ou trinta e poucos anos. Ela deixou que ele ficasse de pé ali até vê-la e se aproximar.

    Você é a Alice?, ele perguntou.

    Eu mesma, ela respondeu.

    Ah, eu sou o Felix. Desculpa o atraso.

    Em tom amável, ela disse: Não tem problema.”

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