“O homem do norte”, a ambiciosa epopeia viking de Robert Eggers, luta para cumprir suas promessas de autenticidade e profundidade intelectual. Eggers se esforçou ao máximo para garantir a precisão histórica, mas essa empreitada acadêmica parece mais uma estratégia de marketing do que uma contribuição significativa para a qualidade do filme. Enquanto os críticos podem aplaudir a extensa pesquisa, o valor real do filme está em sua estética, impacto emocional e satisfação geral, aspectos que parecem negligenciados em busca da autenticidade.

O filme gira em torno de Amleth, interpretado por Alexander Skarsgård, um príncipe viking que serve de modelo para o Hamlet de Shakespeare. Eggers se distancia da versão tradicional intelectual dinamarquesa e apresenta Amleth como um feroz guerreiro, em busca de vingança pela morte de seu pai e pelo sequestro de sua mãe por seu tio, que usurpou o trono. A história se desenrola com uma cinematografia deslumbrante que captura a dureza do reino Viking, mas essa beleza visual muitas vezes entra em conflito com a brutalidade e o gore cru retratados na tela, minando o sentido físico do filme.

Queremos experiência!

Apesar da extensa pesquisa e da atenção ao design de produção, “The Northman” não proporciona uma experiência sinestésica para o público. O filme não evoca sentidos além da visão, e sua trilha sonora pesada e inspirada nos Vikings tenta criar uma atmosfera emocional e física, mas parece forçada. Os objetos e cenários recebem atenção meticulosa, mas a direção parece mais focada em ilustrar a história do que em dar vida e textura às cenas.

O fardo da pesquisa e os desafios físicos enfrentados durante a produção também impactam as performances. O roteiro utiliza uma linguagem antiquada, sobrecarregando os atores com falas inexpressivas e aforismos grandiosos. A falta de uma estilização distinta e consistente para os personagens adiciona artificialidade à escrita e prejudica a capacidade dos atores de desenvolverem interpretações envolventes.

o homem do norte
Cena do filme “O homem do norte”, lançado em 2022 e disponível na Amazon Prime

A mitologia

Os elementos antropológicos e mitológicos do filme são apresentados mais como adições decorativas do que como contribuições substantivas para a narrativa. Uma antiga espada mágica é introduzida, mas permanece pouco explorada, tornando o ambiente místico e espiritual tão superficial quanto o físico. A decisão de Eggers de retroceder para uma versão pré-Shakespeareana de Hamlet tira do personagem sua complexidade e profundidade, resultando em uma falta de humor e sagacidade essenciais para compreender a obra de Shakespeare.

No final, “O homem do Norte” fica aquém de suas aspirações, pois o filme carece da profundidade e impacto emocional. A busca pela autenticidade ofusca os elementos principais do filme, resultando em uma experiência visualmente impressionante, mas, em última análise, deixa com um sabor desagradável. A épica Viking de Eggers é uma tentativa louvável, mas deixa o público ansiando por mais substância e conexão com os personagens e sua história.

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