“Cinderela Chinesa”, escrita por Adeline Yen Mah, foi publicada originalmente em 1999 e ganhou sua primeira edição no Brasil em 2000, pelo selo “Seguinte”, da Editora Companhia das Letras. Adeline, uma autora chinesa nascida em Tianjin, é conhecida por suas obras autobiográficas e seu olhar sensível perante si e o mundo.

    A atração que leva as pessoas a explorarem “Cinderela Chinesa” pode residir na curiosidade que o título evoca, claro. Mas o livro vai muito além, pois parte da experiência real e pessoal da própria autora.

    Cinderela Chinesa
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    O início da história se desenrola em torno da riqueza de sua família bilionária e da crueldade direcionada a jovem Adeline, que enfrenta a hostilidade de uma madrasta tão implacável quanto a figura clássica da Cinderela, assim como de seus irmãos e do próprio pai. A complexidade das relações familiares, combinada com a opressão vivida pela protagonista, cria um cenário envolvente e muitas vezes doloroso. Em alguns momentos, pode ser difícil continuar a leitura por tanto sofrimento vivenciado por Adeline, mas, acredite, vale a pena seguir em frente com o livro.

    Depois de um momento, perguntei: “Quando minha mamãe morreu?”. “Sua mãe caiu com febre alta três dias depois que você nasceu. Morreu quando você tinha duas semanas…” Ela hesitou um momento, depois exclamou de repente: “Como você está com as mãos sujas! Andou brincando na caixa de areia da escola outra vez? Vá lavar essas mãos, já! Depois volte e cuide da lição de casa!”. Fiz o que ela mandou. Embora eu tivesse apenas quatro anos de idade, entendi que não devia encher tia Baba com tantas perguntas sobre minha mamãe morta. A Irmã Grande uma vez me disse: “Tia Baba e mamãe eram as melhores amigas. Muito tempo atrás, as duas trabalharam juntas em um banco de Xangai que é de nossa tia-avó, a irmã mais nova de vovô Ye Ye. Mas aí mamãe morreu quando teve você. Se você não tivesse nascido, mamãe ainda estaria viva. Ela morreu por sua causa. Você dá azar”.

    trecho do livro “Cinderela Chinesa”

    Após ser enviada para um orfanato, Adeline encontra na arte, especialmente em um concurso internacional de peças teatrais, a oportunidade de mudar sua vida. Essa reviravolta na própria vida destaca a capacidade transformadora da expressão artística e sua influência na busca por redenção e liberdade.

    Em dezembro de 1941, quando os japoneses bombardearam Pearl Harbor, os Estados Unidos se envolveram na Segunda Guerra Mundial. Embora Tianjin estivesse ocupada pelos japoneses, a concessão francesa ainda era governada por funcionários franceses. Policiais franceses faziam patrulha, rugindo ordens em sua própria língua, que eles queriam que todo mundo entendesse e obedecesse. Em minha escola, madre Agnes nos ensinou o alfabeto e os números em francês. Muitas ruas em torno de nossa casa traziam nomes de heróis franceses mortos e santos católicos. Quando traduzidos para o chinês, esses nomes de ruas ficavam tão complicados que Ye Ye e Nai Nai muitas vezes tinham dificuldade para se lembrarem deles. Placas bilíngües de lojas eram comuns, mas os estabelecimentos mais exclusivos tinham placas apenas em francês. Nai Nai nos disse que esse era o jeito de eles deixarem claro que os chineses só eram aceitos quando encarregados de cuidar das crianças brancas.

    trecho do livro “Cinderela Chinesa”

    A história, de linguagem simples e acessível, com capítulos curtos e envolventes, ressalta a coragem e a perseverança de Adeline, elementos que a impulsionam a superar as adversidades em busca de uma vida melhor e feliz. A escritora, com essa sua autobiografia, se torna um exemplo inspirador de resiliência, enfrentando as dificuldades com determinação e utilizando suas habilidades como uma forma de expressão. Quando o livro termina, a vontade é de abraçar a autora.

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