Rubem Fonseca explorou temas como crime, corrupção e desigualdade social, oferecendo uma visão contundente da sociedade brasileira.

    Rubem Fonseca (1925-2020) foi um escritor brasileiro, nascido no Rio de Janeiro. Sua trajetória literária foi marcada por uma sólida formação acadêmica em direito, profissão que exerceu por muitos anos. No entanto, sua verdadeira vocação para a escrita o levou a explorar narrativas multifacetadas e intrincadas, construindo um legado significativo na literatura contemporânea brasileira.

    Fonseca emergiu como um autor inovador, destacando-se pelo estilo conciso e pela abordagem crua e direta de temas complexos. Sua obra, fortemente influenciada pela realidade urbana e pelos aspectos mais sombrios da condição humana, reflete uma perspicácia aguda e uma compreensão penetrante da psicologia humana:

    Os homens e mulheres no chão estavam todos quietos e encagaçados, como carneirinhos. Para assustar ainda mais eu disse, o puto que se mexer eu estouro os miolos.
    Então, de repente, um deles disse, calmamente, não se irritem, levem o que quiserem, não faremos nada.
    Fiquei olhando para ele. Usava um lenço de seda colorida em volta do pescoço.
    Podem também comer e beber à vontade, ele disse.
    Filha da puta. As bebidas, as comidas, as joias, o dinheiro, tudo aquilo para eles era migalha. Tinham muito mais no banco. Para eles, nós não passávamos de três moscas no açucareiro.

    Trecho do livro “Feliz Ano Novo”

    Ao longo de sua carreira, Rubem Fonseca consolidou sua reputação como um mestre na criação de tramas intricadas, muitas vezes ambientadas em cenários urbanos decadentes. Sua narrativa destaca-se pela economia de palavras e pela capacidade de evocar atmosferas densas e carregadas de tensão.

    Temas recorrentes na obra de Rubem Fonseca

    Fonseca explorou temas como crime, corrupção e desigualdade social, oferecendo uma visão contundente da sociedade brasileira. Sua prosa afiada e desprovida de ornamentos busca retratar a realidade de forma crua, desafiando convenções literárias e proporcionando aos leitores uma experiência literária intensa e provocativa.

    A contribuição de Rubem Fonseca para a literatura brasileira reside não apenas na maestria técnica, mas também na habilidade de expor as nuances mais obscuras da condição humana. Seu legado perdura como um testemunho da capacidade da literatura de transcender fronteiras, estimulando reflexões sobre a complexidade da vida contemporânea.

    “Eu disse que para alguns escritores a literatura deve ser doce e edificante, isto é, suficientemente açucarada e boa para agradar paladares delicados e refinar moral e espiritualmente o leitor, mas que o escritor não era um confeiteiro de bolos nem um pedagogo, os bons escritores, como Sade, enchiam o coração e as mentes dos leitores de medo e horror, porque a vida era isso, medo e horror.”

    Rubem Fonseca

    Conheça abaixo uma seleção com os melhores livros do autor:

    1. Feliz Ano Novo

    Rubem Fonseca

    Feliz Ano Novo, lançado em 1975, enfrentou a fúria da censura ao expor, por meio de uma coleção de contos contundentes, as feridas ocultas da sociedade. Tão poderosa foi sua mensagem que teve sua publicação proibida em todo o país, sendo recolhida pelo Departamento de Polícia Federal, numa tentativa desesperada de encobrir sua verdadeira fratura exposta. Os contos dessa obra-prima literária são um soco na consciência, revelando de forma ficcional as mazelas e injustiças que corroem os alicerces de nosso corpo social. Cada página desvenda a realidade amarga que o regime autoritário tentava esconder a qualquer custo. Mas a voz desses contos é imparável, ousada e imbuída de uma força transformadora. + AMAZON

    2. Bufo & Spallanzani (Rubem Fonseca)

    Rubem Fonseca

    A morte de Delfina Delamare causou comoção na alta sociedade do Rio de Janeiro. O caso foi notícia em jornais e revistas, que especularam sobre as circunstâncias do acontecimento. A traição ao marido poderia ser um dos motivos, e Guedes, policial encarregado da investigação, terá pela frente um dos casos mais difíceis de sua carreira. Deste mote aparentemente corriqueiro, o ex-comissário Rubem Fonseca, inigualável neste tipo de narrativa, cria uma trama que desconstrói o próprio gênero policial. A história é carregada de ironia e de crítica social, marcas da escrita fonsequiana… + AMAZON

    3. Agosto

    Rubem Fonseca

    Um dos maiores sucessos de crítica de Rubem Fonseca, Agosto nos propõe uma pergunta: em que medida a história de uma pessoa e a história de um país se determinam, se diferenciam e se assemelham? Ao misturar, com maestria, história e ficção, Rubem Fonseca demonstra que a resposta a essa pergunta, que não permite saídas fáceis, se encontra apenas na boa literatura. + AMAZON

    4. Os Prisioneiros (Rubem Fonseca)

    Autor que já surgiu maduro, Rubem Fonseca estreou na literatura em 1963 com Os prisioneiros. Com perfeito domínio da escrita, inaugurava uma nova maneira de fazer literatura no Brasil, ao falar do homem da metrópole com todos seus vícios e virtudes, em uma linguagem ao mesmo tempo direta e lírica. O que há em comum em seus personagens é a luta para preservar a liberdade interior, mesmo que todos sejam prisioneiros do lugar e do tempo em que vivem… + AMAZON

    5. O Caso Morel

    Romance policial, investigação sobre os limites do desejo, experimento narrativo, o primeiro romance de Fonseca parece um jogo de espelhos, em que os personagens se desdobram em dois, e também a história e o próprio narrador se dividem, sem que saibamos quais são os originais e quais são os reflexos. + AMAZON

    6. A Grande Arte (Rubem Fonseca)

    A obra apresenta o personagem Mandrake, advogado charmoso e de prestígio, que se envolve em uma trama no submundo carioca e no deserto boliviano ao juntar-se com um matador profissional, especialista em facas, na tentativa de desvendar o misterioso assassinato de uma prostituta. + AMAZON

    7. E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto

    Exímio estrategista da palavra, o autor realiza suas tramas abusando do uso de referências e autorreferências, e consegue, de forma elaborada e prazerosa, tornar uma novela de estrutura detetivesca um verdadeiro ensaio sobre a arte do texto.Publicado originalmente em 1997, E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto, título tirado de versos de Álvares de Azevedo, é um dos melhores exemplos da singular combinação de crueza e erudição que marca a obra de uma das grandes vozes literárias de nosso tempo. + AMAZON

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