Escolhi A Maçã no Escuro porque queria entender o nome: A Maça no Escuro – o que será que Clarice Lispector está querendo dizer? Essa foi a questão.

    O livro é divido em 3 partes: “Como se faz um homem”, “Nascimento do herói” e “A maçã no Escuro”. Na primeira parte o leitor não terá a mínima ideia do porque Clarice escolher esse nome, porém, é um ótimo início onde cada personagem é mostrado com muita beleza, onde só o fluxo de consciência é capaz de carregar essa missão. Clarice Lispector é tão espetacular quanto Virginia Woolf nesse sentido.

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    É maravilhoso mergulhar nas mentes das personagens. E esse mergulho permanece na segunda e terceira parte. Não poderia ser diferente tratando-se de Clarice Lispector, e é nisso que mora toda a mágica do livro: muitas vezes é necessário voltar à terra, recuperar o fôlego, reencontrar o equilíbrio de emoções e seguir no mar profundo da leitura.

    Personagens principais no livro “A maça no escuro”

    Os personagens principais: Martim, Vitória e Ermelinda têm algo em comum: a necessidade de compreender o que se faz em cada passo, mas esses passos são dados sem, necessariamente, ter entendido o passo anterior. Não sei se isso é claro para eles como pessoas, mas Clarice Lispector “rouba” a mente deles e apresenta ao leitor tudo organizado, preciso, bonito. E ao mesmo tempo: louco, confuso, torto, divino.

    E não há como se perder na história, pois é um mergulho na confusão da humanidade, um apocalipse do que pode ser e o que não é. Ao final do livro é possível ver nitidamente a maçã no escuro, como uma bela obra de arte.

    E o que mais se pode acrescentar perante isso? O leitor ficará anestesiado com a obra, pois a aproximação que Clarice permite para cada personagem, a cada página do livro, é algo que somente os grandes escritores conseguem… e ela se achava amadora!

    Clarice Lispector se considerava amadora

    Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade. […] Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora? O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.

    Clarice Lispector

    Sim, Clarice se achava amadora e afirmava gostar de ser assim porque se sentia livre para criar. Amém. Mas ela não tem nada de amadora e isso fica evidente no livro A Maçã no Escuro, devido à complexidade, à densidade, à consciência e o derrame perfeito de palavras para tentar compreender a vida, para tentar buscar um sentido.

    Sentido este que pode surgir de um ato mau para um bom ou de um bom para um mau. E, ao final, o importante mesmo não é encontrar o sentido e sim não ter medo de colher a maçã no escuro.

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