O filme Precisamos Falar sobre o Kevin foi lançado em 2012 no Brasil. Ele é baseado no romance de mesmo nome da escritora americana Lionel Shriver que, para mim, é a melhor escritora da atualidade. Eu estava muito curiosa para ver a versão para a telona e tentei não me deixar influenciar pelo velho clichê de que o livro é melhor que o filme. Eu juro que tentei. E até a metade do filme tudo estava caminhando bem. É claro, naturalmente, eu comparei o tempo todo – das cenas que não existiam às cenas modificadas, tudo, tudo. Os atores foram todos bem escolhidos, Tilda Swinton está fantástica no papel de Eva, porém, o que faz o romance de Lionel ser tão surpreendentemente bom eu não consegui ver com clareza no filme. O que vi foram algumas cenas soltas, diálogos fracos e um vácuo gigante que deveria ter sido preenchido com o principal do livro: a densa, dramática e psicológica narrativa da Lionel Shriver que torna toda a história da família Katchadourian profunda e trágica. Agora não me perguntem como isso poderia ser transportado para o filme, pois eu realmente não sei.

O livro conta a história do garoto Kevin, que aos 16 anos, torna-se autor de uma chacina em seu colégio. A partir deste ponto, a vida de Eva, mãe de Kevin, é totalmente transformada, para pior, evidente. E o livro começa quando Eva, esgotada de tudo o que lhe aconteceu, escreve cartas ao seu marido tentando entender o que foi a vida deles quando ela resolveu ser mãe. Há um impasse muito delicado na história, pois Eva nunca gostou de Kevin, seu próprio filho e, ao contrário do que seria natural, Lionel Shriver conseguiu construir uma personagem mulher, que mostra não amar o próprio filho logo nas primeiras páginas, não causar antipatia nos leitores. Chega a ser constrangedor a gente sentir empatia por uma personagem tão fria. Porém, a salvação de Eva é a sua sinceridade, muito diferente do marido que fingia não ter um filho problemático. Ela assume duramente a postura de carrasco perante a família perfeita vista pelos olhos do seu marido.

E claro, o personagem de Kevin é o mais enigmático, a criança sempre fora terrível, fria, manipuladora, sarcástica, cruel, desafiadora e, acredite, nutria de um certo respeito por Eva, que era a única pessoa que chegou um pouco mais perto da verdadeira identidade do filho, mesmo esse “perto” ser como um mísero centímetro.

Há muitos ingredientes que constróem um bom romance, desde os personagens, o clímax, o “nó” da história, seu desfecho, a narrativa, enfim, é um conjunto muito difícil de ser construído para levar um romance ao status de obra-prima, que é o caso de “Precisamos Falar Sobre o Kevin”. É como um labirinto de dominós, se tirarmos alguma peça, tudo pode cair e isso, infelizmente, aconteceu no filme, numa das últimas semanas: um “presente” que Kevin entrega para Eva, dando todo o clima macabro na história não aparece no filme. Não aparece no filme.

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