“Notas Sobre o Abismo”, escrito por Rosário Nascimento e Silva, é um livro que provoca inquietações profundas no mundo dos amantes da leitura. A obra aborda um tema que causa desconforto e reflexão: o destino do livro tradicional diante do surgimento dos tablets e da leitura de livros digitais.

Com uma visão perspicaz e um estilo de escrita envolvente, Rosário Nascimento e Silva explora as complexidades dessa mudança na maneira como nos relacionamos com a literatura, ao mesmo tempo em que nos faz questionar o que o livro tradicional pode fazer para se manter relevante em um mundo cada vez mais digital. Neste cenário de transição literária, “Notas Sobre o Abismo” oferece uma perspectiva esclarecedora e provocativa.

O assunto que causa desconforto para os amantes do livro é sobre o fim dele após o surgimento dos tablets, que permitem a leitura de livros digitais. Os pontos principais que pretendem levar essa afirmativa à única verdade são o custo baixo e o fácil manuseio. Mais de 50 livros levados dentro de uma pequena bolsa, armazenados em diversos formatos (pdf, ePUB, HTML, etc), que antes parecia mágica da saga Harry Potter, os tablets transformaram em realidade.

Designer leve, fino e elegante de encontro ao livro tradicional, pesado e espaçoso. O que pode fazer o livro tradicional para não morrer? A resposta eu encontrei lendo Notas Sobre o Abismo (Editora Dublinense), escrito por Rosário Nascimento e Silva (1949 – 2010), que foi atriz, cineasta e escritora, claro.

Em Notas Sobre o Abismo, o que temos é uma experiência diferente, principalmente aos acostumados com capa, contracapa e, no meio, textos em fonte Times New Roman tamanho 10. Afirmo isso porque na primeira metade do livro vivi uma experiência nova, pois cada página é diferente da outra – cores, fontes, textos – e essa diferença contribui para a compreensão de toda a obra, que passa para o formato tradicional a partir da página 90. É como se o início representasse o caos que o escritor vive até encontrar a tranquilidade para dispor sua obra em linhas retas e simples.

As cores, os formatos e o papel são tão importantes quanto o tema e o texto em si, pois eles que completam a leitura: precisei mudar o olhar em cada página, precisei mudar a posição do livro em minhas mãos e o simples gesto de virar a página ganhou uma força maior, como se meu movimento interferisse no abismo que o livro me apresentava. O abismo que eu segurava com as minhas mãos. O livro deixou de ser meramente papel e texto.

Notas sobre o abismo

Portanto, se as editoras quiserem manter no mercado o tradicional livro em papel, acredito que será necessário um maior cuidado com o projeto gráfico, assim como fez Humberto Nunes: desenho caprichado, papel bonito e capa bem feita. Notas Sobre o Abismo, criou uma experiência nova para a leitura que dificilmente um tablet conseguirá alcançar em igual proporção.

O nome: notas sobre o abismo, em meio ao caos, que tenta encontrar no acúmulo de atitudes impulsivas uma coerência que segure a linha tênue que é a vida, a escritora apresenta textos em linhas tortas até que, como o fim de uma tormenta em alto mar, tudo se revela claro, limpo e bonito.

Por fim, ela fala da mulher e suas diferentes máscaras: da mulher sem amor, da mulher desamparada, da mulher e mãe, da mulher assassina, da mulher amada, da mulher que apenas pretende sobreviver ao abismo, tão caótico e incoerente, mas fundamental para o encontro com a serenidade.

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