Em seu livro “Meu coração desnudado”, o poeta Charles Baudelaire lança luz sobre a eterna batalha contra o tempo. Em um trecho marcante, ele nos conduz por uma reflexão profunda sobre os dois caminhos possíveis para escapar da tirania do relógio: o prazer e o trabalho. Em meio a essa dicotomia, Baudelaire nos convida a uma jornada introspectiva, onde cada escolha nos confronta com o dilema entre consumo e fortalecimento, entre a fugacidade do momento e a construção de algo duradouro. Nessa obra atemporal, somos desafiados a confrontar nossa própria relação com o tempo e a descobrir, pouco a pouco, os segredos da existência.

    Charles Baudelaire foi um poeta francês que viveu entre 1821 a 1867. Ele é considerado, junto de Walt Whitman, fundador da tradição moderna na poesia. Sua vida, boêmia e escandalosa, é comentada até os dias de hoje.

    Recebi da Editora Autêntica o livro “Meu Coração Desnudado” (tradução e organização de Tomaz Tadeu), que contém anotações do poeta que, na época, foram encontradas em pequenos papéis soltos e transformadas num livrinho muito interessante. Entre frases que parecem soltas e incompletas, é possível captar o estilo incisivo de Baudelaire e também o formato social e político da época.

    meu coração desnudado

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    Somos a cada momento, atropelados pela ideia e pela sensação do tempo. E só há dois meios de escapar desse pesadelo, de esquecê-lo: o prazer e o trabalho. O prazer nos consome. O trabalho nos fortifica. Escolhamos.
    Quanto mais nos servimos de um desses meios, mais o outro nos inspira repugnância.
    Só podemos esquecer o tempo se o utilizamos.
    Nada se faz senão pouco a pouco.

    Este trecho de “Meu coração desnudado” de Charles Baudelaire reflete uma profunda reflexão sobre a natureza do tempo e as maneiras pelas quais os seres humanos lidam com sua passagem incessante. Baudelaire apresenta duas opções fundamentais para escapar da tirania do tempo: o prazer e o trabalho.

    O prazer é retratado como algo que nos consome, que nos absorve completamente no momento presente, proporcionando uma fuga temporária das preocupações e ansiedades relacionadas ao passado e ao futuro. No entanto, essa fuga é fugaz e passageira, não oferecendo uma solução permanente para a questão do tempo.

    Por outro lado, o trabalho é visto como algo que nos fortalece, que nos permite construir algo duradouro e significativo. O trabalho nos envolve em atividades que demandam concentração e esforço, nos tirando da consciência do tempo ao mesmo tempo que nos oferece um senso de propósito e realização.

    Baudelaire sugere que, ao escolher entre o prazer e o trabalho como meios de escapar do tempo, inevitavelmente nos encontramos em um estado de conflito interno. Quanto mais nos dedicamos a um desses meios, mais repugnância sentimos pelo outro, como se estivéssemos tentando compensar a falta de um com o excesso do outro.

    No entanto, Baudelaire também aponta que a única maneira verdadeira de esquecer o tempo é utilizando-o, sugerindo que só podemos transcender a consciência do tempo ao nos envolvermos ativamente com o mundo ao nosso redor, seja através do prazer ou do trabalho. E, assim como o tempo passa pouco a pouco, todo progresso e realização também acontecem gradualmente, ressaltando a importância da persistência e da paciência na busca por uma fuga temporária da incessante marcha do tempo.

    Charles Baudelaire. Meu Coração Desnudado. Editora Autêntica, p. 82.

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